quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

“Há já quem passe fome”,

  “Há já quem passe fome”, alerta religiosa portuguesa perante o agravamento da crise económica no país

“A situação está cada vez pior, as pessoas estão quase a passar fome, há já [mesmo] quem passe fome…”, diz, ao telefone para Lisboa, a irmã Maria Lúcia Ferreira que pertence à Congregação das Monjas da Unidade de Antioquia.

Desde o mosteiro onde vive, na vila de Qara, relativamente perto da fronteira com o Líbano, esta religiosa portuguesa explica que a crise económica se tem vindo a agravar na Síria de dia para dia, fruto não só de uma década de guerra mas também das sanções económicas impostas ao regime de Bashar al Assad e às consequências também da pandemia do coronavírus.

Diz a irmã Myri – como também é conhecida a religiosa – que “tudo está cada vez mais caro”, e que, a assim, “é muito difícil viver”. A crise económica está a atingir toda a sociedade. No relato enviado para a Fundação AIS, a irmã explica que são muito frequentes e prolongadas as quebras no fornecimento de electricidade, mas também é cada vez mais difícil encontrar combustíveis para os automóveis mas também para o aquecimento das casas.

“A electricidade às vezes passa 12 horas sem vir e quando vem às vezes é só por meia hora”, diz, acrescentando que “também é muito difícil encontrar gasolina… as pessoas estão na fila à espera e não encontram”. “Também o ‘mazut’ [óleo] para as pessoas se aquecerem é muito difícil… Tudo o que é carburantes é muito difícil [de encontrar], assim como aqui na região não há muita madeira.”

Semelhante ao relato da religiosa portuguesa, a irmã Annie Demerjian, da Congregação de Jesus e Maria, disse ao secretariado britânico da Fundação AIS que “as pessoas estão com fome, não têm o que comer”. E destaca, tal como a irmã Myri, as falhas constantes no fornecimento da energia. “Apenas a cada duas horas temos uma hora de electricidade. Isso não é suficiente para aquecer uma casa. Não há gás suficiente para cozinhar alimentos.”

As palavras da irmã Annie, responsável há quase uma década pelas campanhas da Fundação AIS nas cidades de Aleppo e Damasco, são um sinal de alerta para um país que está em crise e que vê essa situação a agravar-se. “O mundo começou a esquecer-se da Síria e isso é doloroso.”

Perante este cenário descrito pelas duas religiosas, as irmãs Annie Demerjian e Maria Lúcia, ganha ainda mais relevo o trabalho humanitário que a Fundação AIS tem vindo a promover na Síria, permitindo que famílias mais empobrecidas possam ter acesso a bens essenciais como leite para as crianças, alimentos, medicamentos e acesso a cuidados de saúde e produtos de higiene pessoal.

A ajuda da Fundação AIS abrange actualmente 273 famílias em Aleppo e mais de uma centena em Damasco, a capital da Síria. “Graças ao apoio da Fundação AIS, podemos dar-lhes todos os meses ajuda de subsistência básica, incluindo vales para a compra de artigos essenciais como comida e gás para cozinhar”, explicava a irmã Annie em Novembro, quando a Fundação AIS lançou a campanha de Natal em que se ofereceram blusões a milhares de crianças que vivem nas cidades de Damasco e Aleppo, mas também em Homs, Kameshli, Hassakeh, Swidaa e Horan.

Na mensagem, a irmã Annie referia que a ajuda disponibilizada através da Fundação AIS tinha também muito presente as necessidades das populações mais idosas. “ Agora, com o Inverno, compramos esterilizadores e medicamentos. Também ajudamos em algumas cirurgias essenciais. Às vezes isso inclui itens básicos, mas indispensáveis, como fraldas para incontinência para pessoas doentes e idosas”, explicava a religiosa que já esteve no nosso país a convite da Fundação AIS e que não perde uma ocasião para dizer que tem Portugal e os portugueses no seu coração.

 

 

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