«Fazei brilhar sobre mim a vossa face, salvai-me pela vossa misericórdia.»
Desde os primórdios do cristianismo que as igrejas do oriente precedem os quarenta dias de jejum e preparação para a Páscoa (a Quaresma) por três semanas de penitência preparatória. Assim, ao Domingo que precede a Quarta-feira de Cinzas deu-se o nome de Quinquagésima e aos anteriores Sexagésima e Septuagésima, respetivamente. Este aumento do tempo de jejum parece ter tido origem monástica, onde era efetivo enquanto para a sociedade civíl consistia na intensificação da Oração, para além de alguma ascese litúrgica. Do Oriente passou à Península Ibérica e à Gália, e, a seguir, finalmente, a Roma e ao resto do Ocidente no séc. VI. Pode ter sido inspirado pelo desejo de prolongar a preparação penitencial, de modo que os quarenta dias de jejum, propriamente ditos, fossem completos, descontando não só os domingos, mas também os sábados, dias em que em algumas regiões pouco se jejuava.
A Quinquagésima coincide precisamente com o Carnaval, época tradicionalmente associada em Roma (ou em Veneza, onde a tradição persistiu) a práticas vergonhosas. Isto espoletou uma reação em desagravo à Divina Misericórdia pelos excessos das festas: a devoção das Quarenta Horas de adoração eucarística.
Os pais de Santa Teresinha de Lisieux tiveram esta devoção à Sagrada Face de Jesus sempre presente no seu lar e bem souberam transmiti-las às suas filhas. De tal modo que, ao entrar para a vida religiosa, a filha mais nova toma o nome de Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face. No Brasil, o Carnaval também é uma tradição bem estabelecida e cada vez menos dignificante para o ser humano. Por isso, o Papa Pio XII proclamou esta festa com maior importância nesse país, para que ele reparasse com mais atenção os ultrajes cometidos. Procuremos nestes dias visitar o sacrário e oferecer uma hora de oração reparadora em desagravo pelas ingratidões cometidas contra o Rosto Misericordioso de Jesus. É atentos ao alto preço por que fomos comprado que devemos, nesta terça-feira de carnaval, nos apresentar diante de Cristo sofredor e desagravar-lhe a face santíssima com nossas orações e nossos sacrifícios.
Comecemos por ler este poema, última secção da célebre Oração Rítmica composta pelo abade cisterciense Arnulfo de Leuven, bem alinhada com a espiritualidade de S. Bernardo:
Salve, caput cruentatum,
totum spinis coronatum,
conquassatum, vulneratum,
arundine verberatum
facie sputis illita.Dum me mori est necesse,
noli mihi tunc deesse,
in tremenda mortis hora
veni, Jesu, absque mora,
tuere me et libera.Cum me jubes emigrare,
Jesu care, tunc appare,
o amator amplectende,
temet ipsum tunc ostende
in cruce salutifera.
Amen.
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