quinta-feira, 12 de agosto de 2021

“ Às vezes … olhamos para ontem para ver o amanhã”

 

                                PROSA LÍMPIDA COMO A ÁGUA DOS RIBEIROS DO GERÊS

 

                     “ Às vezes … olhamos para ontem para ver o amanhã”

 

    É esta a dedicatória que escreveu em “ Rio Abaixo”, o Cónego João Aguiar dirigida à Luísa e a mim. Que retrato pintado  em letras tão perfeito que  fez o nosso querido Amigo de uma realidade tão esquecida e que nos é tão cara!

   Quando li a citada dedicatória, recordei um velho provérbio africano que diz: “ Se não sabes para onde vais, lembra- te, então, de onde vens”.

  Não podemos nem devemos esforçarmo-nos por viver hoje do e no  passado“, ontem”. O que passou , passou, mas deixou as suas marcas. Cada um de nós traz em si as suas raízes e não só as de natureza genética.

  Mas tratarei do livro cuja leitura, aos bocadinhos como deve ser, onde ficou registada a referida e “filosófica” dedicatória que , só ela, merece uma séria reflexão, sobremodo nestes tempos de amnésia colectiva. Os meus concidadãos, tantos e tantos, acham que Portugal nasceu em 25.IV.1974, em que quase 900 anos de História não devem ser conhecidos. Outros, muitos católicos, defendem que a Igreja nasceu com o II Concílio do Vaticano, com leitura dos textos adaptados ao seu modo. E por aí adiante! Não, na história humana terá de haver uma hermenêutica da continuidade e não de ruptura. A nossa História, o nosso agir ou pensamento são devedores de tudo o que nos precedeu. E como é bom e salutar nunca esquecer o passado, para evitar os erros cometidos ou para aperfeiçoar as virtudes vividas. Nada começa do vazio a quem a Natureza tem horror.

 “ RIO ABAIXO” é livro de leitura imprescindível para todos os meus coetâneos. É fácil de ler ( textos curtos e aprazíveis de ler). Ensina-nos a ver a importância de “ pormenores” da vida . A olhar para a Natureza tão desprezada com olhos de “ mais além”. Convoca-nos para usufruirmos dos pequenos detalhes que os nossos olhos poluídos já não podem ou querem ver e de que a Natureza é pródiga e tanto , hoje, nos poderiam ajudar a viver num mundo, o nosso, tão falsamente arraigado à “ defesa da Natureza”, quase idolátrico mas que não consegue  e não deseja alcançar mais que “ objecto” que diz defender.

  “ RIO ABAIXO”, na linha de toda a muita e excelente obra de João Aguiar, é um livro que irá ficar na história da Literatura quando esta “ sanear” e deitar ao lixo o lixo que se tem produzido e que é apregoado como Ecologia que odeia o Homem. Como me faz lembrar Miguel Torga ao ler a obra de João Aguiar e a que esta obra não escapa (e ainda bem)! Literatura enxuta, sem grandes adjectivações e prazerosa de ler.

 “ RIO ABAIXO” é um livro de um atento e delicado observador dos pequenos pormenores de que a vida, e sobretudo a vida rural da sua ( e minha) infância, que nos convida a através de uma folha , do correr da água do rio, de um passarito, do quotidiano de uma aldeia da serra a olhar ,mais alto, mais além, para o Além , o totalmente Outro.

   “ RIO ABAIXO” tem-me servido de livro de meditação e de oração.

   Só um verdadeiro apaixonado de Deus sabe escrever sobre as coisas simples da vida a que nós, homens e mulheres do século XXI já não somos capazes.

  Obrigado Padre João ( Senhor Cónego João Aguiar!) por tanto e tanto que nos dá ( sugiro aos meus leitores que leiam os “posts” que diariamente coloca no Facebook  ). Um pedido: continue a dar-nos as suas pérolas que nem todos nós somos … porcos.

  Esta prosa, deixem-me dizer, é como a água límpida dos rios e ribeiros do Gerês: bebamo-la!

Carlos Aguiar Gomes

 

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