PROSA LÍMPIDA
COMO A ÁGUA DOS RIBEIROS DO GERÊS
“
Às vezes … olhamos para ontem para ver o amanhã”
É esta a dedicatória que
escreveu em “ Rio Abaixo”, o Cónego João Aguiar dirigida à Luísa e a mim. Que
retrato pintado em letras tão perfeito
que fez o nosso querido Amigo de uma
realidade tão esquecida e que nos é tão cara!
Quando li a citada dedicatória,
recordei um velho provérbio africano que diz: “ Se não sabes para onde vais, lembra- te, então, de onde vens”.
Não podemos nem devemos
esforçarmo-nos por viver hoje do e no
passado“, ontem”. O que passou , passou, mas deixou as suas marcas. Cada
um de nós traz em si as suas raízes e não só as de natureza genética.
Mas tratarei do livro cuja
leitura, aos bocadinhos como deve ser, onde ficou registada a referida e
“filosófica” dedicatória que , só ela, merece uma séria reflexão, sobremodo
nestes tempos de amnésia colectiva. Os meus concidadãos, tantos e tantos, acham
que Portugal nasceu em 25.IV.1974, em que quase 900 anos de História não devem
ser conhecidos. Outros, muitos católicos, defendem que a Igreja nasceu com o II
Concílio do Vaticano, com leitura dos textos adaptados ao seu modo. E por aí
adiante! Não, na história humana terá de haver uma hermenêutica da continuidade
e não de ruptura. A nossa História, o nosso agir ou pensamento são devedores de
tudo o que nos precedeu. E como é bom e salutar nunca esquecer o passado, para
evitar os erros cometidos ou para aperfeiçoar as virtudes vividas. Nada começa
do vazio a quem a Natureza tem horror.
“ RIO ABAIXO” é livro de leitura
imprescindível para todos os meus coetâneos. É fácil de ler ( textos curtos e
aprazíveis de ler). Ensina-nos a ver a importância de “ pormenores” da vida . A
olhar para a Natureza tão desprezada com olhos de “ mais além”. Convoca-nos
para usufruirmos dos pequenos detalhes que os nossos olhos poluídos já não
podem ou querem ver e de que a Natureza é pródiga e tanto , hoje, nos poderiam
ajudar a viver num mundo, o nosso, tão falsamente arraigado à “ defesa da
Natureza”, quase idolátrico mas que não consegue e não deseja alcançar mais que “ objecto” que
diz defender.
“ RIO ABAIXO”, na linha de toda a muita e
excelente obra de João Aguiar, é um livro que irá ficar na história da
Literatura quando esta “ sanear” e deitar ao lixo o lixo que se tem produzido e
que é apregoado como Ecologia que odeia o Homem. Como me faz lembrar Miguel
Torga ao ler a obra de João Aguiar e a que esta obra não escapa (e ainda bem)!
Literatura enxuta, sem grandes adjectivações e prazerosa de ler.
“ RIO ABAIXO” é um livro de um
atento e delicado observador dos pequenos pormenores de que a vida, e sobretudo
a vida rural da sua ( e minha) infância, que nos convida a através de uma folha
, do correr da água do rio, de um passarito, do quotidiano de uma aldeia da
serra a olhar ,mais alto, mais além, para o Além , o totalmente Outro.
“ RIO ABAIXO” tem-me servido de
livro de meditação e de oração.
Só um verdadeiro apaixonado de
Deus sabe escrever sobre as coisas simples da vida a que nós, homens e mulheres
do século XXI já não somos capazes.
Obrigado Padre João ( Senhor
Cónego João Aguiar!) por tanto e tanto que nos dá ( sugiro aos meus leitores
que leiam os “posts” que diariamente coloca no Facebook ). Um pedido: continue a dar-nos as suas
pérolas que nem todos nós somos … porcos.
Esta prosa, deixem-me dizer, é
como a água límpida dos rios e ribeiros do Gerês: bebamo-la!
Carlos Aguiar Gomes
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