AAinda terei os “ parafusos” bem apertados ou faltam-me
alguns?...
Os
meus leitores conhecem a expressão popular para designar alguém cujos
raciocínios fogem do equilíbrio. Eu, neste tempo de caos mental, ditadura
declarada sobre pensamento, sinto-me
assim um pouco “ desaparafusado”. Creio que não estou afinado pelas nomas vigentes totalitárias e que
varrem todo o Ocidente. Sinto-me um “ borderline”.
Vou tentar explicar, primeiro contando um facto que vivi há já uns anos
e depois um facto que eu li, dia 9 de Setembro p.p.
Facto vivido: ano de 1974/75. Liceu de Paços de Ferreira onde fui
colocado como Professor Efectivo do Ensino Liceal. No dia em que me apresentei
fui obrigado a aceitar ser “ Presidente do Conselho de Gestão” do dito Liceu.
Contrariamente ao que se passou nessa altura, o ano lectivo decorreu na
normalidade anormal que se vivia. Não houve nada de grave a não ser episódios “
light” do que se passava no país.
Um dia, o encarregado da Biblioteca ( meia dúzia de livros) veio
pedir-me autorização para cumprir uma Directiva do Ministério da Educação:
queimar todos os livros que constavam numa lista que o “ sábios democratas” do
citado Ministério tinha enviado para execução imediata. A minha ordem, firme,
foi:” Comigo o senhor não queima nenhum livro. Os livros não se queimam. Nem
um!”. O homem ficou atarantado pois entendia que seria de cumprir pois vinha do
Ministério da Educação. Repeti-lhe a minha ordem e completei-a: “ Se estes
livros incomodam, então, faça o favor, de os colocar na estante mais alta, pois
assim não incomodam ninguém, nem as “ almas sensíveis”.
Tenho alguns milhares de livros que herdei, comprei ou me foram
oferecidos ao longo da minha longa vida. Destes, dos que me foram ofertados,
nem todos são do meu agrado e, por isso, não os li nem tenciono vir a ler. Mas
estão bem colocados e estimados nas estantes. Não concebo que se possam fazer “
autos de fé” a livros! Tenho uma grande paixão por livros, assim, como poderia
permitir que alguns, da situação acima referida, pudessem ser destruídos e pelo
fogo? Nunca!
Assim sendo, causou-me revolta profunda uma notícia que li num recorte de um jornal do dia 9 p.p. que um
amigo me enviou. Ei-la ( parte):
Cerca de 5000 livros, entre os quais álbuns do Tintim e do Asterix foram
retirados da Biblioteca de um colégio Católico e queimados. E tudo para não
ferir as susceptibilidades dos povos autóctones do Canadá. Está traçado neste
país, um caminho para milhões de livros, enciclopédias, romances ou banda
desenhada: serem destruídos na fogueira dos novos inquisidores .
Mas, não contentes com este tipo de destruição vai ser instaurado uma “
cerimónia de purificação pelas chamas”. Creio que será como uma espécie de
liturgia laica. “ Assim enterramos as cinzas do racismo , da discriminação e
dos estereótipos na esperança de
crescermos num país inclusivo em que todos poderão viver na prosperidade e em
segurança”. Que loucura! Que retrocesso civilizacional!
Mas
por cá as coisas estão já a preparar-se: proposta de destruição do monumento
aos Descobrimentos ou a iluminação que brilhou na mente da deputada Joacine ao
sugerir recentemente que do Parlamento
fossem retiradas todas as telas que exaltam os feitos heroicos de Portugal, por
incitarem a xenofobia e racismo… E não se lembrou ( ou ainda não arranjou
coragem?) para eliminar da bandeira de Portugal o escudo central, da selecção
de futebol não usar camisolas com a Cruz de Cristo ou acabar com o Hino
Nacional que exalta os “ Heróis do Mar” , o “ Nobre Povo” e a “Nação valente e
imortal”…
Também irão propor um “auto de fé” para reduzir a cinzas todas as
edições dos LUSÍADAS? A ver vamos!
Perante esta onda de loucura generalizada,
interrogo-me se o defeito é meu por ter sido desaparafusado ou me faltarem alguns
parafusos.
O
filósofo alemão , Heinrich Heine) deixou-nos um pensamento que vou transcrever para terminar este
artigo:
“ Onde se queimam livros acaba-se por
se queimar os homens”
Carlos Aguiar Gomes
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