Do Sermão de São Leão Magno, papa, sobre as Bem-aventuranças
(Séc. V)
A bem-aventurança do reino de Cristo
Depois de ter exaltado a bem-aventurança da pobreza, o Senhor continuou, dizendo: Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. O pranto que aqui tem a promessa da consolação eterna não é certamente a tristeza deste mundo; nem são lágrimas derramadas pelos filhos dos homens na sua dor que os tornam felizes. Muito diversa é a natureza dos gemidos dos santos, como é diversa a causa das lágrimas bem-aventuradas. A tristeza religiosa é a que chora os próprios pecados ou os alheios; esta tristeza não procede do temor da justiça divina, mas da pena que lhe provoca a iniquidade humana. Efectivamente, é mais de lamentar quem faz o mal do que quem o sofre, porque a maldade do homem iníquo atrai sobre si o castigo, ao passo que a paciência do justo leva-o à glória.
O Senhor diz ainda: Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra como herança. Aos mansos e pacientes, aos humildes e modestos e aos que estão dispostos a suportar todas as injúrias é prometida a posse da terra. Não deve ser considerada pequena ou desprezível esta herança, como se pudesse ser separada da pátria celeste, porque se trata aqui daqueles que hão-de entrar no reino dos Céus. Portanto, a terra prometida aos mansos e que será dada aos pacientes, refere-se aos corpos dos santos que, como prémio da sua humildade, serão transformados na bem-aventurada ressurreição e revestidos na glória da imortalidade. Esta carne, assim revestida de imortalidade, em nada será contrária ao espírito, mas estará sempre em unidade perfeita e consentimento pleno com a alma. Então o homem exterior será domínio santo e pacífico do homem interior.
Os mansos possuirão a terra numa paz perpétua e nunca verão diminuídos os seus direitos, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade e este corpo mortal se revestir de imortalidade; deste modo, a tribulação converter-se-á em prémio e a adversidade em honra.
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