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VENEZUELA:
Bispos denunciam “emigração forçada de quase seis milhões de compatriotas”
Lisboa, 21 de Janeiro de 2022 | PA
“É um pecado que clama ao céu querer manter o poder a todo o custo e pretender prolongar o fracasso e a ineficiência destas últimas décadas: é moralmente inaceitável!” A frase é do Arcebispo de Cumaná, D. Jesús González de Zárate, após a assembleia plenária dos bispos venezuelanos que terminou a 13 de Janeiro.
No final dos trabalhos, D. Jesús, que é agora também o presidente da Conferência Episcopal, fez alguns comentários sobre a situação no país no seguimento da publicação de uma Carta Pastoral em que a Igreja analisa a situação político-social na Venezuela.
Citado pela agência católica de notícias Gaudium Press, o Arcebispo refere três realidades que considera “escandalosas” no país. “O desmantelamento das instituições democráticas e das empresas estatais”, é uma delas, tal como o “êxodo dramático devido à emigração forçada de quase seis milhões de compatriotas”. Para o responsável da diocese de Cumaná, é impossível não criticar também “a pobreza” em que vive “a grande maioria” do povo, com particular ênfase “na desnutrição infantil e nas situações de injustiça vividas pelos idosos”.
As palavras do prelado são particularmente críticas face à constatação de que, ao lado da miséria que afecta grande parte da população, há situações de opulência que se tornam difíceis de entender e aceitar. O Arcebispo denuncia a existência de “investimentos consideráveis que estão a ocorrer no país e que beneficiam apenas algumas pessoas ou grupos de investidores em áreas inacessíveis à maioria empobrecida da população”, e o aparecimento, em algumas cidades, de “casinos e casas de jogo, bares, restaurantes e hotéis, casas e edifícios luxuosos…”
D. Jesús González de Zárate não se coíbe de afirmar que, num país com tantos problemas, “o luxo e o desperdício que uns poucos ostentam ofendem a Deus e aos nossos irmãos, mas com maior força neste tempo de crise global e pandemia que o país atravessa”.
Estas palavras apresentam o mesmo tom crítico das declarações de D. Raul Biord, Bispo de La Guaira, que no final do ano passado esteve em Königstein, na Alemanha, na sede internacional da Fundação AIS.
Na ocasião, D. Raul descreveu um país à beira da ruptura com a Igreja a procurar ajudar os mais pobres, os mais afectados pela crise, sem nunca esquecer todos os que se viram obrigados a deixar a pátria e que se encontram também a atravessar sérias dificuldades.
“O número de Venezuelanos que partiram aproxima-se dos sete milhões. É a maior migração da história moderna do país”, disse D. Raul, sublinhando que este fluxo migratório tem menos de uma década, o que ajuda a perceber a dimensão da tragédia social que está na sua origem. “A vida de todos os migrantes é sempre difícil e dolorosa. As pessoas não saem do seu país porque querem; fazem-no para fugir da fome, da violência, da guerra, da falta de condições de vida, da perda de expectativas de futuro…” Apesar da profunda crise que se vive na Venezuela, com a economia paralisada por uma hiperinflacção, o Bispo de La Guaira revelou o empenho de todos, na Igreja, no auxílio aos mais desfavorecidos, aos que foram apanhados na armadilha da pobreza extrema.
Todos estão de mangas arregaçadas, prontos a ajudar, a minimizar o sofrimento dos que estão de mãos vazias e tantas vezes já sem esperança, disse o prelado à Fundação AIS. “Padres, religiosos, catequistas, trabalhadores pastorais e voluntários a nível paroquial esforçam-se por estar perto das pessoas, especialmente dos mais pobres. A Igreja está empenhada, nas várias dioceses e paróquias, em ajudar os mais necessitados através de diferentes programas alimentares para crianças carenciadas e idosos…”
Nestas palavras de D. Raul, em Königstein, sede internacional da Ajuda à Igreja que Sofre, esconde-se um verdadeiro programa de assistência social. Todos estão mobilizados na gigantesca tarefa de salvar vidas, de dar esperança, de estender a mão aos que precisam mais de ajuda.
“Há também muitas sopas dos pobres em muitos lugares, paróquias, centros de saúde [da Igreja], onde milhares de voluntários ajudam os mais vulneráveis todos os dias. Uma das tarefas mais importantes é manter a esperança viva, como fez a Virgem Maria no sopé da cruz. Sabemos que o bom Senhor não pode abandonar-nos na nossa hora de necessidade, que ele está aqui, e que ele não nos deixará sozinhos”, disse ainda D. Raul.
O Bispo de La Guaira não se esqueceu de agradecer também o apoio que a Fundação AIS tem vindo a dar ao longo dos últimos anos à Igreja da Venezuela. “Agradeço à AIS a sua cooperação, a qual nos permitiu descobrir, que, através de gestos concretos, somos verdadeiramente uma Igreja Católica, fraterna e universal.”
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