terça-feira, 4 de outubro de 2022

IGREJA PERSEGUIDA!

 Nove cristãos raptados e igreja incendiada e reduzida a cinzas nos Camarões

“Que Deus tenha piedade…”

Foi um ataque brutal. Cinco padres, uma irmã e três leigos foram raptados

na aldeia de Nchang, Diocese de Mamfé, nos Camarões. Foram raptados

por homens armados a 16 de Setembro. Para que não restassem dúvidas

sobre o alvo do ataque, a igreja foi também queimada. Ficou em ruínas,

irreconhecível. Mal soube do ataque, o Bispo foi lá salvar o Santíssimo

Sacramento. Destruíram o edifício, mas o essencial ficou intacto…

O vídeo tem menos de dois minutos. Vê-se o Bispo, D. Aloysius Fondong Abangalo, e

por vezes um outro sacerdote. Não há palavras. Não são precisas palavras. Mal se

percebe que aquele edifício que está em ruínas foi uma igreja. O templo sucumbiu ao

calor das chamas, as madeiras calcinaram, as paredes estão escurecidas. A Igreja de

Santa Maria, na aldeia de Nchang, na Diocese de Mamfé, é um escombro depois do

ataque, violento, por homens armados, a 16 de Setembro. No dia seguinte, o Bispo foi

lá. O vídeo, enviado para a Fundação AIS, mostra-o a caminhar com cautela, entre

ruínas, até parar junto ao Sacrário. A igreja foi destruída, mas o Sacrário sobreviveu

intacto. D. Aloysius pega numa chave e abre-o. Com cautela, retira o cálice que guarda

as hóstias consagradas, o verdadeiro tesouro da igreja. O incêndio criminoso queimou

tudo, mas não tocou no essencial. “Fui buscar o Santíssimo Sacramento, para o manter

seguro e o levar para a casa do bispo”, diz. O incêndio na Igreja de Santa Maria, em

Nchang, foi apenas um dos sobressaltos por que passou o Bispo. Ao mesmo tempo em

que as chamas foram ateadas, homens armados – julga-se que ligados ao grupo que

luta pela independência da região anglófona dos Camarões – raptaram nove pessoas

da paróquia. Cinco padres, uma religiosa e três leigos. Em troca das suas vidas, exigem

o pagamento de um resgate. Todos eles dedicaram as suas vidas ao serviço dos outros,

sempre de forma gratuita, sempre com amor. “O que aconteceu aqui é uma

abominação. Penso que não se contentaram em tentar a paciência dos homens, e

agora estão a tentar a paciência de Deus. É uma coisa terrível lutar com o Senhor. Que

Deus tenha piedade de nós”, disse o Bispo em declarações à Fundação AIS. “Devemos

todos ajoelhar-nos e pedir perdão pelos pecados que foram cometidos”, acrescentou.

Sem fim à vista

Os Camarões são um país africano mergulhado num conflito obscuro, conhecido como

“a crise anglófona”. Uma crise que nasceu da vontade separatista das regiões onde

predomina a língua inglesa. Um conflito que ganhou relevo em 2016 e já causou

milhares de mortos e cerca de meio milhão de deslocados. E muita destruição. Nada

nem ninguém parece escapar. É o caso das crianças e dos jovens. Eles, em particular,

tornaram-se vítimas desta violência e muitos estão profundamente traumatizados.

Perante este cenário, a Igreja lançou um projecto que procura dar algumas respostas

aos anseios da juventude local. A Diocese de Mamfé, situada na região anglófona,


onde agora aconteceu o ataque, introduziu um programa de educação para a paz

como parte da sua preocupação com os mais jovens. O objectivo desta iniciativa, que

está a ser apoiada directamente pela Fundação AIS, é promover uma cultura de não-

violência. Mas como isso está tão distante do dia-a-dia das populações locais… O

ataque de 16 de Setembro à Igreja de Santa Maria trouxe para a primeira página dos

jornais este conflito meio esquecido em África. Noutras ocasiões, padres e catequistas

já conheceram a violência nos Camarões. Na memória de todos, apesar de terem

passado já mais de quatro anos, está o assassinato do Pe. Nougi Alexander, na

Paróquia de Bomaka. Aliás, esse ano de 2018 revelar-se-ia brutal para a comunidade

cristã. Em Outubro, Gerard Anjiangwe, um seminarista de Bamenda, seria assassinado

por militares quando estava em frente a uma igreja paroquial. Estava ajoelhado no

chão quando soldados dispararam contra ele. Três vezes. Estava a rezar. Tinha apenas

19 anos de idade.

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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