terça-feira, 27 de dezembro de 2022

SILERE nº17

 

           


                 Presépio  - séc.XVIII ( Basílica da Estrela – Lisboa)

                                             

                              SILERE NON POSSUM

           (Não me posso calar – Sto AgostinhO)

         Para destruir um povo é preciso destruir as suas raízes.”

                                       ( Alexandre Soljenitsyne)

                    Carta aos meus amigos – nº 17

 

 

 

                       BRAGA – 22 de DEZEMBRO de 2022

   

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PAX

 

Caros Amigos:

 

 

  “A beleza deste Evangelho não cessa de tocar o nosso coração: uma beleza que é esplendor da verdade. Não cessa de nos comover o facto de Deus Se ter feito menino, para que nós pudéssemos amá-Lo, para que ousássemos amá-Lo, e, como menino, Se coloca confiadamente nas nossas mãos. Como se dissesse: Sei que o meu esplendor te assusta, que à vista da minha grandeza procuras impor-te a ti mesmo. Por isso venho a ti como menino, para que Me possas acolher e amar.”

( Papa Bento XVI, 25.XII.2012)

 

 

 

 … É este o verdadeiro sentido do Natal, o Amor, que se manifesta em movimento para o outro, do “ Totalmente Outro para o outro”, “ encarnou” neste Menino que vem a mim e a todos para que, na sua riqueza pobre nos possamos tornar pobres ricos  ao e para O acolher e o centrar no nosso coração, na nossa vida. Infelizmente, perdemos o Amor feito Menino que “ natalizou” para nós.

   Hoje, e cada vez mais, “ destalalizamos” o Natal, o nascimento do Menino porque não O queremos acolher e amar. Será porque já não o conhecemos?

--- Por isso, “desnatalizaram” o Natal! Substituímos o Menino por ídolos.

Não sei se o verbo “ desnatalalizar” existe nem isso me preocupa.  Sempre se criaram neologismos e não vejo nenhum mal nisso.

“Desnatalizar” significa, para mim, descaracterizar o Natal, retirar dele e do seu significado a sua essência fundadora : celebrar o “ Nascimento de Jesus “, o “ Hodie “ ( hoje ) sempre eterno. E esta celebração que era festa  perdeu o seu significado profundo . O Hoje deu lugar ao  hoje e agora  de ruído , de  efémero e de consumo desenfreado. Fomos invadidos por velhos decrépitos vestidos de vermelho e carregados de sacos  cheios de inutilidades. Já nem as renas os puxam em trenós .  De “popotas” desajeitadas e bamboleantes. De leopoldinas  avestrúzicas  e de outras quimeras cuja função é convidar-nos ao consumo desenfreado…  Até os cânticos de Natal ,tão  belos que tantos pareciam ter sido criados por anjos ( lembra-se os leitores de, por exemplo, o “ Adeste fideles “ ou outros mais populares que todos sabíamos de cor ? ).

Lembram-se do orgulho em ir colher à horta, na tarde daquele dia , “ aquelas” tronchudas ( pencas ) tenras e macias que a geada havia “ massacrado”?  E lembram-se das magníficas e saborosas batatas, as melhores da colheita do ano, que naquela  noite todos apreciavam? Lembram-se da azáfama nas cozinhas na preparação daquela ceia mágica que tinha sempre, em cada família ,doces próprios e que só nesta quadra se faziam? Lembram-se de que na lareira de cada família ardia lenha escolhida a que nunca faltava um grande e grosso toro de carvalho ou sobro para arder até tarde? Lembram-se de como se rezava o Terço a que todos se associavam, mesmo aqueles que pouco praticavam ao longo do ano? Lembram-se que naquela noite estavam presentes os vivos mas se não esqueciam os familiares já falecidos, em verdadeira comunhão  entre vivos e mortos? Lembram-se dos jogos de cartas, dos pinhões para  o “ rapa - tira-deixa- põe ) ou do “ par ou pernão”? Lembram-se do anel enfiado num mais ou longo fio ( consoante o número de jogadores ) e da lenga-lenga “ Babona que estás no meio …”? Lembram-se das estórias que se contavam naquela noite, e muitas só naquela noite se contavam ,  que era de lazer para a família somente preocupada em fruir da presença aconchegante dos presentes e da saudade dos ausentes ? Não se fiava a lã ou linho. Não se lia  qualquer livro de distração. Não de fazia renda. Estava-se ali. Juntos. Numa alegre saudade e nostalgia.  Mesmo se fora de casa o vento soprava forte e a geada se formava e forrava o chão e as ervas, lá dentro, dentro de cada casa que tinha alma, cheiro e sons únicos , havia vida tantas vezes , noutros dias, tão sofrida pelas agruras da vida.

Entretanto, normalmente a partir do dia 8 , dia grande da Imaculada, Senhora, Madrinha, Mãe  e Rainha de Portugal  ( havia tantas Maria da Conceição! ) começava a preparar-se o presépio em lugar de destaque e que fosse visto e admirado por todos, sobretudo naquela noite que tinha uma magia vinda do céu, a noite de 24 de Dezembro. Os mais novos traziam musgo.  Musgo verdadeiro e verdadeiramente verde . Muito. Construía-se uma cabana , se não já a havia de outros anos . Iam-se buscar as figuras , nunca faltando a Sagrada Família, centro de onde irradia(va) a centralidade daquela festa. Depois, de acordo com as possibilidades de cada família, podia haver pastores, Reis Magos, Anjo com um dístico, em latim ( “ Gloria in excelsis Deo!) que todos sabiam o que queria dizer. Por vezes não faltava o moleiro, a lavadeira de roupa , o rapaz que trepava um mastro para ir buscar um bacalhau miniatura bem em cima… Era à volta deste presépio ou à sua volta que se “ botava “ o Terço naquela noite.

E havia presentes. Para as crianças. Poucos, que a vida era difícil . Poucos, sim ,  mas enchiam de alegria os miúdos que só os recebiam na manhã do dia seguinte, gritando exclamações de espanto por aquilo, tão simples, que o Menino Jesus tinha deixado. Sim, era o Menino Jesus que ali tinha estado, mal eles sabiam que os Pais eram e se assumiam como o Menino Jesus.

Desde a noite anterior que sabiam que o Menino iria a sua casa e por isso, no final do Terço, com a dezena final já tão ritmada pelo cabecear do sono, beijavam a imagem de Jesus  com ternura e imaginação !

Hoje ainda há Natal?

O consumo prima sobre tudo. Em muitas casas já não se constrói o presépio. O Terço foi abandonado. As crianças são “ atafulhadas” de brinquedos a que tantas vezes já não dão qualquer valor ou atenção.

Saneamos Jesus, o Menino Jesus, das nossas casas. Se ainda se põe algum lembrete de que estamos no Natal, só o vemos na árvore num canto da sala e nos “ quilos “ de papel amarrotado que, no final da noite, é preciso arrumar. A magia da cozinha desapareceu. Compra-se tudo feito. O amor de confeccionar as rabanadas, os mexidos ou os sonhos e outros doces natalícios foi varrido por incómodo.

Desnatalizaram o Natal!

Desnatalizámos o Natal!

Deixamo – nos invadir por esta onda cristianófoba. E sem memória. Consumista hiperbolicamente. Cheia de regras de higiene fiscalizada e de almas sem higiene nenhuma.

Tenho pena da “ desnatalização “ do Natal . Tenho saudades do Natal.

   Varremos da nossa vida esta grande festa, hino à beleza que é esplendor da verdade.

   Para todos os meus Amigos-leitores e suas famílias, desejo um SANTO NATAL!

 

 

Carlos Aguiar Gomes , para o Natal de 2022

 

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