Presépio - séc.XVIII ( Basílica da Estrela – Lisboa)
(Não me posso
calar – Sto AgostinhO)
“Para destruir um povo é preciso destruir as suas
raízes.”
Carta aos meus
amigos – nº 17
BRAGA – 22 de DEZEMBRO de 2022
+
PAX
Caros
Amigos:
“A beleza deste
Evangelho não cessa de tocar o nosso coração: uma beleza que é esplendor da
verdade. Não cessa de nos comover o facto de Deus Se ter feito menino, para que
nós pudéssemos amá-Lo, para que ousássemos amá-Lo, e, como menino, Se coloca
confiadamente nas nossas mãos. Como se dissesse: Sei que o meu esplendor te
assusta, que à vista da minha grandeza procuras impor-te a ti mesmo. Por isso
venho a ti como menino, para que Me possas acolher e amar.”
( Papa Bento XVI, 25.XII.2012)
… É este o verdadeiro
sentido do Natal, o Amor, que se manifesta em movimento para o outro, do “
Totalmente Outro para o outro”, “ encarnou” neste Menino que vem a mim e a
todos para que, na sua riqueza pobre nos possamos tornar pobres ricos ao e para O acolher e o centrar no nosso
coração, na nossa vida. Infelizmente, perdemos o Amor feito Menino que “
natalizou” para nós.
Hoje, e cada vez mais, “ destalalizamos” o
Natal, o nascimento do Menino porque não O queremos acolher e amar. Será porque
já não o conhecemos?
--- Por isso, “desnatalizaram” o
Natal! Substituímos o Menino por ídolos.
Não sei se o verbo “ desnatalalizar”
existe nem isso me preocupa. Sempre se
criaram neologismos e não vejo nenhum mal nisso.
“Desnatalizar” significa, para mim,
descaracterizar o Natal, retirar dele e do seu significado a sua essência
fundadora : celebrar o “ Nascimento de Jesus “, o “ Hodie “ ( hoje ) sempre
eterno. E esta celebração que era festa
perdeu o seu significado profundo . O Hoje deu lugar ao hoje e agora
de ruído , de efémero e de
consumo desenfreado. Fomos invadidos por velhos decrépitos vestidos de vermelho
e carregados de sacos cheios de
inutilidades. Já nem as renas os puxam em trenós . De “popotas” desajeitadas e bamboleantes. De
leopoldinas avestrúzicas e de outras quimeras cuja função é
convidar-nos ao consumo desenfreado… Até
os cânticos de Natal ,tão belos que
tantos pareciam ter sido criados por anjos ( lembra-se os leitores de, por
exemplo, o “ Adeste fideles “ ou outros mais populares que todos sabíamos de
cor ? ).
Lembram-se do orgulho em ir colher à
horta, na tarde daquele dia , “ aquelas” tronchudas ( pencas ) tenras e macias
que a geada havia “ massacrado”? E
lembram-se das magníficas e saborosas batatas, as melhores da colheita do ano,
que naquela noite todos apreciavam?
Lembram-se da azáfama nas cozinhas na preparação daquela ceia mágica que tinha
sempre, em cada família ,doces próprios e que só nesta quadra se faziam?
Lembram-se de que na lareira de cada família ardia lenha escolhida a que nunca
faltava um grande e grosso toro de carvalho ou sobro para arder até tarde?
Lembram-se de como se rezava o Terço a que todos se associavam, mesmo aqueles
que pouco praticavam ao longo do ano? Lembram-se que naquela noite estavam presentes
os vivos mas se não esqueciam os familiares já falecidos, em verdadeira
comunhão entre vivos e mortos?
Lembram-se dos jogos de cartas, dos pinhões para o “ rapa - tira-deixa- põe ) ou do “ par ou
pernão”? Lembram-se do anel enfiado num mais ou longo fio ( consoante o número
de jogadores ) e da lenga-lenga “ Babona que estás no meio …”? Lembram-se das
estórias que se contavam naquela noite, e muitas só naquela noite se contavam
, que era de lazer para a família
somente preocupada em fruir da presença aconchegante dos presentes e da saudade
dos ausentes ? Não se fiava a lã ou linho. Não se lia qualquer livro de distração. Não de fazia
renda. Estava-se ali. Juntos. Numa alegre saudade e nostalgia. Mesmo se fora de casa o vento soprava forte e
a geada se formava e forrava o chão e as ervas, lá dentro, dentro de cada casa
que tinha alma, cheiro e sons únicos , havia vida tantas vezes , noutros dias,
tão sofrida pelas agruras da vida.
Entretanto, normalmente a partir do
dia 8 , dia grande da Imaculada, Senhora, Madrinha, Mãe e Rainha de Portugal ( havia tantas Maria da Conceição! ) começava
a preparar-se o presépio em lugar de destaque e que fosse visto e admirado por
todos, sobretudo naquela noite que tinha uma magia vinda do céu, a noite de 24
de Dezembro. Os mais novos traziam musgo.
Musgo verdadeiro e verdadeiramente verde . Muito. Construía-se uma
cabana , se não já a havia de outros anos . Iam-se buscar as figuras , nunca
faltando a Sagrada Família, centro de onde irradia(va) a centralidade daquela
festa. Depois, de acordo com as possibilidades de cada família, podia haver
pastores, Reis Magos, Anjo com um dístico, em latim ( “ Gloria in excelsis
Deo!) que todos sabiam o que queria dizer. Por vezes não faltava o moleiro, a
lavadeira de roupa , o rapaz que trepava um mastro para ir buscar um bacalhau
miniatura bem em cima… Era à volta deste presépio ou à sua volta que se “
botava “ o Terço naquela noite.
E havia presentes. Para as crianças.
Poucos, que a vida era difícil . Poucos, sim ,
mas enchiam de alegria os miúdos que só os recebiam na manhã do dia
seguinte, gritando exclamações de espanto por aquilo, tão simples, que o Menino
Jesus tinha deixado. Sim, era o Menino Jesus que ali tinha estado, mal eles
sabiam que os Pais eram e se assumiam como o Menino Jesus.
Desde a noite anterior que sabiam que
o Menino iria a sua casa e por isso, no final do Terço, com a dezena final já
tão ritmada pelo cabecear do sono, beijavam a imagem de Jesus com ternura e imaginação !
Hoje ainda há Natal?
O consumo prima sobre tudo. Em muitas
casas já não se constrói o presépio. O Terço foi abandonado. As crianças são “
atafulhadas” de brinquedos a que tantas vezes já não dão qualquer valor ou
atenção.
Saneamos Jesus, o Menino Jesus, das
nossas casas. Se ainda se põe algum lembrete de que estamos no Natal, só o
vemos na árvore num canto da sala e nos “ quilos “ de papel amarrotado que, no
final da noite, é preciso arrumar. A magia da cozinha desapareceu. Compra-se
tudo feito. O amor de confeccionar as rabanadas, os mexidos ou os sonhos e
outros doces natalícios foi varrido por incómodo.
Desnatalizaram o Natal!
Desnatalizámos o Natal!
Deixamo – nos invadir por esta onda
cristianófoba. E sem memória. Consumista hiperbolicamente. Cheia de regras de
higiene fiscalizada e de almas sem higiene nenhuma.
Tenho pena da “ desnatalização “ do
Natal . Tenho saudades do Natal.
Varremos da nossa vida esta grande festa, hino à beleza que é esplendor da verdade.
Para todos os meus
Amigos-leitores e suas famílias, desejo um SANTO NATAL!
Carlos Aguiar Gomes , para o Natal de
2022
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