“Jesus, ich liebe dich”
( « Jesus, amo-Te» - últimas palavras de Bento XVI)
SILERE NON POSSUM
(Não me posso
calar – Sto Agostinho)
“Para destruir um povo é preciso destruir as suas
raízes.” (Alexandre
Soljenitsyne)
Carta aos meus
amigos – nº 19
BRAGA – 5 de JANEIRO de 2023
+
PAX
« Requiem aeternam dona ei Domine. Et lux perpetua luceat ei.
Requiescat in pace.»
É sepultado hoje, dia 5 de Janeiro de 2023,
Sua Santidade o Papa Bento XVI, um Papa Sábio entre os sábios do mais alto
gabarito. O Papa humilde que tudo reservava para marcar que, para Deus, tudo
era pouco. As exterioridades que usava,
sobretudo quando celebrava os sacramentos e os gestos que marcavam
estes, eram sinais que celebrava para Deus e que para Este tudo era pouco e que
a arte deveria estar ao serviço de Deus nessas celebrações. Estas deveriam ser feitas com a máxima reverência e
amor. Quem o via celebrar a Santa Missa notava que ali o homem desaparecia para
se mostrar como o sacerdote voltado para Deus a Quem oferecia o mais belo,
harmonioso e rico. O esplendor das suas celebrações era para nos mostrar e
conduzir para o Belo supremo, Deus. Bento XVI fazia-nos esquecer o Joseph
Ratzinger e a sua presença remetia-nos para o Sacerdote que oferece a Deus o
sacrifício supremo, a Santa Missa. Por isso, os paramentos eram belos, os
cânticos belíssimos, nos seus gestos transparecia o que realizava.
Bento XVI ficará na história da Igreja como
um Doutor entre os Doutores e já chegou o momento de termos mais um Doutor da
Igreja. A sua obra imensa que nos legou assim o exige! Exige-o a obra do
teólogo Ratzinger e a do Papa Bento XVI. Espero que não demore a sua
proclamação como Doutor da Igreja, sabendo que os seus detractores tudo
farão para o fazer esquecer rapidamente
enquanto, agora, derramam “ lágrimas de crocodilo”, hipócritas entre os
hipócritas. Como são hipócritas entre os mais vis hipócritas todos os que,
enquanto Papa lhe desobedeciam descaradamente, abertamente e sem qualquer tipo
de pejo e agora fazem o seu elogio! Hipócritas!
Bento XVI ficará, igualmente, na história da
Igreja pela sua grande humildade que os seus detractores interpretavam como
arrogância e vaidade! Vejamos como ele aceitou em silêncio as ofensas que lhe
fizeram, por exemplo, quando publicou o Motu Proprio « Sumorum Pontificum» e quando este foi “ anulado” ou cerceada ferozmente
a sua aplicação contra tudo, em nome da paz litúrgica, que Bento XVI tinha
disposto!
O seu testamento espiritual, já publicado e
que aqui deixo, é bem o testemunho de que Bento XVI foi um “ um humilde
trabalhador da vinha do Senhor”. Transcrevo o referido testamento, espelho da
alma deste grande Pontífice, sublinhando as passagens que mais me tocaram.
«29 de agosto de 2006
Meu testamento espiritual
Se nesta hora tardia de minha vida olho para trás, para os decênios que percorri, a primeira
coisa que vejo é quantas razões tenho de agradecer. Agradeço antes de qualquer
outro ao próprio Deus, o dispensador de todo dom bom, que me deu a vida e me
guiou através de vários momentos de confusão, reerguendo-me sempre todas as
vezes em que começava a escorregar e dando-me sempre de novo a luz de sua face.
Retrospectivamente vejo e entendo que mesmo os trechos escuros e cansativos
desse caminho foram para a minha salvação e que exatamente nesses Ele me guiou
bem.
Agradeço a meus pais que me deram a vida em tempos difíceis e
que, ao custo de grandes sacrifícios, com seu amor, me prepararam uma moradia
magnífica que, como luz clara, ilumina meus dias até hoje. A fé clarividente de
meu pai ensinou a nós, os irmãos, a acreditar e serviu de guia em meio a todo o
meu conhecimento científico; a devoção sincera e a grande bondade de minha mãe
representam uma herança pela qual não posso agradecer o suficiente. Minha irmã
tem- me servido desinteressadamente e com preocupação por décadas; meu irmão,
com a lucidez de seus juízos, sua vigorosa resolução e serenidade de coração,
sempre aplainou o meu caminho; sem aquela sua precedência e acompanhamento
contínuos não poderia ter encontrado o caminho certo.
De coração agradeço a Deus pelos tantos amigos, homens e
mulheres, que Ele sempre pôs ao meu lado; pelos colaboradores em todas as
etapas do meu caminho; pelos mestres e alunos que Ele me deu. Confio-os todos,
agradecido, à Sua bondade. E quero agradecer o Senhor pela minha bela terra nos
pré-alpes bávaros, na qual sempre vi transparecer o esplendor do próprio
Criador. Agradeço ao povo da minha terra porque neles sempre pude experimentar
de novo a beleza da fé. Rogo para que a nossa terra permaneça uma terra de fé e
peço a vós, caros compatriotas: não vos deixeis desviar da fé. E finalmente agradeço
a Deus por tudo de belo que pude experimentar em todas as etapas do meu caminho
especialmente, porém, em Roma e na Itália que se tornou minha segunda pátria.
A todos aqueles a quem de algum modo tenha feito mal, peço
perdão de coração.
Aquilo que antes disse aos meus compatriotas, digo agora a todos
aqueles que na Igreja foram confiados a meu serviço: permanecei firmes na fé!
Não vos deixeis confundir! Frequentemente parece que a ciência _as ciências
naturais, por um lado e a pesquisa histórica (em particular a exegese da
Sagrada Escritura) de outro_ são capazes de oferecer resultados incontestáveis
em contraste com a fé católica. Vivi as transformações das ciências naturais de
há longo tempo e pude constatar como, ao contrário, desapareceram as certezas
contra a fé, demonstrando ser não ciência, mas interpretações filosóficas
apenas aparentemente derivadas da ciência; assim como, por outro lado, é no
diálogo com as ciências naturais que também a fé aprendeu a compreender melhor
o limite do alcance de suas afirmações e, portanto, de sua especificidade.
São já sessenta anos que acompanho o caminho da teologia em particular
das ciências bíblicas, e com o suceder-se das diversas gerações vi ruir teses
que pareciam indestrutíveis, demonstrando ser simples hipóteses: a geração
liberal (Harnack, Jülicher etc), a geração existencialista (Bultmann etc.), a
geração marxista. Vi e vejo como do emaranhado das hipóteses emergiu e emerge
novamente a razoabilidade da fé. Jesus Cristo é verdadeiramente o caminho, a
verdade e a vida _ e a Igreja, com todas as suas insuficiências, é
verdadeiramente Seu corpo.
Enfim, peço humildemente: rezai por mim, para que o Senhor,
não obstante todos os meus pecados e insuficiências, me acolha na morada
eterna. A todos aqueles que me estão confiados, dia a dia vai de coração
minha oração.
Benedictus PP XVI»
Sim, Santo Padre, rezaremos por Si e
peço-lhe que reze por nós nestes tempos de confusão que nos podem enfraquecer a
Fé, a Esperança e a Caridade. Peço-lhe, Santo Padre, que junto de Deus, onde já
está, tudo o que nos legou nos aumente a Fé, revigore a Esperança e fortaleça a
Caridade.
Caros Amigos-leitores, sinto que com a partida de Bento XVI ficamos mais pobres
mas ele deixou-nos instrumentos para não nos deixarmos abater e desmoralizar.
Se não conseguirmos ler e estudar toda a sua imensa obra, ao menos, peguemos,
por exemplo, na sua Carta Encíclica « DEUS CARITAS EST», de 25 de Dezembro de
2005, um dos mais belos textos sobre o Amor a que deveremos aceder para nosso
alimento espiritual ou a Exortação Apostólica Pós Sinodal « Sacramento da
Caridade» de 22 de Fevereiro de 2007.
Bento XVI foi, é e vai continuar a ser luz
de Cristo neste mundo de trevas que cada vez mais escurece, uma lucerna que não
se apaga no meio da escuridão!
Bento XVI, Doutor da Igreja, « subito»!
SILERE NON POSSUM!
Carlos Aguiar Gomes, Braga,
5.Janeiro.2023
P.S.
Desejo aos meus
Amigos-leitores um ano novo pleno de tudo o que for BEM, BELO e BOM.
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