quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

SILERE NON POSSUM nº 23

                                      




               SILERE NON POSSUM

           (Não me posso calar – Sto Agostinho)

  “Para destruir um povo é preciso destruir as suas raízes.” (Alexandre Soljenitsyne)

                

 

                    Carta aos meus amigos – nº 23            

                           

                        

                          BRAGA , 2 de Fevereiro- 2023

 

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PAX

 

 

«A cultura europeia dá a impressão de uma “ apostasia silenciosa” por parte do homem saciado, que vive como se Deus não existisse.» S. João Paulo II Magno, in “ Ecclesia in Europa”, nº9)

 

 

   A frase com que inicio esta minha Carta, do grande Pontífice S. João Paulo II Magno, na Exortação Apostólica Pós-Sinodal “ Ecclesia in Europa” de 28 de Junho de 2003 é uma evidência que não carece de demonstração. Basta ver a realidade à nossa volta. Há, na realidade, uma apostasia generalizada em toda a Europa e Portugal não escapa apesar de vermos multidões em grandes santuários como Fátima em que a Fé e a superstição se enlaçam de modo clamoroso ou o modo como os católicos exercem o seu direito de voto ou a indiferença destes, se não mesmo concordância, daqueles face a temas tão importantes como a Eutanásia. Não precisamos de ser peritos em análises sociológicas. Chega ver e sentir a nossa realidade.

  Um dos sintomas mais evidentes e clamorosos é vermos a quantidade gigantesca de igrejas ou mosteiros que estão a ser abandonados, o ou transformados em cafés, restaurantes, museus, mesquitas ou supermercados. Esta situação também se passa em Portugal, de Norte a Sul. Veja-se, por exemplo, que o Museu do Dinheiro, funciona na igreja de S. Julião, ao lado da Câmara Municipal de Lisboa! E já nos apercebemos da quantidade enorme de antigas capelas de casas senhoriais que foram modificadas para serem espaços de lazer, garagens ou outra coisa qualquer? E que dizer da enormidade de antigas ermidas espalhadas pelo nosso país e que espelhavam a Fé de um povo que estão em ruínas? Todas, construídas com enormes sacrifícios mas com uma enorme devoção.

  Estes templos abandonados, destruídos ou transformados foram espaços de oração dos nossos antepassados. Aí casavam, se baptizavam, rezavam por vivos e mortos. Eram espaços de passado, de presente e futuro voltados para Deus. Aí se ia, a pé ou a cavalo, em peregrinação em horas de dor ou como prova de agradecimento. Tudo ruiu! Abandonado. Destruído. E na melhor das hipóteses, transformadas em museus domésticos.

 Quantos destes templos foram construídos, por amor a Deus, com “ sangue, suor e lágrimas” dos nossos antepassados? Quanto sacrifício representam feito por nossos Avós? Espelhavam, porém, uma Fé viva, talvez não muito académica mas muito verdadeira e sentida. Deixem-me, caros Amigos-leitores, fazer-vos uma pergunta absolutamente néscia: Jesus veio ao mundo para criar Universidades, incentivar a vaidade cultural ou com os simples e para os simples fazer o anúncio do Reino de Deus? O Verbo veio para salvar os homens, todos e cada um. Não veio para salvar o planeta nem alertar para as “ alterações climáticas” tão na moda hoje. Também não veio para “desfiles” de opas e capas com “ manequins” inconsequentes!  Veio pedir a nossa conversão permanente.

   Recentemente, o “Tagesspiegel”, de Berlim, perguntava: «Que fazer das igrejas de Berlim?» em que um quarto das igrejas desta arquidiocese irão fechar. Ou que na Inglaterra 4000 igrejas foram encerradas em 10 anos; um terço das igrejas de Bruxelas, 1000 nos Países Baixos ou 10 000 em França tiveram o mesmo destino…

   Agora, com dados indesmentíveis da Conferência Episcopal Alemã, que não é, de todo, conservadora, referirei que em 2022, nas 27 dioceses alemãs, somente 33 seminaristas foram ordenados como sacerdotes e em 10 não houve nenhuma ordenação. E quanto aos leigos, segundo a mesma fonte, 359 338 abandonaram a Igreja em 2021. É a debandada geral. Lá e cá. … Com a diferença de por cá não termos (ou não querermos) ter números. Ah!, se os tivéssemos … creio que não teríamos surpresas e que não difeririam do que se passa pela Europa.

   Entre as igrejas em ruína, abandonadas, destruídas ou vendidas para o mercado voraz da construção civil  e o descalabro da Fé nesta Europa que esquece e/ou rejeita as suas raízes cristãs , a meu ver, há uma correlação que não precisa de algorítimos matemáticos para a confirmação desta minha dedução.

  Dá que pensar! A mim, pelo menos, dá-me muito que pensar e lamentar o estado a que chegamos  perante a indiferença de quem não poderia nem deveria ser indiferente. A começar pelos altos patamares da hierarquia e a acabar em mim!

   Como dizia S. João Paulo II Magno na citada Exortação Apostólica ( nº41):

« … São precisos itinerários pedagógicos que tornem os fiéis-leigos idóneos a aplicarem a fé nas realidades temporais. Tais percursos baseados sobre tirocínios sérios de vida eclesial e de modo especial sobre o estudo da doutrina social, devem poder fornecer-lhes não apenas doutrina e motivações, mas também adequadas linhas de espiritualidade que animem o compromisso vital como autêntico caminho de santidade.»

 … « Por isso, a ti, Igreja que vives na Europa, dirijo um premente convite : sê uma igreja que reza, louva a Deus, reconhecendo-Lhe o primado absoluto e exalta-O com jubilosa fé. Redescobre o sentido do mistério…» ) id. nº 69).

 

 SILERE NON POSSUM!

 

Carlos Aguiar Gomes, Braga, na festa da Apresentação do Senhor no Templo. 

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