(Não me posso
calar – Sto Agostinho)
“Para destruir um povo é preciso destruir
as suas raízes.” (Alexandre
Soljenitsyne)
Carta aos meus
amigos – nº 23
BRAGA , 2 de
Fevereiro- 2023
+
PAX
«A cultura europeia dá a
impressão de uma “ apostasia silenciosa” por parte do homem saciado, que vive
como se Deus não existisse.» S. João Paulo II Magno, in “ Ecclesia
in Europa”, nº9)
A
frase com que inicio esta minha Carta, do grande Pontífice S. João Paulo II
Magno, na Exortação Apostólica Pós-Sinodal “ Ecclesia in Europa” de 28 de Junho
de 2003 é uma evidência que não carece de demonstração. Basta ver a realidade à
nossa volta. Há, na realidade, uma apostasia generalizada em toda a Europa e
Portugal não escapa apesar de vermos multidões em grandes santuários como
Fátima em que a Fé e a superstição se enlaçam de modo clamoroso ou o modo como
os católicos exercem o seu direito de voto ou a indiferença destes, se não
mesmo concordância, daqueles face a temas tão importantes como a Eutanásia. Não
precisamos de ser peritos em análises sociológicas. Chega ver e sentir a nossa
realidade.
Um
dos sintomas mais evidentes e clamorosos é vermos a quantidade gigantesca de
igrejas ou mosteiros que estão a ser abandonados, o ou transformados em cafés,
restaurantes, museus, mesquitas ou supermercados. Esta situação também se passa
em Portugal, de Norte a Sul. Veja-se, por exemplo, que o Museu do Dinheiro,
funciona na igreja de S. Julião, ao lado da Câmara Municipal de Lisboa! E já
nos apercebemos da quantidade enorme de antigas capelas de casas senhoriais que
foram modificadas para serem espaços de lazer, garagens ou outra coisa
qualquer? E que dizer da enormidade de antigas ermidas espalhadas pelo nosso
país e que espelhavam a Fé de um povo que estão em ruínas? Todas, construídas
com enormes sacrifícios mas com uma enorme devoção.
Estes templos abandonados, destruídos ou transformados foram espaços de
oração dos nossos antepassados. Aí casavam, se baptizavam, rezavam por vivos e
mortos. Eram espaços de passado, de presente e futuro voltados para Deus. Aí se
ia, a pé ou a cavalo, em peregrinação em horas de dor ou como prova de
agradecimento. Tudo ruiu! Abandonado. Destruído. E na melhor das hipóteses,
transformadas em museus domésticos.
Quantos destes templos foram construídos, por
amor a Deus, com “ sangue, suor e lágrimas” dos nossos antepassados? Quanto
sacrifício representam feito por nossos Avós? Espelhavam, porém, uma Fé viva,
talvez não muito académica mas muito verdadeira e sentida. Deixem-me, caros
Amigos-leitores, fazer-vos uma pergunta absolutamente néscia: Jesus veio ao
mundo para criar Universidades, incentivar a vaidade cultural ou com os simples
e para os simples fazer o anúncio do Reino de Deus? O Verbo veio para salvar os
homens, todos e cada um. Não veio para salvar o planeta nem alertar para as “
alterações climáticas” tão na moda hoje. Também não veio para “desfiles” de
opas e capas com “ manequins” inconsequentes! Veio pedir a nossa conversão permanente.
Recentemente, o “Tagesspiegel”, de
Berlim, perguntava: «Que fazer das igrejas de Berlim?» em que um quarto das
igrejas desta arquidiocese irão fechar. Ou que na Inglaterra 4000 igrejas foram
encerradas em 10 anos; um terço das igrejas de Bruxelas, 1000 nos Países Baixos
ou 10 000 em França tiveram o mesmo destino…
Agora, com dados indesmentíveis da Conferência Episcopal Alemã, que não
é, de todo, conservadora, referirei que em 2022, nas 27 dioceses alemãs,
somente 33 seminaristas foram ordenados como sacerdotes e em 10 não houve
nenhuma ordenação. E quanto aos leigos, segundo a mesma fonte, 359 338
abandonaram a Igreja em 2021. É a debandada geral. Lá e cá. … Com a diferença
de por cá não termos (ou não querermos) ter números. Ah!, se os tivéssemos …
creio que não teríamos surpresas e que não difeririam do que se passa pela
Europa.
Entre as igrejas em ruína, abandonadas, destruídas ou vendidas para o
mercado voraz da construção civil e o
descalabro da Fé nesta Europa que esquece e/ou rejeita as suas raízes cristãs ,
a meu ver, há uma correlação que não precisa de algorítimos matemáticos para a
confirmação desta minha dedução.
Dá
que pensar! A mim, pelo menos, dá-me muito que pensar e lamentar o estado a que
chegamos perante a indiferença de quem
não poderia nem deveria ser indiferente. A começar pelos altos patamares da
hierarquia e a acabar em mim!
Como dizia S. João Paulo II Magno na citada Exortação Apostólica (
nº41):
« … São precisos itinerários
pedagógicos que tornem os fiéis-leigos idóneos a aplicarem a fé nas
realidades temporais. Tais percursos baseados sobre tirocínios sérios de vida
eclesial e de modo especial sobre o estudo da doutrina social, devem poder
fornecer-lhes não apenas doutrina e motivações, mas também adequadas linhas de
espiritualidade que animem o compromisso vital como autêntico caminho de
santidade.»
… « Por isso, a ti, Igreja que vives na Europa, dirijo um
premente convite : sê uma igreja que
reza, louva a Deus, reconhecendo-Lhe o primado absoluto e exalta-O com
jubilosa fé. Redescobre o sentido do mistério…» ) id. nº 69).
SILERE NON POSSUM!
Carlos Aguiar Gomes, Braga, na festa da Apresentação do Senhor no Templo.
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