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“Sabemos que corremos riscos”, diz Arcebispo de Kaduna, sobre as ameaças constantes aos cristãos
Lisboa, 15 de Junho de 2023 | PA
Tem de viajar muitas vezes com escolta e a sua casa tem vários cães de guarda. Mesmo assim, todos os dias D. Matthew Ndagoso sabe que corre riscos, sabe que seria uma presa apetecível para os terroristas e grupos armados que atemorizam constantemente a comunidade cristãs.
D. Matthew Ndagoso, Arcebispo de Kaduna, lidera uma das dioceses mais ameaçadas pela violência na Nigéria que é também um dos países de África onde a comunidade cristã mais tem sofrido. Os grupos terroristas, com especial destaque para o Boko Haram, considerado um dos mais temíveis em todo o continente, e os pastores nómadas funali, cada vez mais agressivos, são apenas uma das faces dessa violência contra os cristãos. Nos últimos tempos, tem crescido também, e de forma alarmante, o número de sequestros de sacerdotes. Só nos últimos três anos, oito padres da diocese de Kaduna foram raptados, dos quais quatro acabaram por ser libertados, um está ainda desaparecido e os restantes foram assassinados pelos seus captores. Um deles, deu provas de uma coragem invulgar enquanto esteve em cativeiro. O Arcebispo de Kaduna conta, à Fundação AIS, que, “enquanto lhe apontavam uma AK47 [uma metralhadora], ele disse aos seus agressores que deveriam arrepender-se da maldade que estavam a fazer…” Foi a sua última frase. “Então, eles mataram-no”, acrescenta D. Mattthew. Esta história de martírio é, infelizmente, apenas um exemplo do enorme pesadelo em que se transformou a vida quotidiana dos cristãos na Nigéria.
VIAJAR COM ESCOLTA…
Na Nigéria os cristãos vivem num sobressalto permanente, vivem debaixo de uma ameaça constante. É neste contexto que a Igreja realiza o seu trabalho de evangelização e é neste contexto também que D. Matthew Ndagoso assume a liderança da sua diocese. “Eu tenho cinco cães de guarda, para poder dormir tranquilamente à noite”, explica o arcebispo à Fundação AIS. O Arcebispo só viaja com uma escolta armada, para lugares cuidadosamente protegidos, porque um prelado seria uma presa muito tentadora para os bandidos. E ele sabe isso. “Frequentemente passamos por veículos na estrada que foram atacados, e isso é como um lembrete do que poderá acontecer connosco a qualquer momento”, diz. Tal como ele, todos os sacerdotes têm de calcular bem os seus movimentos, se há ou não notícias inquietantes… De qualquer forma, independentemente das cautelas, o risco está sempre presente. Isso é uma marca na vida dos cristãos na Nigéria. E D. Matthew sublinha isso. “A fé não cai do céu. Ela precisa de ministros, mas sabemos que corremos riscos sempre que enviamos alguém a algum lugar. Estamos a voltar como que aos primeiros dias da Igreja”, diz o Arcebispo Ndagoso.
A RELIGIÃO NO SANGUE
Mas apesar dos riscos, é extraordinário verificar como as igrejas da Nigéria estão sempre cheias de fiéis que celebram a sua fé com uma alegria contagiante. O país, que está, de certa forma dividido entre cristãos e muçulmanos, com estes a predominarem na região norte e aqueles no sul, tem na religião um factor de identidade fundamental. “A religião deveria unir-nos e não nos dividir”, diz o prelado. A sua própria vida é um exemplo de como a religião não deve ser um obstáculo ao bom convívio entre as pessoas. Filho de um líder de uma religião tradicional, Matthew Ndagoso foi enviado por um primo para estudar numa escola católica e pediu para ser batizado aos dez anos. “Aqui na África subsaariana, a religião está no nosso sangue. Temos uma cultura religiosa! Isso foi-me transmitido pelo meu pai, e estou-lhe grato por isso. O meu pai nunca me censurou por causa da minha escolha, e ficou feliz por eu ter me convertido… Embora ele preferisse que eu me casasse!”, acrescenta, rindo.
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