quinta-feira, 20 de julho de 2023

SILERE 47

 

«… mas , com a afirmação lente  e progressiva do secularismo, correm o risco de reduzirem-se a meros vestígios do passado. Muitos já não conseguem integrar a mensagem evangélica na experiência diária…» ( S. João Paulo II Magno, in Ecclesia in Europa - 2003)

 

SILERE NON  POSSUM

            (Não me posso calar – Sto Agostinho)

             Para destruir um povo é preciso destruir as suas raízes.” (Alexandre Soljenitsyne)

 

                     

                      Carta aos meus amigos – nº 47           

                             

 

 

 

 

                              BRAGA ,20 – JUlHO - 2023

 

 

  +

PAX

 

 

 

    Leio, sempre com imenso interesse, nem sempre concordando, na revista-suplemento « LUZ.» do semanário Novo Nascer do Sol as cartas- artigo trocadas entre Alice Vieira e o seu neto Nélson Mateus. A ternura, a actualidade e a memória fazem um casamento feliz! Ambos me deliciam com a sua prosa.

   No número d 26 de Maio p.p., os autores deram à sua troca de correspondência o título « Ai coração». Uma delícia de escrita!... Mas que me deu que pensar! E muito. Vou transcrever um pedaço da prosa de Alice Vieira, que escreveu a partir de uma conversa que ouviu na esplanada de um café da Ericeira, a “ sua “ praia, entre uns pais e uma criança. Eis um pedaço da dita conversa que a autora transcreve “ ipsis verbis”:

« Ele ( o Pai): “ Por que é que há pessoas que agora não comem carne?”

Ela ( a Mãe): “  Acho que é por causa da Quaresma”

Ele: “ O que é a Quaresma?”

Ela: “ Não sei bem , mas acho que é uma seita terrível que existe na China.”

   E o artigo continuava . A mim, nado , criado e “ estudado” em Portugal, lendo esta “ douta e sábia” conversa, estarreci! Se não fosse a autoridade intelectual da autora do citado texto epistolar, não acreditaria. Até por que os “ dialogantes” seriam portugueses, provavelmente jovens adultos e já pais de uma criança que os acompanhava e ouvia o diálogo, captando sem dúvida, atento ao alto nível cultural paterno/materno.

  Para mim, como para Alice Vieira, não está em causa a ignorância incrível, do  significado religioso e espiritual do que é a Quaresma nem a sua etimologia e história ligada intrinsecamente ao cristianismo e ao povo judeu. O que já de si seria muito grave. Choca-me a ignorância profunda do sentido de um período do ano da nossa cultura judaico-cristã!

   Aqueles indivíduos nunca se deram conta das inúmeras procissões que ocorrem em todo o país na Quaresma? Nunca se aperceberam de que há , no final desse período, a 6ªfeira Santa, feriado? Nunca viram as retransmissões televisivas de Roma? Nunca ouviram dos seus pais/avós narrativas do que era o Domingo de Páscoa e, se eram do Norte, da Visita Pascal ou Compasso tão cheio de alegria, de foguetes e bandas de música? Nunca comeram os famosos “ Folares” que quase só se vendem nesta época e que enchem pastelarias e são fonte de feiras de Norte a Sul do nosso país? Nunca ouviram cânticos populares alusivos à Quaresma difundidos em todas as rádios? Nunca ouviram, não nunca ouviram, por exemplo, a « Paixão segundo S. Mateus» do imortal Bach?

   A Quaresma passa , para cada vez mais pessoas, como mais um tempo de ir à praia, beber umas “ bejecas” e aproveitar para dormir mais no feriado de 6ª f Santa! Ou ir , até de madrugada, a uma qualquer discoteca “ abanar o capacete”.

«Muitos já não conseguem integrar a mensagem evangélica na experiência diária…». Nem numa simples dimensão cultural!

  O Ocidente apostatou. Paganizou-se quase integralmente. O número de baptizados tem diminuído sistematicamente e muitos dos que acontecem , não passam de “Actos Sociais” de convivialidade e ostentação de “ toilettes”, e também não têm continuidade. O abandono dos actos de culto católicos está em queda livre. Ainda vai havendo casamentos “ pela Igreja” :a cerimónia é bonita, o desfile de vaidades é chique e a festa de arromba que vem a seguir nunca será de perder… os funerais ainda se passam no templo como uma boa “ passerelle” para mostrar-se aos amigos… Enfim os “ sacramentos sociais” ainda vão resistindo, cada vez mais manos sacramentos e mais tempo de convívio, apesar da sua diminuição.

  Ah! E vai-se muito a Fátima, não se sabe bem fazer o quê, mas sempre se vê muita gente e, quem sabe?, a “ santinha” é capaz de não se importar mesmo que não se visite o centro de Fátima - Jesus no sacrário.

   Como posso calar-me face a esta apostasia generalizada ?

   Como posso ficar indiferente perante este neo-paganismo invasivo ?

    Como posso calar-me perante esta perda de memória colectiva?

«Para liquidar os povos ( …) começa-se por lhe retirar a memória. Destroem-se os seus livros, a sua cultura, a sua história. Alguém escreverá outros livros, dar-lhe-á uma outra cultura e inventa uma outra história.» ( Milan Kundera ) .

  É no que já estamos! Inebriados pela net. O nosso cérebro lavado pelo pensamento Woke.

   Como posso ficar calado face à « CRISE DA MEMÓRIA E HERANÇA CRISTû? ( S. João Paulo II Magno.l.c.pág15)

                                          SILERE NON POSSUM!

 

Carlos Aguiar Gomes

 

 

  

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