quarta-feira, 19 de julho de 2023

18 de JULHO - S. BARTOLOMEU DOS MÁRTIRES

 

                         S. Bartolomeu dos Mártires a DOUTOR DA IGREJA!

 

   Quando andava no Liceu, talvez no 4º ano, “conheci” Dom Frei Bartolomeu dos Mártires, a partir de extractos  que continha a Selecta Literária ( o livro de leitura- literatura de Português) da “ Vida do Arcebispo” de Frei Luís de Sousa. Talvez um página desta obra. Mas uma página que me marcou até hoje e me fez admirar imenso este Arcebispo de Braga de quem nunca ouvira falar até essa altura. E fiquei fascinado… Um Arcebispo de Braga, a cavalo de uma mula, no rigor do Inverno transmontano, calcorreava caminhos ínvios à procura de aldeias pobres, negras, analfabetas e ignorantes das “ coisas” de Deus ! Não levava séquito pomposo nem abundância de víveres. Ia pobre como os pobres que ia visitar e ensinar. Pobremente morreu, partilhando sempre tudo, que era pouco por sua vontade, com quem nada tinha.

 Vivia pobremente. E, por exemplo, disse directamente ao Papa que a baixela de prata em que eram servidas as refeições não ficavam bem e logo se comprometeu , e cumpriu, de lhe enviar um serviço de porcelana.  

   Adolescente, achava espantoso como um Senhor, Arcebispo de Braga, se deslocava assim, vivia assim e dava o exemplo a todos de uma vida austera mais consentânea com a sua condição de cristão. Mas era um intelectual do mais elevado gabarito, tanto quanto a sua humildade.

  Ficou-me gravada na memória a figura de Dom Frei Bartolomeu dos Mártires, um lisboeta ( baptizado na hoje Basílica dos Mártires) que tinha optado pela vida frugal e desprendida dos dominicanos e que muito contrariado aceita a insistência da Rainha para ser o Arcebispo de Braga.

  Os meus leitores, que sabem muito mais do que eu sobre a vida e a obra deste grande Arcebispo de Braga, perdoar-me-ão de aqui exarar alguns dados conhecidos de todos

  O Concílio de Trento, grande acontecimento da vida da Igreja, teve, além do Papa , como grande protagonista o “ Bracarense”, como era conhecido. A sua obra “ Estímulo de Pastores” que escreveu para si, teve um sucesso enorme na altura e no II Concílio do Vaticano, quatrocentos anos depois, foi distribuído a todos os Padres conciliares. Ficou célebre o seu “ Catecismo” que os párocos deveriam explicar aos Domingos a todos os fregueses, dada a suma ignorância destes e dos seus paroquianos!

  O “ Bracarense” ( como os actuais e futuros bracarenses se deveriam orgulhar deste epíteto dado ao mais extraordinário Arcebispo de Braga – não refiro os brilhantíssimos Antístites de Braga que deixaram marcas profundas. Dom Frei Bartolomeu dos Mártires atingiu outro patamar de santidade!), foi  “ canonizado” pelo povo, sobretudo entre os mais pobres da “ Viana da Foz do Lima”, finalmente, a Igreja canonizou-o de facto em 10 de Novembro de 2019, pelo Papa Francisco, na Basílica de S. Pedro.

… Mas será preciso divulgar muito mais a vida e o exemplo deste grande Arcebispo de Braga, sobretudo, hoje, em que uma crise profunda abala os fundamentos da sociedade e a que a Igreja não escapa.

S. Frei Bartolomeu dos Mártires é exemplo de humildade, de sobriedade, de caridade, de justiça, de tolerância, de sabedoria que não se aloja em mentes egoístas …

 Como já escrevi acima, desde a minha adolescência que Dom Frei Bartolomeu dos Mártires me fascina.

 Que riqueza  hoje praticamente inexplorada é a sua obra escrita!

 Que exemplo é a sua vida, a oportunidade do seu saber plasmada em várias  ( p.e. “Estimulo de Pastores” e “Catecismo”) que ainda hoje são lidas e tidas como referências. Além disso foi o primeiro Padre conciliar a mandar construir um Seminário para a formação do Clero que encontrou profundamente ignorante.

S. Frei Bartolomeu dos Mártires merece ser declarado Doutor da Igreja. A sua obra justifica-o. O seu exemplo de vida continua vivo.

 Carlos Aguiar Gomes

 

Notas biográficas:

Nasceu em Lisboa e aí baptizado ( na igreja dos Mártires, daí o seu nome como frade dominicano) a 3 de Maio de 1514.

Arcebispo de Braga de 1559 a 1582, tendo oferecido muita resistência em aceitar servir a Igreja como Arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas ( dignidade que defendeu tenazmente).

Participou com grande  actividade e eloquência em 1562 e 1563, respeitado por todos os Padres conciliares e pelo próprio Papa ( este , tinha uma grande estima pelo “Bracrense”) no Concílio de Trento.

Percorreu grande parte da sua imensa arquidiocese numa mula .

Faleceu com 76 anos, em 16 de Julho de 1590 no Convento de S. Domingos, Viana do Castelo, que por ele foi mandado construir e onde repousam os seus restos mortais.

 

 

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