Mesmo nas noites escuras
há sempre a Beleza a desafiar-nos.
SILERE NON POSSUM
(Não me posso
calar – Sto Agostinho)
“Para destruir um povo é preciso destruir as suas
raízes.” (Alexandre
Soljenitsyne)
Carta aos meus
amigos – nº 50
BRAGA , 10 -
Agosto - 2023
+
PAX
Agora, que acabou a Jornada Mundial da Juventude
, Lisboa 23, que teve um impacto mundial brutal, com a presença de jovens
de todo o mundo, veio-me à memória o «
GRANDE ENCONTRO DA JUVENTUDE», em que participei, realizado em Lisboa, nos dias
20 e 21 de Abril de 1963 e que reuniu entre 50 e 60 mil jovens de todo o país .
Recordo o enorme entusiasmo da juventude católica que encheu as ruas de Lisboa
e vários estádios de futebol da capital.
Recordo que meses antes , Outubro, o Papa
João XXIII, tinha aberto a II Concílio do Vaticano e que vi em transmissão
directa ( a preto e branco!).
Lembro a mensagem dos Bispos portugueses e
que aqui deixo um extracto:
« Pára
um pouco e pensa no compromisso que tomas ao participar no Grande Encontro da
Juventude»
Fui relembrar a Radiomensagem que o Papa de então enviou e escutada em
silêncio por aqueles milhares de jovens vindos dos quatro cantos do país e de
que transcrevo algumas frases que então nos dirigiu:
1.Sentímo-Nos felizes de saudar-vos com paternal afecto e grande
comprazimento pelo interesse que demonstrais em aprofundar o estudo da
doutrina social da Igreja e pela solicitude em fazê-la penetrar, como fermento
vivificante, nas estruturas da sociedade.
O tema proposto nesta circunstância «Os Jóvens escolhem a Deus»
reflete com clareza os vossos sentimentos, as vossas aspirações, os vossos
ideais, que estão contidos no próprio nome com que vos adornastes «Juventude
Católica», isto é, Juventude crente, operante, exemplar e que, com ardor, busca
nas fontes da vida sobrenatural o alimento quotidiano para a sua própria
elevação espiritual e acção conquistadora.
2. Não ignorais, amados filhos e filhas, como, em todos os tempos,
o homem se encontrou exposto a graves perigos, a ponto de esquecer a sua origem
e o seu fim. Agora, a maior parte da Juventude de todos os países do mundo
procura em Deus luz de orientação, segurança de doutrina, paz de consciência,
justiça e Caridade difundidas em qualquer ordem e sector da convivência humana.
E porque foi testemunha de experiências a que nada valeram, ela se volta para o
Pai das Luzes com alma grande e confiante. Tal é a vossa escolha, o vosso
programa de vida e de apostolado, seguindo as pègadas daqueles que, nas
fileiras das vossas Associações, vos precederam no sinal da fé. «Deus Dominus,
et illuxit nobis» (Ps. 117,
27).
3. Agrada-Nos confirmar a Nossa paternal confiança nos Jóvens, em
cujas mãos está o futuro do mundo. Encorajados pela fé viva, pela fidelidade à
oração, com uma vida interior engrandecida pela comunhão com Jesus Eucarístico
«caminho, verdade, vida», os Jóvens saberão dar o seu bom testemunho e ser,
pelo seu exemplo, o canal que levará a tantas almas, tão afastadas de Deus, a
doutrina da vida que, com ânsia, elas esperam.
Estas foram palavras do
Papa que convocou o II Concílio do Vaticano.
O Cardeal Patriarca,
Cardeal Cerejeira, também nos dirigiu palavras que ainda hoje são importantes:
“não vos
bastará ser cristãos fervorosos; será preciso que sejais também cientificamente
competentes, tecnicamente capazes e profissionalmente peritos”. ( Cardeal Cerejeira).
Tudo
fazia prever que este encontro seria uma grande “ alavanca”, ao ritmo co Concílio
e do carisma da Acção Católica que era vigoroso até essa altura. Mas não! Foi o
“ canto do cisne” desse grande movimento laical católico. Pertenci e militei na
JEC ( Juventude Escolar Católica) até entrar na Universidade, dois anos depois
de ter participado no dito Grande Encontro da Juventude. Quando cheguei ao
ensino universitário, interessei-me pela JUC ( Juventude Universitária Católica).
Sol de pouca dura! “aquilo” tinha acabado de perder o seu carisma. Saí. Não era
o que procurava e precisava. A Acção Católica estava já num estertor de morte!
A
Acção Católica entrou em derrapagem e, finalmente… morreu. Tinha perdido o seu
carisma: preparar os jovens (e os menos jovens nos chamadas Ligas Católicas temáticas
por áreas profissionais) para serem cristãos no mundo, fermento da massa,
impregnando a sociedade dos valores do Evangelho. A Acção Católica procurava
que os cristãos fossem verdadeiros “ animadores cristãos da ordem temporal”.
O
Grande Encontro da Juventude, tão promissor na sua efectivação e realização,
foi contaminado. De morte.
Ficarei eternamente grato à Acção Católica pelo muito que me deu para
uma compreensão e acção de uma “ animação cristã da ordem temporal”, aliás o II
Concílio do Vaticano veio sublinhar esta perspectiva para o laicado. Ah! O II
Concílio do Vaticano não veio criar um ramo da Sociologia nem fundar uma “ nova
Igreja”!
Segui
esta Jornada Mundial da Juventude – Lisboa 23 com atenção e interesse. O que vai seguir-se,
é a minha grande questão. O que vi e ouvi na televisão ou o que li nos media,
deixa-me expectante. Ou foi tudo encenação, espectáculo brilhante? Cristo, “ o Caminho, a Verdade e a
Vida” passou mesmo? Foi Ele o centro real, objetivo, apresentado sem
subterfúgios ou ambiguidades? Por que O arrumaram em cave (?) metido em caixas
de plástico no final da Vigília? Ele, não deveria ser o centro do centro desta
Jornada?
Lembrei-me do mote do Grande Encontro da Juventude, Lisboa 1963:
«Os novos
escolhem Deus».
E hoje? Foi esta mensagem que foi
transmitida em Lisboa na JMJ, Lisboa 23?
Sim, se os jovens de
hoje não tomam para a sua vida o mote de primeiramente escolherem Deus, para
que serviu esta Jornada?
Não me posso calar.
Não posso deixar de desabafar a minha grande inquietação se as escolhas dos
jovens não passarem, na generalidade, com convicção, pela escolha de Deus para
a sua vida de “ reanimadores” cristãos da ordem temporal em todos os domínios
da vida.
SILERE NON POSSUM!
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