terça-feira, 15 de agosto de 2023

SILERE 50

 

  







           Mesmo nas noites escuras há sempre a Beleza a desafiar-nos.

      SILERE NON POSSUM

            (Não me posso calar – Sto Agostinho)

             Para destruir um povo é preciso destruir as suas raízes.” (Alexandre Soljenitsyne)

 

                     Carta aos meus amigos – nº 50           

                             

 

                              BRAGA , 10 - Agosto - 2023

 

 

 

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PAX

   Agora, que acabou a Jornada Mundial da Juventude , Lisboa 23, que teve um impacto mundial brutal, com a presença de jovens de  todo o mundo, veio-me à memória o « GRANDE ENCONTRO DA JUVENTUDE», em que participei, realizado em Lisboa, nos dias 20 e 21 de Abril de 1963 e que reuniu entre 50 e 60 mil jovens de todo o país . Recordo o enorme entusiasmo da juventude católica que encheu as ruas de Lisboa e vários estádios de futebol da capital.

  Recordo que meses antes , Outubro, o Papa João XXIII, tinha aberto a II Concílio do Vaticano e que vi em transmissão directa ( a preto e branco!).

   Lembro a mensagem dos Bispos portugueses e que aqui deixo um extracto:

https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhf-yNoQ66hhyM14nM1Ffb-lOVyN2RJOKQgQu4xvbQWv0kRNowxaRC_eoNAjUawWD9Ubcc1JxPp9j1_VgJbyUgCs0vkGdmIeuosnV-C7SrtTrST87qcpqYM56jY_FlQ1REn2-RUNqBH76afhieIJJjrh79fMiTWDLztOYTUpmGRqJN02ICtXIt0taU=w640-h440

« Pára um pouco e pensa no compromisso que tomas ao participar no Grande Encontro da Juventude»

  Fui relembrar a Radiomensagem que o Papa de então enviou e escutada em silêncio por aqueles milhares de jovens vindos dos quatro cantos do país e de que transcrevo algumas frases que então  nos dirigiu:

1.Sentímo-Nos felizes de saudar-vos com paternal afecto e grande comprazimento pelo interesse que demonstrais em apro­fundar o estudo da doutrina social da Igreja e pela solicitude em fazê-la penetrar, como fermento vivificante, nas estruturas da sociedade.

O tema proposto nesta circunstância «Os Jóvens escolhem a Deus» reflete com clareza os vossos sentimentos, as vossas aspirações, os vossos ideais, que estão contidos no próprio nome com que vos adornastes «Juventude Católica», isto é, Juventude crente, operante, exemplar e que, com ardor, busca nas fontes da vida sobrenatural o alimento quotidiano para a sua própria elevação espiritual e acção conquistadora.

2. Não ignorais, amados filhos e filhas, como, em todos os tempos, o homem se encontrou exposto a graves perigos, a ponto de esquecer a sua origem e o seu fim. Agora, a maior parte da Juventude de todos os países do mundo procura em Deus luz de orientação, segurança de doutrina, paz de consciência, justiça e Caridade difundidas em qualquer ordem e sector da convivência humana. E porque foi testemunha de experiências a que nada valeram, ela se volta para o Pai das Luzes com alma grande e confiante. Tal é a vossa escolha, o vosso programa de vida e de apostolado, seguindo as pègadas daqueles que, nas fileiras das vossas Associações, vos precederam no sinal da fé. «Deus Dominus, et illuxit nobis» (Ps. 117, 27).

3. Agrada-Nos confirmar a Nossa paternal confiança nos Jóvens, em cujas mãos está o futuro do mundo. Encorajados pela fé viva, pela fidelidade à oração, com uma vida interior engrandecida pela comunhão com Jesus Eucarístico «caminho, verdade, vida», os Jóvens saberão dar o seu bom testemunho e ser, pelo seu exemplo, o canal que levará a tantas almas, tão afas­tadas de Deus, a doutrina da vida que, com ânsia, elas esperam.

   Estas foram palavras do Papa que convocou o II Concílio do Vaticano.

   O Cardeal Patriarca, Cardeal Cerejeira, também nos dirigiu palavras que ainda hoje são importantes:

 “não vos bastará ser cristãos fervorosos; será preciso que sejais também cientificamente competentes, tecnicamente capazes e profissionalmente peritos”. ( Cardeal Cerejeira).

  Tudo fazia prever que este encontro seria uma grande “ alavanca”, ao ritmo co Concílio e do carisma da Acção Católica que era vigoroso até essa altura. Mas não! Foi o “ canto do cisne” desse grande movimento laical católico. Pertenci e militei na JEC ( Juventude Escolar Católica) até entrar na Universidade, dois anos depois de ter participado no dito Grande Encontro da Juventude. Quando cheguei ao ensino universitário, interessei-me pela JUC ( Juventude Universitária Católica). Sol de pouca dura! “aquilo” tinha acabado de perder o seu carisma. Saí. Não era o que procurava e precisava. A Acção Católica estava já num estertor de morte!

   A Acção Católica entrou em derrapagem e, finalmente… morreu. Tinha perdido o seu carisma: preparar os jovens (e os menos jovens nos chamadas Ligas Católicas temáticas por áreas profissionais) para serem cristãos no mundo, fermento da massa, impregnando a sociedade dos valores do Evangelho. A Acção Católica procurava que os cristãos fossem verdadeiros “ animadores cristãos da ordem  temporal”.

   O Grande Encontro da Juventude, tão promissor na sua efectivação e realização, foi contaminado. De morte.

   Ficarei eternamente grato à Acção Católica pelo muito que me deu para uma compreensão  e acção de uma “  animação cristã da ordem temporal”, aliás o II Concílio do Vaticano veio sublinhar esta perspectiva para o laicado. Ah! O II Concílio do Vaticano não veio criar um ramo da Sociologia nem fundar uma “ nova Igreja”!

   Segui esta Jornada Mundial da Juventude – Lisboa 23  com atenção e interesse. O que vai seguir-se, é a minha grande questão. O que vi e ouvi na televisão ou o que li nos media, deixa-me expectante. Ou foi tudo encenação, espectáculo  brilhante? Cristo, “ o Caminho, a Verdade e a Vida” passou mesmo? Foi Ele o centro real, objetivo, apresentado sem subterfúgios ou ambiguidades? Por que O arrumaram em cave (?) metido em caixas de plástico no final da Vigília? Ele, não deveria ser o centro do centro desta Jornada?

   Lembrei-me do mote do Grande Encontro da Juventude, Lisboa 1963:

                              «Os novos escolhem Deus».

    E hoje? Foi esta mensagem que foi transmitida em Lisboa na JMJ, Lisboa 23?

   Sim, se os jovens de hoje não tomam para a sua vida o mote de primeiramente escolherem Deus, para que serviu esta Jornada?

   Não me posso calar. Não posso deixar de desabafar a minha grande inquietação se as escolhas dos jovens não passarem, na generalidade, com convicção, pela escolha de Deus para a sua vida de “ reanimadores” cristãos da ordem temporal em todos os domínios da vida.

SILERE NON POSSUM!

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