SILERE NON POSSUM
(Não me posso
calar – Sto Agostinho)
“Para destruir um povo é preciso destruir as suas
raízes.” (Alexandre
Soljenitsyne)
Carta aos meus amigos – nº 49
BRAGA , 3 - Agosto - 2023
+
PAX
«TODA A FORMA DE ARTE É, A SEU MODO,UM CAMINHO DE ACESSO À
REALIDADE MAIS PROFUNDA DO HOMEM E DO MUNDO» (S. João Paulo II, Magno,
in Carta aos Artistas, Maio de 1999)
O Papa S. João Paulo II, Magno, em
preparação do Jubileu do ano 2000, escreveu aos Artistas uma Carta notável e
que , creio, já entrou no esquecimento. E é lamentável! A proposta do Papa
apresentada em 4 de Abril de 1999, termina com um repto que aqui deixo:
« … que a vossa arte contribua para a
consolidação duma beleza autêntica que, como reflexo do Espírito de Deus,
transfigure a matéria, abrindo os ânimos ao sentimento do eterno!».
Nas últimas décadas, temos
assistido, no chamado campo das artes, a uma promoção da arte bruta, grotesca,
disforme, caótica e desarmónica. Basta ver algumas “esculturas” que enchem
tantas praças e ruas das nossas vilas e cidades. Muitas não passam de um
amontoado de pedras, verdadeiros «caos de blocos» como se diz em Geologia ou de
pedaços de ferro emaranhados e retorcidos. Quanto à pintura, lembro-me de ter
visto uma tela, exposta numa “grande” exposição, pintada exclusivamente de
branco. Ou de textos, ditos poéticos, de leitura arrevesada e nulos de ideias e
beleza. E, caros Amigos-leitores, vi, no Palácio Foz (Lisboa), antigo SNI, em
meados da década de 60 do século passado, uma escultura que era o lixo ( cotão,
fios soltos, papeis amarrotados e outros materiais idênticos recolhidos ,
talvez, depois de varrer para o canto da sala, o lixo que restou de uma festa!).
Não pense o Amigo-leitor que
sou adepto e admirador de réplicas de modos artísticos do passado. Estes
tiveram o seu tempo que passou. São aldrabices que vemos, infelizmente, em
muitos locais como igrejas em que “ abarrocam” ambões ou altares! O nosso tempo
tem grandes artistas que exprimem em linguagem contemporânea inovadora, belas
obras de arte. Recordo a nossa saudosa Maria Amélia Carvalheira ou Carlos Vizeu
como grandes ceramistas. Notáveis. Vem-me à memória algumas esculturas ,
modernas, de André Charlier. Extasio-me, por exemplo, com a igreja conventual
do mosteiro cisterciense de Novy Dvur ( Chéquia) na sua linguagem extremamente
despojada e reduzida ao essencial que nos convida e convoca para a oração. No
campo da Música, não posso nem quero, esquecer Manuel Faria, Carrapatoso,
Hermenegildo Faria, entre outros portugueses contemporâneos que atingem níveis
de perfeição na modernidade. E Arv Prat ou Olivier Messian não podem ser
esquecidos!
Todo este extenso preâmbulo vem a propósito de
um grande artista bracarense e de nível nacional: Domingos Araújo. Discreto.
Humilde. Perfeito na sua arte. Estou a referir-me ao maior (não estou a
exagerar!) pontilhista português vivo. Ver a suas obras, sublimes em pontilhismo
,é ser impelido a, quer se queira quer não, contemplar obras de arte que, pela
sua perfeição, sentido de fidelidade e reflexo da alma do autor nos remetem
para a Beleza incriada que as suas mãos ( e olhos!) trabalham com a alma cheia
do Belo que é Deus!
Traços firmes e suaves.
Sombras e perpectivas esplêndidas. Mais do que parecerem fotografias, os seus trabalhos espelham visões
metafísicas da física dos materiais que representam!
Como nos disse S. João Paulo
II, Magno, na citada Carta aos Artistas:
«A beleza é chave do mistério e apelo ao
transcendente. É convite a saborear a vida e a sonhar o futuro. Por isso, a
beleza das coisas criadas não pode saciar, e suscita aquela arcana saudade de
Deus que enamorado do belo, como Agostinho, soube interpretar com expressões
incomparáveis: “ Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos
amei!” ( S. JPII , Magno, o.c. )
Sim, Domingos Araújo, abre-nos
portas para contemplarmos “ A beleza (como) chave do mistério e apelo ao
transcendente.”
… Por isso, o nosso tempo,
indiferente a Deus, repele e cultiva o disforme, o feio e caótico que nos
afastam do Criador.
Domingos Araújo segue, e bem,
muito bem, a “ VIA PULCHRITUDINIS”, o caminho da Beleza.
Como nos disse o grande Doutor
da Igreja, Bento XVI dirigindo-se aos Representantes da Cultura ( Lisboa 12 de
Maio de 2010):
«Fazei
coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas lugares de beleza.» É
este o caminho que Domingos Araújo segue!
Posso ficar calado perante as
obras de arte com que este artífice ( que faz arte) nos oferece à contemplação?
Citando, mais uma vez, S. João
Paulo II Magno, na Carta aos Artistas:
«Diante da sacralidade da vida e do ser humano,
diante das maravilhas do universo, o assombro é a única atitude condigna»
Com a sua obra de artista, Domingos
Araújo deixa-nos assombrados perante as belezas que o Homem foi produzindo e
reproduzindo através dos tempos!
Não, não me posso calar!
SILERE NON POSSUM
Carlos Aguiar Gomes
P.S:
Está patente na Torre do Museu Pio XII uma
mostra dos trabalhos de Domingos Araújo até Setembro.
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