terça-feira, 15 de agosto de 2023

SILERE 49

 

       


     SILERE NON POSSUM

            (Não me posso calar – Sto Agostinho)

             Para destruir um povo é preciso destruir as suas raízes.” (Alexandre Soljenitsyne)

 

                    

                  Carta aos meus amigos – nº 49           

                             

 

                             BRAGA , 3 - Agosto - 2023

 

 

 

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PAX

 

«TODA A FORMA DE ARTE É, A SEU MODO,UM CAMINHO DE ACESSO À REALIDADE MAIS PROFUNDA DO HOMEM E DO MUNDO» (S. João Paulo II, Magno, in Carta aos Artistas, Maio de 1999)

 

   O Papa S. João Paulo II, Magno, em preparação do Jubileu do ano 2000, escreveu aos Artistas uma Carta notável e que , creio, já entrou no esquecimento. E é lamentável! A proposta do Papa apresentada em 4 de Abril de 1999, termina com um repto que aqui deixo:

« … que a vossa arte contribua para a consolidação duma beleza autêntica que, como reflexo do Espírito de Deus, transfigure a matéria, abrindo os ânimos ao sentimento do eterno!».

  Nas últimas décadas, temos assistido, no chamado campo das artes, a uma promoção da arte bruta, grotesca, disforme, caótica e desarmónica. Basta ver algumas “esculturas” que enchem tantas praças e ruas das nossas vilas e cidades. Muitas não passam de um amontoado de pedras, verdadeiros «caos de blocos» como se diz em Geologia ou de pedaços de ferro emaranhados e retorcidos. Quanto à pintura, lembro-me de ter visto uma tela, exposta numa “grande” exposição, pintada exclusivamente de branco. Ou de textos, ditos poéticos, de leitura arrevesada e nulos de ideias e beleza. E, caros Amigos-leitores, vi, no Palácio Foz (Lisboa), antigo SNI, em meados da década de 60 do século passado, uma escultura que era o lixo ( cotão, fios soltos, papeis amarrotados e outros materiais idênticos recolhidos , talvez, depois de varrer para o canto da sala, o lixo que restou de uma festa!).

  Não pense o Amigo-leitor que sou adepto e admirador de réplicas de modos artísticos do passado. Estes tiveram o seu tempo que passou. São aldrabices que vemos, infelizmente, em muitos locais como igrejas em que “ abarrocam” ambões ou altares! O nosso tempo tem grandes artistas que exprimem em linguagem contemporânea inovadora, belas obras de arte. Recordo a nossa saudosa Maria Amélia Carvalheira ou Carlos Vizeu como grandes ceramistas. Notáveis. Vem-me à memória algumas esculturas , modernas, de André Charlier. Extasio-me, por exemplo, com a igreja conventual do mosteiro cisterciense de Novy Dvur ( Chéquia) na sua linguagem extremamente despojada e reduzida ao essencial que nos convida e convoca para a oração. No campo da Música, não posso nem quero, esquecer Manuel Faria, Carrapatoso, Hermenegildo Faria, entre outros portugueses contemporâneos que atingem níveis de perfeição na modernidade. E Arv Prat ou Olivier Messian não podem ser esquecidos!

   Todo este extenso preâmbulo vem a propósito de um grande artista bracarense e de nível nacional: Domingos Araújo. Discreto. Humilde. Perfeito na sua arte. Estou a referir-me ao maior (não estou a exagerar!) pontilhista português vivo. Ver a suas obras, sublimes em pontilhismo ,é ser impelido a, quer se queira quer não, contemplar obras de arte que, pela sua perfeição, sentido de fidelidade e reflexo da alma do autor nos remetem para a Beleza incriada que as suas mãos ( e olhos!) trabalham com a alma cheia do Belo que é Deus!

   Traços firmes e suaves. Sombras e perpectivas esplêndidas. Mais do que parecerem  fotografias, os seus trabalhos espelham visões metafísicas da física dos materiais que representam!

  Como nos disse S. João Paulo II, Magno, na citada Carta aos Artistas:

«A beleza é chave do mistério e apelo ao transcendente. É convite a saborear a vida e a sonhar o futuro. Por isso, a beleza das coisas criadas não pode saciar, e suscita aquela arcana saudade de Deus que enamorado do belo, como Agostinho, soube interpretar com expressões incomparáveis: “ Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei!” ( S. JPII , Magno, o.c. )

  Sim, Domingos Araújo, abre-nos portas para contemplarmos “ A beleza (como) chave do mistério e apelo ao transcendente.”

   … Por isso, o nosso tempo, indiferente a Deus, repele e cultiva o disforme, o feio e caótico que nos afastam do Criador.

   Domingos Araújo segue, e bem, muito bem, a “ VIA PULCHRITUDINIS”, o caminho da Beleza.

   Como nos disse o grande Doutor da Igreja, Bento XVI dirigindo-se aos Representantes da Cultura ( Lisboa 12 de Maio de 2010):

    «Fazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas lugares de beleza.» É este o caminho que Domingos Araújo segue!

   Posso ficar calado perante as obras de arte com que este artífice ( que faz arte) nos oferece à contemplação?

   Citando, mais uma vez, S. João Paulo II Magno, na Carta aos Artistas:

«Diante da sacralidade da vida e do ser humano, diante das maravilhas do universo, o assombro é a única atitude condigna»

   Com a sua obra de artista, Domingos Araújo deixa-nos assombrados perante as belezas que o Homem foi produzindo e reproduzindo através dos tempos!

    Não, não me  posso calar!

    SILERE NON POSSUM

 

Carlos Aguiar Gomes

 

P.S:

 

Está patente na Torre do Museu Pio XII uma mostra dos trabalhos de Domingos Araújo até Setembro. 

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