"As necessidades são gigantescas" diz Arcebispo de Juba sobre o apoio aos que fogem da guerra no Sudão
“As necessidades são gigantescas” diz Arcebispo de Juba sobre o apoio aos que fogem da guerra no Sudão
A guerra no Sudão está a gerar uma grave crise humanitária em África. Milhares de pessoas estão em fuga e procuram acolhimento em países da região. Um deles é o Sudão do Sul. Em entrevista à Agência Ecclesia/Fundação AIS, D. Stephen Ameyu, responsável pela arquidiocese de Juba e desde sábado, 30 de Setembro, um dos novos 21 cardeais da Igreja Católica, fala em milhares de pessoas que estão sem nada, e garante ainda que no Sudão, por causa da guerra, nem as Igrejas têm sido poupadas. “Todas as igrejas em Cartum sofreram danos, todas as paróquias…”
O conflito armado no Sudão arrisca-se a ser mais uma guerra esquecida em África apesar das consequências dramáticas a nível humanitário que se estão a verificar na região, com milhares de pessoas a procurarem refúgio nos países vizinhos, fugindo dos combates muito acesos desde 15 de Abril entre o exército sudanês e as Forças de Apoio Rápido (RSF), um grupo paramilitar.
D. Syephen Ameyu Mulla, 59 anos, Arcebispo de Juba, e desde sábado, 30 de Setembro, Cardeal da Igreja Católica, diz que o seu país, o Sudão do Sul, se tornou por estes dias um porto de abrigo para estes refugiados, mas alerta, em declarações à Agência Ecclesia/Fundação AIS , que “as necessidades são gigantescas” e que é urgente o apoio de organizações internacionais.
O prelado pede que estas organizações “venham em ajuda destas pessoas deslocadas, que não têm comida, não têm água, não têm tendas nem as coisas básicas. Deixaram tudo para trás, fugindo pelas suas vidas”. Muitos destes refugiados estão em Juba, onde “estão a ser instalados campos”, esclarece o Cardeal. A fuga das populações é generalizada.
“Mesmo alguns sul-sudaneses que tinham permanecido no Norte estão a voltar ao Sudão do Sul, para encontrar refúgio. Estão a partilhar a vida, juntamente com os seus irmãos no Sudão do Sul, não fazemos diferença entre quem é do Norte e do Sul, deixamos as pessoas entrar, o governo do Sudão do Sul também tem cooperado, desde o início, afirmando que todas as pessoas devem ser acolhidas, abrindo as fronteiras.”, afirma D. Syephen Ameyu Mulla.
A GUERRA COMO GRANDE AMEAÇA
O Arcebispo fala do risco enorme para a estabilidade regional e para as populações, caso o conflito armado no Sudão ultrapasse as fronteiras e venha a alastrar para os países da região. D. Stephen diz mesmo, em jeito de alerta, que “a guerra é contagiosa”. “Esperamos que se possa conter esta guerra, dentro do Sudão, porque se o conflito se espalhar para o nosso país, vai haver um segundo deslocamento interno de pessoas”.
Por isso, os organismos regionais e a União Africana estão a dar o seu melhor para que as duas partes entrem em negociações e assinem a paz. Actualmente o conflito no Sudão – uma dramática luta pelo poder entre dois generais, Abdel Fattah al-Burhan, o actual presidente, que tem o exército sob as suas ordens, e Mohammed Hamdan Daglo, o então vice-presidente, também conhecido por Hemedti, e que controla a RSF, as Forças de Apoio Rápido – está circunscrito na região da capital, Cartum, onde se têm travado violentos combates que não têm poupado sequer as estruturas da Igreja.
“Muitas das nossas igrejas foram bombardeadas, todas as igrejas em Cartum sofreram danos, todas as paróquias”, disse o responsável da Arquidiocese de Juba nestas declarações à Agência Ecclesia/Fundação AIS. O Sudão do Sul está a ser um dos países que mais refugiados tem recebido, mas não é o único.
O mesmo se passa, por exemplo, com a Etiópia, o Egipto, a República Centro-Africana e o Chade. Em todos estes países o cenário é idêntico: “As pessoas deslocadas têm muitas necessidades”, explica o prelado. Além do fluxo de refugiados, há ainda o temor de que a guerra possa alastrar também para estes países vizinhos do Sudão, nomeadamente o próprio Sudão do Sul. “Quem sabe? – diz D. Stephen Ameyu. “A guerra pode alastrar para o Chade, para outros países, mas rezo e espero que as pessoas tenham bom senso e se sentem para negociar a paz”, acrescenta.
ECOS DA VISITA DO PAPA
Para o jovem Cardeal, a visita do Santo Padre ao Sudão do Sul, entre os dias 3 a 5 de Fevereiro deste ano, foi um marco não só na vida da Igreja mas no próprio país. “Foi um abrir de olhos para que a comunidade internacional conhecesse o que estava a acontecer dentro do Sudão do Sul. Não se pode saber as coisas de fora, aprendemos desde dentro. Por isso, foi uma abertura, da nossa parte, para todo o mundo, permitindo que este compreendesse que o Sudão do Sul já é uma nação, também capaz de receber o Santo Padre”, afirmou. Para D. Stephen Ameyu Mulla, a visita foi também um marco por ter decorrido num ambiente absolutamente pacífico, sem violência.
“As pessoas pensaram que haveria confrontos, durante a visita, mas não, foi muito pacífico. Agradeço a todos os que estiveram envolvidos e também ao Santo Padre, por ter insistido em ir ao Sudão do Sul”, disse, acrescentando que o facto de Francisco ter sido acompanhado por dois outros líderes religiosos, o arcebispo Justin Welby e pastor Iain Greenshields, permitiu também cimentar as relações entre as três Igrejas, a católica, anglicana e presbiteriana. “A nossa relação com as várias denominações sempre foi muito boa, por isso a visita do Santo Padre cimentou essas relações.”
Boas relações que são sempre importantes, ou mesmo fundamentais, quando se fala em paz, em negociações, processo que está a decorrer em Roma com a comunidade de Santo Egídio. A construção da paz é quase sempre um caminho difícil e implica muitas vezes o diálogo inter-religioso. Mas, para o novo cardeal da Igreja Católica, não há alternativa quando se tem de lidar com grupos fundamentalistas, com organizações terroristas.
“O diálogo entre religiões sempre ajudou as pessoas a encontrar-se, a ver as coisas que temos em comum e que podemos partilhar, o que nos pode unir. O papel do diálogo inter-religioso no Sudão e no Sudão do Sul é muito importante, ainda hoje, porque persistem grupos fundamentalistas, em particular no Sudão, que não estão dispostos a ceder facilmente, por pensarem que a guerra é a forma de resolver os problemas”, alertou.
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