«Aquilo de que mais precisamos neste momento da
história é de homens que, por meio de uma fé iluminada e vivida, tornem Deus
credível neste mundo. O testemunho negativo de cristãos que falavam de Deus e
viviam contra Ele ensombrou a imagem de Deus e abriu a porta à incredulidade.
Precisamos de homens que mantenham o olhar voltado para Deus e aí aprendam a
verdadeira humanidade. (…) Só através de homens tocados por Deus, Deus pode
voltar para junto dos homens.»
(Joseph Ratzinger, Subiaco, 1 de Abril de 2005)
SILERE NON POSSUM
(Não me posso
calar – Sto Agostinho)
“Para destruir um povo é preciso destruir as suas
raízes.” (Alexandre
Soljenitsyne)
Carta aos meus
amigos – nº 57
BRAGA , 28 -
SETEMBRO - 2023
+
PAX
«Só através de homens tocados por Deus, Deus
pode voltar para junto dos homens.», assim se exprimiu o Cardeal Joseph
Ratzinger,depois Papa Bento XVI, com a clareza que lhe era intrínseca, sem
deixar dúvidas a ninguém. O Homem, sobre tudo o Homem das geografias da cultura
da morte, o Ocidente – o “ lugar” onde o Sol morre – “ matou “ Deus ,
afastou-se Dele. Nem quer ouvir falar que Ele existe. Não se deixa tocar por
Deus, não O ouve nem escuta. A sociedade da abundância tornou-se a sociedade anorética
de Deus.
A
propósito desta crise nunca vista na já longa história da humanidade, que se
sente, vê e ouve por todo o lado., um amigo enviou-me um “ livrinho” de um
santo do século V, que não conhecia e já li várias vezes tal é a força da
verdade que transmite. Estou a referir-me ao COMMONITORIUM de S. Vicente de
Lérins e que tem sido abusivamente citado mas adulterado por quem tinha a
obrigação de o citar correctamente. Por que é que S. Vicente de Lérins escreve
este seu pequeno-gigante trabalho, pois a sua explicação serve-me (nos) hoje “
como uma luva”, numa época de fortíssima perturbação na transmissão da Fé.
Cito, : « … Posta minha confiança no Senhor, desejo, pois, iniciar a obra
que me insta, cuja finalidade é colocar por escrito tudo o que nos foi
transmitido pelos nossos pais e que temos recebido em depósito…». Ora , S.
Vicente de Lérins, neste pequeníssimo apontamento, refere duas centralidades: “
… o que nos foi transmitido pelos nossos pais…” e “ …. temos recebido em depósito…”.
Isto é, receber, guardando sem alterar, o que foi transmitido pelos
antecessores na transmissão da Fé. Não deixa espaço para modificações ao sabor
dos tempos, das modas ou para tornar a “ depósito da Fé” simpático e adaptado
ao mundo ou, como hoje se diz, “ politicamente correcto”. E este Padre da Igreja , vai mais longe,
corajosamente, dizendo: “ Todo o cristão que queira desmascarar as intrigas
dos hereges que brotam ao nosso redor, as suas armadilhas e manter-se íntegro e
incólume numa fé incontaminada, deve, com a ajuda de Deus, apetrechar a sua fé de duas maneiras:
- com a autoridade da lei divina antes de tudo
- e com a Tradição ( nota do autor desta
Carta: não é conservadorismo!) da Igreja Católica.”
Como é actual o pensamento contido nesta pequena
obra de S. Vicente de Lérins, Padre da Igreja!
Quando grandes e imutáveis leis da Igreja,
que remontam ao seu Fundador, Nosso Senhor Jesus Cristo, estão sistematicamente
a ser alteradas, como estamos a assistir hoje um pouco por todo o lado, creio
que nos reconforta “ regressar” aos Padres da Igreja como S. Vicente de Lérins!
Caros Amigos-leitores, já se deram conta de como se estão a difundir erros
doutrinais dentro de alguns sectores da Igreja? … Até há os querem alterar o
Catecismo da Igreja Católica e interpretar as Sagradas Escrituras ao seu modo!
Depois do II Concílio do Vaticano, falou-se muito da necessidade de “
refontalizar” a Igreja. Ora, talvez este desejo seja mais actual do que nunca:
regressar às fontes, a Sagrada Escritura e a Tradição viva que chegou até nós.
Por isso faz bem à nossa saúde espiritual reler os Padres da Igreja. S. Tomás
de Aquino, S. Bernardo, S. Vicente de Lérins e tantos outros como Sto Agostinho
ou Sto Ambrósio ou S. Gregório Magno. Face aos erros que se já espalharam e “
viralizaram” larguíssimos sectores da Igreja, temos de ser firmes amando o
pecador e combatendo tenazmente, o pecado que nos é apresentado como fazendo
parte do nosso património ( basta não andar muito distraído!).
Aos que estavam presentes no século V, tempo de S. Vicente de Lérins, e
que andavam espalhando os erros, aquele Padre da Igreja disse: “ Charlatães
e sedutores , revolucionam famílias inteiras , ensinando o que não convém, com
o fim de adquirir uma vil ganância…” Como hoje estas palavras são actuais!
Abundam os charlatães da Fé , mesmo e sobretudo intramuros. Estamos expostos
aos erros. Queremos, também nós, abraçá-los? O “ depósito da Fé” está
contaminado e estamos ameaçados de sermos contaminados. A pandemia do erro
grassa por todo o mundo, salvo raras excepções que são perseguidas por quem tem
a obrigação de estar vigilante e actuante.
E
S. Vicente de Lérins , afirma:
«E certamente que é uma grande
prova ver um homem sumamente amado e respeitado , que de repente se põe a
introduzir ocultamente erros perniciosos. Tanto mais quanto que não existe
possibilidade de descobrir imediatamente esse erro…» ( S. Vicente de Lérins). E estamos cheios desses homens , muitos deles em posições
chave . Estaremos atentos e vigilantes? Sabemos para onde nos estão a conduzir?
Como posso calar perante os erros que me circundam?
SILERE NON POSSUM
Carlos Aguiar Gomes
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