Resumo do Sermão da Nossa Senhora de Ó, do Padre Antônio Vieira (1640)
Daniel Meirelles
O Padre Antônio Vieira inicia o sermão discorrendo sobre a perfeição do círculo
e sua relação com a eternidade. O círculo (O), sem início nem fim, como símbolo
recorrente na Igreja e no mundo, abrangeria tanto a natureza, como Deus. Seria também
de uma forma circular o ventre virgem da Virgem Maria, um terceiro imenssísimo
círculo. Nesse in utero se daria a conjunção da imensidade de Deus na circuferência
carnal do corpo de Cristo. A Virgem Maria abrangeria, tanto o criador, como sua
criação, no momento da conceição, uma vez que nela, em seu In utero, haveria essa
mais significativa representação, o Filho de Deus. Cristo, em sua completude,
compreenderia a imensidade de Deus, já que seu exterior corpóreo seria a própria
circufêrencia da divindade. Em suma, enquanto filho da Virgem Maria, Cristo seria a
letra definitiva dos tempos, o O, e, enquanto deus, seria o verbo, a conjunção de toda
essência divina. Isto é, a partir da Virgem, Cristo fez numa letra (O) a mesma essência
que fez Deus uma palavra (verbo). A manifestação física da divindade.
Ao fim e ao cabo, na imenssísima mensuração dos desejos da Senhora de O, se
vê, em Vieira, a formação da Majestade humanada. Pois, os dejesos exponenciais da
Senhora, refletidos no desejado da mesma, seriam a dilatação do desejo divino no
tempo. Assim sendo, Maria, deste a conceição, e Cristo, ainda in utero, encaixariam os
infindáveis desejos na gestação “infinitando” o tempo, da mesma maneira que Cristo,
enquanto homem no mudo, circuferenciaria em si a vastidão do infindável círculo que é
Deus. Tais desejos, por sua vez, fariam-se valer pela presença e ausência de Cristo à
Imaculada conceição: presença essa que seria a internalização de Deus na Senhora, visto
que carregava Seu filho ainda em seu ventre e sentia Dele a presença de seu próprio
Deus; e a ausência, esta incapacidade de ver diante Dele para poder vê-Lo e aproveitá-
Lo.
Maria, ao desejar ter consigo ao que já tinha em si, aproximou-se cada vez
mais de Deus e, doravante, também de Deus aproximou não só seu filho como toda sua
criação numa mesma promessa existêncial. Nós temos Deus em nós, e assim sentimos
sua presença, porém devemos ansiar pelo encontro com Deus para vivermos em sua
presença e Ele viver a nossa. E isso se daria precisamente pela Virgem Maria.
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