19 OUT 1984 | Padre Jerzy Popiełuszko é sequestrado e assassinado pela polícia política
comunista polaca
Na noite de 19 de outubro de 1984, o padre Jerzy Popiełuszko, capelão da Solidarność (Solidariedade), foi sequestrado e brutalmente assassinado por agentes do Serviço de Segurança (Służba Bezpieczeństwa, SB) — a polícia política do regime comunista polaco. Tinha apenas 37 anos. O seu martírio tornou-se um símbolo da luta espiritual e moral contra a opressão totalitária, e um marco decisivo no enfraquecimento do regime comunista que cairia poucos anos depois.
:: Um sacerdote da verdade e da liberdade ::
Jerzy Popiełuszko nasceu em 1947, em Okopy, uma pequena aldeia do leste da Polónia. Ordenado sacerdote em 1972, destacou-se pelo seu compromisso pastoral junto dos operários e perseguidos políticos, especialmente após a fundação do sindicato Solidarność em 1980 — um movimento operário independente que, inspirado pela Doutrina Social da Igreja e pelo Papa João Paulo II, desafiava o regime comunista.
Durante a Lei Marcial (1981–1983), quando o governo comunista reprimiu violentamente a oposição, Popiełuszko celebrava missas pela pátria (“Msze za Ojczyznę”) na igreja de São Estanislau Kostka, em Varsóvia. Nessas celebrações — que reuniam milhares de fiéis — o padre denunciava a mentira, o medo e a injustiça impostos pelo regime, sempre apelando à verdade, à coragem e à não-violência, citando as palavras de São Paulo:
“Não te deixes vencer pelo Mal, mas vence o Mal com o Bem.” (Rm 12,21)
O regime via-o como uma ameaça direta. A imprensa controlada pelo Partido atacava-o, chamando-o de “inimigo do Estado”, e os serviços secretos colocaram-no sob vigilância permanente.
:: O sequestro e assassinato ::
A 19 de outubro de 1984, após celebrar uma missa em Bydgoszcz, o padre Jerzy regressava a Varsóvia acompanhado pelo motorista, Waldemar Chrostowski. Durante o percurso, o carro foi interceptado por agentes do SB — Grzegorz Piotrowski, Waldemar Chmielewski e Leszek Pękala — que o sequestraram e espancaram brutalmente.
Chrostowski conseguiu escapar atirando-se do carro em movimento, mas Popiełuszko foi levado, torturado e, finalmente, assassinado com uma pancada na cabeça e jogado ao rio Vístula, preso por pedras e amarrado com cordas. O corpo foi encontrado dez dias depois, a 30 de outubro de 1984, perto de Włocławek.
A morte do padre causou comoção nacional e internacional. Milhares de polacos, desafiando o medo, compareceram ao funeral em Varsóvia — entre 400 000 e 1 000 000 de pessoas. O próprio Lech Wałęsa, líder do Solidarność, declarou:
“O padre Jerzy morreu, mas a sua fé e o seu exemplo não morrerão jamais.”
:: Reações e consequências ::
O assassinato de Popiełuszko expôs as entranhas do regime comunista. Mesmo entre os apoiantes do governo, muitos ficaram horrorizados. O julgamento dos três agentes e de um superior direto, realizado em 1985, confirmou a culpa dos executores, mas as responsabilidades políticas superiores foram encobertas. Ainda assim, o caso enfraqueceu profundamente a legitimidade moral do regime e deu novo fôlego à resistência pacífica liderada pela Igreja e pelo Solidarność.
Com o tempo, Popiełuszko tornou-se símbolo do martírio cristão moderno. Em 2010, o Papa Bento XVI beatificou-o como Beato Jerzy Popiełuszko, mártir da fé e da verdade, e o seu túmulo em Varsóvia é hoje local de peregrinação.
O assassinato do padre Jerzy Popiełuszko, a 19 de outubro de 1984, foi mais do que um crime político — foi o martírio de um sacerdote que ousou pregar a verdade num regime de mentira. O seu testemunho uniu fé e liberdade, coragem e perdão, mostrando que a força espiritual pode vencer a violência do poder.
O comunismo polaco caiu poucos anos depois, mas a memória de Popiełuszko permanece viva como sinal de que a verdade não se pode silenciar, e que o amor à pátria e a fidelidade a Deus podem triunfar até sobre o terror de um Estado totalitário.
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