quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

 Sudão | Uma Guerra Esquecida e a Perseguição aos Cristãos




Desde Abril de 2023, o Sudão mergulhou numa guerra civil sangrenta entre o exército oficial Sudanese Armed Forces (SAF) e a milícia paramilitar Rapid Support Forces (RSF). O conflito já provocou:
- Milhares de mortes civis — entre bombardeamentos, massacres e ataques indiscriminados.
- Deslocações forçadas massivas — o Sudão vive hoje “uma das maiores crises de deslocados internos do mundo”.
- Destruição de infraestruturas essenciais — hospitais, escolas, mercados, mas também locais de culto e habitações.
- Fome, doença, desespero — a guerra prolongada e a interrupção da agricultura e dos transportes agravam muito o sofrimento da população.

Apesar disso — e apesar da dimensão da tragédia — o conflito permanece “quase invisível” na grande maioria dos média mundiais. Por isso muitos sudaneses sentem‑se abandonados, sem voz nem apoio internacional digno desse nome.

:: ✝️ A comunidade cristã: alvo de perseguição, destruição e expulsão ::

A minoria cristã no Sudão — estimada em alguns milhões (embora constitua pequena percentagem da população total) — tem sofrido especialmente com o conflito. As acusações de perseguição religiosa, uso de igrejas como bases militares, destruição de templos, prisões arbitrárias e discriminação são constantes. Alguns dos relatos e factos mais graves:

- Igrejas são destruídas ou demolidas: por exemplo, uma igreja pentecostal em Khartoum Norte foi completamente demolida em Julho de 2025.

- Outros templos cristãos foram bombardeados pela RSF — em alguns ataques morreram fiéis e sacerdotes.

- Comunidades cristãs foram forçadas a abandonar cultos: por exemplo, em Dezembro de 2024 a RSF invadiu um culto de Natal numa igreja no Estado de Gezira, feriu dezenas e expulsou os fiéis.

- Pastores e fiéis têm sido presos, acusados de crimes falsos, torturados ou mortos — mesmo estando desalojados e sem meios de defesa.

- Igrejas são ocupadas como bases militares — transformadas em abrigos, depósitos de armas, ou quartéis improvisados, impedindo o culto e destruindo a comunidade.

Além da violência — física e institucional — os cristãos enfrentam uma crise humanitária geral onde comida, ajuda, abrigo e segurança são quase inexistentes. Alguns relatos falam de pessoas cristãs obrigadas a comer ração animal ou mesmo relva para sobreviver.

::⚠️ Por que esta crise está a passar quase despercebida? ::

Há várias razões pelas quais a tragédia no Sudão, e em particular a perseguição a cristãos, não recebe a atenção global que merecia:

- O conflito tem natureza complexa — guerra civil, múltiplas facções, interesses geopolíticos — o que dificulta a cobertura ampla e consistente.

- A fragmentação da comunicação, restrições de acesso, corte de comunicações e bloqueios tornam difícil verificar e relatar os abusos em tempo real.

- Muitos media preferem cobrir crises “mais mediatizadas”, ou com interesses geopolíticos ocidentais diretos, deixando o Sudão à margem.

- Minorias religiosas sofrem “dupla invisibilidade”: são vítimas de conflito generalizado + perseguição específica, mas não têm voz forte ou lobby internacional expressivo.

O resultado é que milhões de sudaneses — cristãos e não‑cristãos — vivem hoje sob terror, fome, deslocamento e medo, enquanto o mundo olha para o lado.

:: 🕊️ Resistência, fé e apelo por justiça e ajuda ::

Apesar da destruição e da dor, há quem permaneça firme:

- Muitos cristãos sudaneses continuam a rezar, a tentar manter encontros comunitários, a testemunhar a fé mesmo em campos de deslocados ou em abrigo precário.
- Pastores, líderes religiosos e organizações de base apelam à solidariedade internacional — justiça, visibilidade, ajuda humanitária e proteção.

Há quem acredite que Deus poderá usar esta provação para transformar o caos em esperança, e que a Igreja no Sudão sobreviverá mesmo entre escombros.

Mas, para que isso seja possível, é necessário que o mundo volte os olhos para o Sudão — não só como geopolítica, mas como tragédia humanitária urgente e crise de liberdade religiosa.

O que se passa no Sudão é um escândalo moral global: guerra, perseguição religiosa, genocídios, fome, deslocados — vidas humanas a serem destruídas. A comunidade cristã sudanesa representa apenas uma parte do sofrimento — mas um exemplo doloroso e emblemático de como as guerras modernas atingem não só corpos, mas almas, fé e dignidade.

Se nós que acreditamos em liberdade, dignidade humana, justiça e fé permanecermos calados, permitimos que milhões de vidas sejam apagadas no silêncio. Este é um chamado — não só de urgência material, mas espiritual, ético, humanitário. A divulgação, a oração, o apoio e a solidariedade — mesmo simbólicos — podem servir de ponte de esperança.

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