sexta-feira, 5 de outubro de 2018


                          PELOS ABANDONADOS ENTRE OS ABANDONADOS: os DALITS

                                     LEMBREMO-LOS NO 2º DOMINGO DE NOVEMBRO

 

Apesar da Constituição da União Indiana ter abolido o terrível e desumano sistema de castas, estas continuam a existir , de facto, na Índia do século XXI.

A casta mais inferior são os DALITS. Associam-se estas pessoas à fome, ao sofrimento, à exclusão social mais horrível, à miséria mais radical. São os intocáveis. Não têm direitos. Não têm nada. Resta-lhes estender a mão a uma sociedade que os exclui de tudo.

Os trabalhos mais violentos, sujos e desprotegidos são os únicos que podem exercer. São os dalits que limpam, sem qualquer protecção ou cuidados sanitários, os esgotos mais imundos, sobretudo da capital deste grande país. São muitos os dalits que morrem nestes trabalhos  sem qualquer protecção  deixando a família ainda mais pobre. São muitos os dalits que morrem ao longo do ano não se sabendo, na realidade, quantos, porque são excluídos, e, por isso, não entram nas estatísticas oficiais. Calcula-se que em cada cinco dias morre nos trabalhos em esgotos um dalit .

Sem direitos, os dalits são 60% dos cristãos da Índia e, por isso, além de rejeitados pela sociedade são igualmente vítimas de perseguição por motivos religiosos. Os dalits são duplamente marginalizados. Podemos, por isso, ficar indiferentes, quanto a esta espécie de racismo e de exclusão social ?

Na passada Quaresma, a Fundação Pontifícia AJUDA À IGREJA QUE SOFRE, lançou , a nível mundial, uma campanha de sensibilização da opinião pública sobre a situação dos dalits. « A defesa dos intocáveis é também uma prioridade para a Igreja na Índia” ( AIS). O Conselho Nacional de Igrejas da Índia e a Igreja Católica, resolveram que o segundo domingo de Novembro passaria a ser celebrado como o “ DIA DE LIBERTAÇÃO DOS DALITS”.

Esta proposta deve ser uma prioridade para todos nós. Que cada um de nós se sinta um dalit!

Assim, tomo a liberdade de convidar todas as comunidades cristãs a assinalarem esta data pelos dalits. Que ninguém nem nenhuma comunidade fique indiferente. Comecemos já a preparar esta celebração. Aliás, para quem é da Arquidiocese de Braga, pode de tomar esta iniciativa inscrevendo-a no ponto 1 do Programa Pastoral da Arquidiocese para 2018/19 ( “ Participação activa e criativa), sobretudo quando lá se refere : “ Há novos caminhos a seguir com ousadia e paciência”. Colaborar na libertação dos dalits é um caminho que não podemos ignorar. Ou, no ponto 6 titulado : “ Alargar os horizontes da missão”. Alargá-los sem medo, abraçando, sobretudo pessoas que estão nas margens das nossas preocupações e da nossa abundância. Não há fronteiras nem longe nem perto quando conhecemos situações que deveriam envergonhar toda a humanidade. Os dalits moram, ou melhor, devem morar na nossa casa, connosco e com eles partilharmos a nossa existência. Por cada dalit que morre afogado ou intoxicado nos esgotos da Índia uma parte de nós deveria sentir-se morrer na cumplicidade do nosso silêncio cobarde e burguês.

Carlos Aguiar Gomes

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