QUEM SE QUER UNIR PARA REFILAR?!...
Hoje é só mesmo para manter o ritmo semanal junto dos meus amigos leitores. Há dias em que o tempo não tem tempo e, sobretudo, a musa não inspira para falar de coisas sérias como convém no meu lugar e na minha missão. Faz greve, a tonta, mas talvez tenha lá as suas razões: festas a viver, compras a fazer, amigos a visitar, caça a espantar, canecos a esvaziar, impostos a pagar… Por isso, neste sem tempo e sem a companhia dessa caturra, é difícil fazer da cabeça uma cabeça académica, como diria Camilo. Mesmo assim, vou escrevinhar três lérias de protesto por entre alguns espirros, esse desporto de inverno:
1 - Há por este país fora, em grande e variado estilo de gostos e forma, uma turba de gente que a todos nos massacra e sacode. Continua a trabalhar para enfurecer a pacatez dos portugueses e de outros que tais. Mesmo que tenham o mérito de conseguir levantar este país, eles são causadores de muitos desgastes psicossomáticos, de neuroses, enxaquecas e de mais um sem número de patologias e coisas esquisitas que nos deixam atolambados. Em escolas, universidades, igrejas, fábricas, estações, apeadeiros do trem, aqui, acolá, mais além, por tantos lugares e em muitas partes do mundo, eles, com uma impertinência de mosca esfomeada, aí estão a complicar-nos a vida, a exigir um perfil de muito mais que santo. Sem dó nem piedade, sem emenda nem pedidos de desculpa, sem que ninguém os desembraveça, eles continuam a desassossegar as manhãs deste país, deixando muita gente assanhada com a vida, de semblante avinagrado e a vociferar palavras que os imberbes não devem ouvir e os de rugas, ouvindo, levam a mão à boca. Neste tempo em que, por masoquismo, já só podemos dizer macacos me mordam e já ninguém pode engolir sapos, atirar o pau ao gato, queixar-se dos bicos de papagaio, pegar o touro pelos cornos e outras coisas mais tidas como crimes de lesa-bicharada, em que até a porca (com licença!…, diz-se na minha terra) até a porca (com licença) torce o rabo, como é que pode esta turba continuar a sobressaltar o povo, estrondosa, inesperada e ruidosamente, deixando-o a esfregar os olhos e com vontade de fazer justiça por mãos próprias? Atirar-lhes com um traste, àquela hora e naquelas tremebundas circunstâncias, acho que seria um esforço hercúleo para tão leve e fraco resultado. Melhor seria, acho eu, melhor seria ritmar uns gritos com um colete de qualquer cor, lá, em Lisboa, aos portões daquela casa presentemente cheia de grandes afetos. Aí, sim, aí até teríamos os mídia, tantos como tantas as abelhas à volta do cortiço. Nem sei bem em que é que nos poderiam ajudar, mas que aquilo é uma violência lá isso é. Mesmo que São João diga que chegou a última hora para discernir pela Verdade (1Jo 2, 18), mesmo que São Paulo grite aos que dormem que é preciso acordar do sono e deixarem-se de tretas (Ef. 5, 14), mesmo que isso esteja certo, apetece-me, nesse instante de contrariada obediência, vociferar altamente e dizer como Jesus em Caná da Galileia: “A minha hora ainda não chegou” (Jo 2, 4). E interrogo-me como é que é possível haver gente que, teimosamente, continua a fabricar esses demónios, relógios, relógios despertadores, sejam eles puxados a corda, a pilhas ou lá por essas tecnologias malsonantes que fazem zunido nos tímpanos, moem o toutiço, fazem-nos madrugar e põem-nos a andar!?… Não acham que essa tortura quotidiana se deveria banir em 2019?… Até porque, sabemos todos, deitar tarde e cedo erguer, traz moléstia e faz envelhecer!…
2 – Há tempos, numa rotunda de uma das nossas cidades, de manhã, quase sem movimento, fui interpelado por um Senhor Polícia. Fez-me sinal para encostar, encostei. Pediu-me os documentos, apresentei-lhe os documentos. Examinando-os e dando volta ao carro, impeticou comigo, delicadamente: “O Senhor António viu quantas faixas tem esta rotunda e em que faixa vinha?”. Rerspondi: “Por acaso não, Senhor Polícia, vinha tão distraído em conversa com os meus botões que nem reparei”. “Não reparou, não viu? Como é possível não ter visto, Senhor António?” insistiu ele. Ouvi, guardei uns instantes de silêncio... e reafirmei: “Acredite, Senhor Polícia, peço desculpa, não vi. E esta coisa de não ver, é fácil de acontecer. O Senhor Polícia também tem os meus documentos na mão, leu o meu nome e já por duas vezes me chamou António e eu não sou António”. E olhando de novo e rápido, insiste: “Então não é António?”. “Não, Senhor Polícia, sou Antonino”. Olhou de novo, fixou-se mais atentamente no documento e sorriu. E foi assim, com um sorriso de ambos, que terminou este quiproquó rodoviário. Trocamos afavelmente os “bons dias”. Ele lá ficou a olhar se alguém rodava torto na rotunda, eu endireitei-me em direção ao meu destino!
Mas por que será que, aqui, no facebook, tanta gente me lê mal e chama nomes? Na Bíblia, sim, várias pessoas há que mudaram de nome. Isso significava que iriam assumir uma função especial, ou mudar de vida, de posição, de destino. Também, desde o século IV, há membros da vida consagrada que mudam de nome, para significar que abandonam o homem velho e aderem a uma vida nova em Cristo, e daquela forma. Jesus mudou o nome a Pedro, "o primeiro Papa" (cf. Jo 1, 42), mas parece que só a partir do século VI, com João I que tinha o nome de Minerva, um deus pagão, é que isso entrou na praxe. Entre nós, não só, mas o mais frequente, é os aficionados mudarem o nome aos árbitros de futebol quando eles estão no desempenho da sua especial e nobre missão de apitar!... A mim, embora precise de metanoia, de mudar de vida todos os dias, e não seja árbitro, também me mudam o nome. Chamam-me António, Antoninho, Antônio, Antónino e sei lá mais o quê... Interrogo-me, mas vou ficando feliz por não me chamarem coisa pior!…
3 – Por último, acho também que devemos exigir uma indemnização. Como sabem, os fazedores do acordo ortográfico deram-nos autoridade para, estando quase ou mesmo em jejum sobre essas matérias, sabendo pouco ou nada disso, deram-nos autoridade para escrever desse jeito e fazer valer a nossa douta opinião a convencer os portugueses a que também escrevam menos bem. É o que acontece. Muitos amigos do facebook provam-no à saciedade. De cada cavadela, mesmo à superfície, sai minhoca engravatada! E porque ninguém dá a mão à palmatória ou o braço a torcer, esse acordo ou desacordo, mesmo que se proteste, já não volta atrás, a “ciência” não deixa. Sobretudo por isso, e para não ser inutilmente teimoso, para não estar continuamente a contrariar o meu MacBookPro e não ter de declarar, em cada escrito, que sigo a ortografia antiga, já aderi, há muito muito tempo, à nova escrita, mas sempre com aquela atitude indigesta de maria-vai-com-as-outras!...
Macacos me mordam se não fiquei com vontade de pedir uma indemnização pelos traumas causados no meu antigamente, sem psicólogos por perto nem afetos que se vissem! Lembram-se, com certeza, os mais velhos, que, quando, na escola primária, se davam essas calinadas que agora são virtudes, quando alguém escrevia como agora está na moda, logo surgia a temida palmatória a exigir se esticasse a mão para umas quantas e pesadas reguadas!... Aí, sim, não se dava só a mão à palmatória, sentia-se o braço a torcer e as lágrimas a saltitar!... E se tais mimos não privilegiavam as duas mãos, ninguém manifestava a mínima vontade de cumprir o Evangelho, ninguém, ninguém oferecia a mão esquerda a quem tinha zurzido na direita (cf. Mt 5, 39). Mesmo à distância no tempo - isto não deve prescrever -, não será que, com fundamentada esperança, devamos bater o pé e exigir uma indemnização!?...
Se tiver vontade, ria-se e comece o ano de bom humor...
Antonino Dias
Portalegre-Castelo Branco, 04-01-2019.
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