domingo, 17 de março de 2019

A Igreja: TENDA DE CAMPANHA


                                A Igreja: TENDA DE CAMPANHA

 

“O lugar da luz é o candelabro… O fermento deve misturar-se na massa…A verdade deve ser agitada dos telhados… ( … ) . A virtude perdeu a força, moída pela varinha mágica do relativismo” ( João Aguiar Campos, in “ Transparências”, pág.85 )

 

Várias vezes, e muito oportunamente, o Papa Francisco, tem chamado a atenção, naquele seu jeito, de que a Igreja, todos os baptizados, devem assumir-se como cuidadores de uma “ Tenda de campanha”, num mundo dividido e em que há inúmeros feridos e moribundos nesta sociedade do “ descartável”. Muitos destes feridos estão de tal modo feridos que já nem se apercebem das feridas que os atingem nem se apercebem das causas das suas chagas. Uns mais e outros menos. Mas todos feridos ainda que o orgulho e a vanglória nos iludam e se nos afiguremos incólumes e não a precisarmos de conversão permanente, de curar permanentemente as nossas feridas.

Razão tinha S. João Paulo II, quando escreveu na Sua primeira Encíclica “ Redemptoris hominis” que “ o caminho da Igreja é o Homem”. O Homem todo e todos os homens. E o Homem ferido deve merecer toda a nossa solicitude e atenção activa e não atenção especulativa.

Indo um pouco mais atrás, à Constituição conciliar “ Gaudium et spes “, logo a primeira frase nos remete para esta urgência de estarmos activamente interventivos face ao mundo. E, particularmente, ao mundo dos sofredores. Todos os sofrimentos.

Para lá das fomes, das guerras e das injustiças de uma sociedade decadente e híper-individualista/, egoísta,/ egolátrica, exploradora, ladra ou adicta, há outros sofrimentos, outras feridas dolorosas, como o estraçalhamento da Família, demolida e desfigurada, proposta como modelo “ societal” inelutável. É assim, dizem-nos. E, por ser “ assim”, somos, para ser politicamente correctos “, complacentes, somos coagidos a arrecadar, escondendo-os bem, os valores estruturantes da nossa identidade. Mais grave: as grandes instituições de referência, dividem-se: uns sectores com tendências para irem na onda da contemporização, esquecendo os seus princípios fundamentais, enchem-se de “ misericórdia” para uns feridos mas de segregação e negação para outros feridos. Outros, os grandes discriminados e insultados, são escorraçados da “tenda”, estes não raras vezes, também, segregadores. Será que a “ tenda de campanha” só é para alguns iluminados?

Quando um ferido chega à “ Tenda de campanha” não se olha, ou não se deve olhar, a quem é. Não se lhe pergunta qual a sua orientação política ou sensibilidade religiosa. Trata-se. Mas trata-se cada ferido de acordo com a gravidade e amplitude dos seus ferimentos. Acompanha-se cada um. Aconselha-se. Dão-se recomendações para continuar a curar-se e para evitar voltar a ter os ferimentos que o levaram à “ tenda de campanha”. Avisam-se do modo como devem evitar voltar a serem feridos. Diz-se-lhes que devem continuar o seu tratamento e como o devem fazer. O objectivo dos cuidadores da “ tenda de campanha” é tratar, curar, não remediar, e fazer com que se lhes dêem os cuidados necessários, se apliquem os tratamentos exigidos, de acordo com um protocolo. E muito menos enganá-los, dizendo que o curativo não é exigente e nem sempre leva à cura da ferida. E quando tiver alta, o que pode demorar muito tempo, mesmo muito, ou, até nunca conseguirem curar-se, mas mandam as boas práticas que se lhes diga para não recaírem. Que evitem as ocasiões. Ninguém de bom senso lhes pode dizer: vai, estás a caminho da cura, mas podes continuar na mesma! O que os cuidadores devem dizer, muito claramente, é que não voltem às situações de risco. Contudo, há feridos que foram à “ tenda de campanha “ mas que não têm força suficiente, coragem nem acreditam profundamente de que não podem seguir o caminho que os levou aos ferimentos. Então, será que eles voltarão à “tenda de campanha”? Obviamente que se tropeçarem, os cuidadores da “ tenda de campanha” têm a obrigação de, com humildade e caridade, voltarem a iniciar o processo de tratamento. Demore o tempo que demorar. Sem prazo. Se os feridos quiserem. Assim os cuidadores da “ tenda de campanha” saibam o modo de agir correcto e não o que está na moda…

«Vai, os teus ferimentos foram curados! Não voltes ao mesmo!». Não voltes ao mesmo. Arrepia caminho.

… E sempre ter a “ tenda de campanha” acolhedora, confortável e de porta aberta para todos os feridos. Sempre com uma mão amiga que diga a verdade do ferimento, a dificuldade do tratamento e a necessidade de colaborarem com os cuidadores. Sobretudo com o “ Grande e único Cuidador “!

… E que os cuidadores tenham sempre a mão e o coração abertos para ajudar.

… E que os vizinhos não se armem em curandeiros, bruxos ou afins. As boas práticas mandam que se abstenham de comentários. Se puderem que ajudem, a pedido, dos cuidadores.

… E que os feridos que foram à “ tenda de campanha” saibam ao que vão.

A “ tenda de campanha” está de portas abertas … para quem lá quer entrar, acredita no tratamento e tem a intenção e vontade de seguir os cuidadores.

Para quem não crê no valor da “ tenda de campanha” e nos tratamentos de cura, para que critica a dita “ tenda”, remédios para a cura dos ferimentos e capacidade dos cuidadores? Ninguém é obrigado a socorre-se da “ tenda de campanha” se nem sequer tem consciência de que está ferido. Contudo, a “ tenda de campanha” está sempre aberta. Assim os cuidadores mostrem disponibilidade e sagacidade para cuidarem. E paciência.

 
Carlos Aguiar Gomes

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