A Igreja: TENDA DE CAMPANHA
“O lugar da luz é o candelabro… O
fermento deve misturar-se na massa…A verdade deve ser agitada dos telhados… ( …
) . A virtude perdeu a força, moída pela varinha mágica do relativismo” ( João
Aguiar Campos, in “ Transparências”, pág.85 )
Várias vezes, e muito
oportunamente, o Papa Francisco, tem chamado a atenção, naquele seu jeito, de
que a Igreja, todos os baptizados, devem assumir-se como cuidadores de uma “
Tenda de campanha”, num mundo dividido e em que há inúmeros feridos e
moribundos nesta sociedade do “ descartável”. Muitos destes feridos estão de
tal modo feridos que já nem se apercebem das feridas que os atingem nem se
apercebem das causas das suas chagas. Uns mais e outros menos. Mas todos
feridos ainda que o orgulho e a vanglória nos iludam e se nos afiguremos
incólumes e não a precisarmos de conversão permanente, de curar permanentemente
as nossas feridas.
Razão tinha S. João Paulo II,
quando escreveu na Sua primeira Encíclica “ Redemptoris hominis” que “ o
caminho da Igreja é o Homem”. O Homem todo e todos os homens. E o Homem ferido
deve merecer toda a nossa solicitude e atenção activa e não atenção
especulativa.
Indo um pouco mais atrás, à
Constituição conciliar “ Gaudium et spes “, logo a primeira frase nos remete
para esta urgência de estarmos activamente interventivos face ao mundo. E,
particularmente, ao mundo dos sofredores. Todos os sofrimentos.
Para lá das fomes, das guerras e
das injustiças de uma sociedade decadente e híper-individualista/, egoísta,/
egolátrica, exploradora, ladra ou adicta, há outros sofrimentos, outras feridas
dolorosas, como o estraçalhamento da Família, demolida e desfigurada, proposta
como modelo “ societal” inelutável. É assim, dizem-nos. E, por ser “ assim”,
somos, para ser politicamente correctos “, complacentes, somos coagidos a
arrecadar, escondendo-os bem, os valores estruturantes da nossa identidade.
Mais grave: as grandes instituições de referência, dividem-se: uns sectores com
tendências para irem na onda da contemporização, esquecendo os seus princípios
fundamentais, enchem-se de “ misericórdia” para uns feridos mas de segregação e
negação para outros feridos. Outros, os grandes discriminados e insultados, são
escorraçados da “tenda”, estes não raras vezes, também, segregadores. Será que
a “ tenda de campanha” só é para alguns iluminados?
Quando um ferido chega à “ Tenda
de campanha” não se olha, ou não se deve olhar, a quem é. Não se lhe pergunta
qual a sua orientação política ou sensibilidade religiosa. Trata-se. Mas
trata-se cada ferido de acordo com a gravidade e amplitude dos seus ferimentos.
Acompanha-se cada um. Aconselha-se. Dão-se recomendações para continuar a
curar-se e para evitar voltar a ter os ferimentos que o levaram à “ tenda de
campanha”. Avisam-se do modo como devem evitar voltar a serem feridos. Diz-se-lhes
que devem continuar o seu tratamento e como o devem fazer. O objectivo dos
cuidadores da “ tenda de campanha” é tratar, curar, não remediar, e fazer com
que se lhes dêem os cuidados necessários, se apliquem os tratamentos exigidos,
de acordo com um protocolo. E muito menos enganá-los, dizendo que o curativo
não é exigente e nem sempre leva à cura da ferida. E quando tiver alta, o que
pode demorar muito tempo, mesmo muito, ou, até nunca conseguirem curar-se, mas mandam
as boas práticas que se lhes diga para não recaírem. Que evitem as ocasiões.
Ninguém de bom senso lhes pode dizer: vai, estás a caminho da cura, mas podes
continuar na mesma! O que os cuidadores devem dizer, muito claramente, é que
não voltem às situações de risco. Contudo, há feridos que foram à “ tenda de
campanha “ mas que não têm força suficiente, coragem nem acreditam profundamente
de que não podem seguir o caminho que os levou aos ferimentos. Então, será que
eles voltarão à “tenda de campanha”? Obviamente que se tropeçarem, os
cuidadores da “ tenda de campanha” têm a obrigação de, com humildade e
caridade, voltarem a iniciar o processo de tratamento. Demore o tempo que
demorar. Sem prazo. Se os feridos quiserem. Assim os cuidadores da “ tenda de
campanha” saibam o modo de agir correcto e não o que está na moda…
«Vai, os teus ferimentos foram
curados! Não voltes ao mesmo!». Não voltes ao mesmo. Arrepia caminho.
… E sempre ter a “ tenda de
campanha” acolhedora, confortável e de porta aberta para todos os feridos.
Sempre com uma mão amiga que diga a verdade do ferimento, a dificuldade do
tratamento e a necessidade de colaborarem com os cuidadores. Sobretudo com o “
Grande e único Cuidador “!
… E que os cuidadores tenham
sempre a mão e o coração abertos para ajudar.
… E que os vizinhos não se armem
em curandeiros, bruxos ou afins. As boas práticas mandam que se abstenham de
comentários. Se puderem que ajudem, a pedido, dos cuidadores.
… E que os feridos que foram à “
tenda de campanha” saibam ao que vão.
A “ tenda de campanha” está de
portas abertas … para quem lá quer entrar, acredita no tratamento e tem a
intenção e vontade de seguir os cuidadores.
Para quem não crê no valor da “
tenda de campanha” e nos tratamentos de cura, para que critica a dita “ tenda”,
remédios para a cura dos ferimentos e capacidade dos cuidadores? Ninguém é
obrigado a socorre-se da “ tenda de campanha” se nem sequer tem consciência de
que está ferido. Contudo, a “ tenda de campanha” está sempre aberta. Assim os
cuidadores mostrem disponibilidade e sagacidade para cuidarem. E paciência.
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