domingo, 10 de novembro de 2019

JOVEM, EU TE ORDENO, LEVANTA-TE!..


O morto sentou-se e começou a falar!... Não foi na web summit, não. Foi em Naim, há mais de dois mil anos e garantiu um futuro cada vez melhor, com valores e sentido! Sim, sim, o morto sentou-se, esfregou os olhos e começou a falar, só isso! Bué da fixe, diria a garotada extasiada e de olhos fixos em Jesus sorridente!... Ao ver o susto, e pelas notícias que nos chegaram, de facto, a ninguém deu o treco nem espinoteou a dar à perna! Se tal tivesse acontecido, com certeza que a cmtv lá do tempo teria feito eco, e mais eco, e mais eco, e muito mais eco ainda, sim, muito eco pelo dia fora e noite adentro. Admirados, boquiabertos e com medo, sim, lá isso parece que todos ficaram e não era para menos!... Com grande pena nossa, porém, não sabemos o que é que o morto-vivo teria dito. Supomos que teria ficado muito feliz e a proclamar a boa nova. O que sabemos é que a pobre mãe, viúva, a comunidade que se associara com ares de vencida e triste, explodiu de alegria. Em todos aflorou um sentimento de admiração e de gratidão que logo os fez correr por toda a parte a levar a notícia do que tinha acontecido de tão belo e extraordinário. O Deus da vida veio ao encontro dos homens, manifestou-Se através de Jesus, da Sua palavra, dos seus gestos e sinais, revelando o verdadeiro sentido da vida e oferecendo a todos o triunfo da vida sobre a morte, como um dom que Ele nos deu e nos encarregou de anunciar por toda a parte, sem choro nem lamentações, mas com alegria e esperança, confiando n’Ele (cf. Lc 7,11-19).
A diminuição de vocações ao Ministério Ordenado e à Vida Consagrada não pode fazer das nossas comunidades cristãs uma espécie de viúvas tristes e lacrimosas a caminho do “cemitério”, do fim, chorando sem esperança, pessimistas, derrotadas, sem confiança n’Aquele que se fez encontrado, as amou até ao fim e as enviou em Seu nome... Jesus veio e continua a vir ao nosso encontro, a cruzar-se connosco nos caminhos da vida, a caminhar no meio de nós, a olhar-nos olhos nos olhos, com serenidade, sem pressa nem enfado e a fazer com que ponhamos fim a tais pessimismos e tristeza e a que nos deixemos contagiar pelos que acreditam no Deus da Vida e na vida com sentido. Nenhuma comunidade cristã que se preze pode deixar de obedecer ao Senhor que continua a vir ao seu encontro e a pedir-lhe que se faça ao largo e lance as redes, com confiança (cf. Lc 5,4-5). Ninguém deve pensar que conhece bem o terreno e que já fez muito sem qualquer resultado. Ninguém pode cruzar os braços e deixar de propor, com alegria e esperança, o ministério ordenado ou a vida consagrada, autoconvencido de que os jovens não correspondem e as famílias não ajudam. Pedir, individual e comunitariamente, ao Senhor da messe que envie operários para a Sua messe, contactar, propor, provocar, acompanhar, partilhar e ajudar no discernimento com total respeito pela liberdade de cada um é missão da comunidade, através do pároco, das famílias, dos agentes da pastoral, de todos, sem proselitismos, respeitando a gradualidade própria de todo esse processo...
Com alegria e confiança, os jovens sonham, olham para as suas capacidades e interrogam-se sobre o seu futuro: Que é que eu hei de fazer para melhor servir e ser feliz? E Jesus continua a tocar no ombro de todos, mas de cada jovem em particular: Jovem, se queres ser feliz, “Eu te ordeno, levanta-te!” A comunidade precisa de ti, anda daí, sê jovem. Há “em ti muitas qualidades, inclinações, dons e carismas que não são para ti, mas para os outros” (CV286). Na resposta a dar, seja ela qual for, há um dado a garantir a seriedade da mesma: é o diálogo sincero entre o amor de Deus que chama e a liberdade de quem responde a Deus também com amor. Sim, são dois aspetos indissociáveis: o dom gratuito de Deus que chama e a liberdade responsável de quem é chamado (cf. Pdv36).
Na Semana dos Seminários que tem como lema “Cristo não pensa apenas naquilo que tu és mas naquilo que poderás chegar a ser”, não te esqueças, caro jovem, ser padre ou abraçar a vida consagrada pode ser o teu caminho. Se no silêncio interior perceberes o olhar de Jesus e escutares o Seu chamamento, não faças como o jovem do Evangelho que aprisionado pelas ilusões da sua vida voltou as costas, triste (Mt 19, 16-22). Agradece e arrisca, sente a alegria do chamamento para, assim, servires a Igreja e o mundo.
Sem papas na língua e com um certo humor, mas seriamente, o Papa Francisco não desiste de apelar: “Jovens, não renuncieis ao melhor da vossa juventude, não observeis a vida de uma varanda. Não confundais a felicidade com um sofá nem passeis toda a vossa vida diante de um ecrã. Tampouco vos deveis converter no triste espetáculo de um veículo abandonado. Não sejais automóveis estacionados, pelo contrário, deixai brotar os sonhos e tomai decisões. Arriscai, mesmo que vos equivoqueis. Não sobrevivais com a alma anestesiada nem olheis o mundo como se fosseis turistas. Fazei barulho! Deitai fora os medos que vos paralisam, para que não vos convertais em jovens mumificados. Vivei! Entregai-vos ao melhor da vida! Abri a porta da gaiola e saí a voar! Por favor, não vos aposenteis antes de tempo” (CV143).
Antonino Dias
Bispo de Portalegre-Castelo Branco, 08-11-2019.

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