terça-feira, 27 de outubro de 2020

“Preparei-me para morrer…”

 Padre Pier Luigi Maccalli esteve sequestrado dois anos e oito meses

“Preparei-me para morrer…”

Foi libertado há três semanas no Mali depois de ter sido sequestrado no

Níger, em Fevereiro de 2018. Na primeira grande entrevista já em Itália, o

padre Pier Luigi recorda como tudo se passou. O rapto, o dia-a-dia em

cativeiro, o silêncio do deserto, as ave-marias rezadas com um terço feito

de cordas, e a libertação. Foram cerca de mil dias sob a ameaça de

jihadistas. Um tempo impossível de esquecer...


Em cerca de trinta minutos, o padre Pier Luigi Maccalli fala, perante as câmaras de TV

do programa “La minute interview”, da Sociedade das Missões Africanas, do tempo de

sequestro às mãos de um grupo terrorista no Mali. Libertado há três semanas, o

missionário italiano, de 59 anos de idade, reconhece estar ainda “um pouco confuso”

com tanta alegria e emoção”. O rapto aconteceu a 17 de Setembro de 2018. Estava em

casa, na paróquia, em Bomoanga. Ouviu barulho, foi investigar e deparou-se com

homens armados. “Gritei, foi uma confusão.” Amarraram-lhe as mãos. Era o começo

do cativeiro que iria prolongar-se até Outubro de 2020. “Preparei-me para morrer,

mas disse para mim que talvez não fosse o caso. Respeitavam-me. Era o velho,

chamavam-me ‘shébani’ – o velho – o objectivo era mais converter-me ao Islão.” Ao

fim de algum tempo, o padre Pier Luigi foi perdendo noção do local onde se

encontrava. “A zona era deserta… sem nada… e eu pensava: ‘onde vamos? Onde

estamos?’ E aí chorei.” (…) Senti-me perdido. Foi um momento de angústia e disse:

‘Senhor, onde estás?’” Apesar de tudo, o padre Pier Luigi sentia o conforto da presença

de Deus. “Estava… perdido. Mas, graças a Deus, nunca me senti abandonado. Sim,

gritei com Deus, zanguei-me com Ele, mas sentia que Ele estava presente e que podia

falar com Ele porque foi a Sua presença que me susteve em todas as horas.” No

cativeiro havia algumas rotinas. “O tempo era longo”, diz o missionário italiano. E

começava com o raiar do sol. “Quando me tiravam as correntes que tinha nos pés

durante a noite, levantava-me, fazia uma pequena ‘toilette’, podia andar um pouco,

rezava o terço que tinha feito com uma corda, depois ia aquecer água, tínhamos uma

pequena reserva de cebolas e outras coisas para cozinhar, e pronto, cuidávamos do

lume e tínhamos… havia um outro refém – Nicolas – trocávamos algumas palavras,

havia sempre qualquer coisa a dizer…”

A libertação


Almoçavam cedo, descansavam do calor debaixo de alguma árvore… “Nunca tivemos

outro tipo de abrigo…” “A tarde era ainda mais longa…” Depois, no serão, “rezava mais

um terço até ao pôr-do-sol… o sol nascia, o sol punha-se, a noite era sempre um céu

estrelado lindo, sobretudo no Sara, no deserto… e falávamos com as estrelas, punham-

nos as correntes e esperávamos pelo dia seguinte.” O anúncio da libertação aconteceu

no dia 6 de Outubro. Dois dias depois, deixou o acampamento. “Fomos ter a um lugar

com arbustos e aí encontrámos Sophie Petronin, a refém francesa e o senhor Soumaïla

Cissé, um político do Mali que tinha sido raptado há seis meses.” Dali até ao aeroporto

de Tessalit ainda apanharam uma tempestade de areia e chuva. No aeroporto estava já

um avião militar que levou até Bamako, a capital do Mali, o padre Pier Luigi e o outro

ex-refém italiano. Chegaram a Roma na quinta-feira, 8 de Outubro. Nessa manhã o

padre Pier Luigi voltou a celebrar a Eucaristia. Na entrevista, Pier Luigi Maccalli

agradece a solidariedade e as orações de todos pela sua libertação. E pede para se

continuar a rezar pois há outras pessoas em cativeiro. É o caso da irmã Gloria Narvaez

Argoti. A libertação do padre Pier Luigi foi uma vitória do bem contra o mal. Uma

vitória que tem de nos comprometer cada vez mais no apoio a estas comunidades

cristãs acossadas por terroristas, vítimas de violência. Ajudar estes sacerdotes, estas

irmãs, estes cristãos é a melhor maneira de agradecermos a coragem do padre Pier

Luigi nestes dois anos e oito meses de cativeiro.

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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