CONTRA ESTA SOCIEDADE
LIGHT, ANÉMICA e SEM MEMÓRIA ( 1)
Vivemos tempos desafiantes a todos os níveis. Infelizmente, tempos em
que a humanidade, salvo excepções, vive sem “ músculo”, como minhocas, viscosas
e sem coluna vertebral, rasteira sem elevar os olhos acima do seu umbigo, de
uma egolatria delirante. O que conta é o “ meu eu”, aqui e agora, na abundância
como nunca se viveu em tempo algum e sem muitas preocupações , ou nenhumas, que
ultrapassem um olhar epidérmico e
periférico.
Já.
Muito. E os outros que se “ lixem”, excepto os animais e as “ energias” das
florestas/ telúricas a quem se adora com furor e fragor.
Mas
é este o nosso “ kairos”.
Nada escapa esta fúria destruidora e demolidora. Ai de quem eleve a sua
voz, no uso da liberdade, para contestar este “ modus vivendi”!
Mas há vozes que se levantam, corajosas, destemidas e ousadas.
Sou
um leitor “ compulsivo”. Desde muito criança que ganhei o bom hábito da
leitura. Por isso, tenho sempre em vários locais da minha casa, um livro para
ler: no quarto ( nunca adormeço sem ler), no Quarto de banho, onde aproveito “
tempos mortos” ( às vezes de esforço!) e expectantes, no escritório, onde os
braços do meu sofá têm livros e um dos que está ao seu lado, tem sempre um ou
vários livros…
A
propósito desta sociedade “ Light, Anémica e Sem Memória”, li alguns livros,
muito recentemente, que me entusiasmaram pelos temas e pela força da escrita
dos seus autores. A nenhum deles fiquei indiferente. De todos recebi força e
ideias para combater esta pobre sociedade que, imaginem, um simples e “
invisível” vírus ameaça e mata, pondo, assim, em causa sua arrogância e a sua
pseudo omnipotência.
Que
livros são, então, esses que mexeram comigo? Vou indicá-los pela ordem que os
li ( obviamente que deixarei de lado, sem me referir aqui a eles, outros que li
nas últimas semanas)?
1. “ Liberdade de Expressão – um manifesto em
prol da Democracia”, de um muito jovem hongkonquês, Josuha WONG ( Ed.
Bertrand,Lx, Julho de 2020) . O autor, que já passou várias vezes pela cadeia e
é perseguido diariamente perante o silêncio cobarde do Ocidente e que se
iniciou aos 12 (doze) anos quando tomou consciência de que o regime comunista
chinês de Pequim, interferia… na liberdade de ensino! A sua luta começa aqui e
com este tema que, a nós portugueses, nos deixa bovinamente indiferentes. Como
diz Chris Patten, último Governador de Hong Kong no Prefácio e que de uma forma
sintética, resume toda vida de luta de Wong: « Uma das leis imutáveis da história é que não é possível derrotar uma
ideia encarcerando aqueles que as propõem»… « … por mais poderoso que alguém
seja, é impossível impedir as pessoas de pensar; mais cedo ou mais tarde, as
boas coisas que elas pensam acabam por expulsar as coisas más que os regimes
autoritários procuram impor». … E Wong tem ideias estruturadas e pensadas.
Wong pensa! Pensa e age com coerência. Vale a pena ler este livro , episódios
de uma luta constante e sem desfalecimentos, que um jovem vive em Hong Kong e
que narra, com rigor e fundamento, neste livro. Como seria bom que os jovens
portugueses lessem este magnífico livro escrito por um par interventivo e
corajoso!
2. Outro livro que acabei de ler ( e já reli e
sublinhei, várias passagens do mesmo) é: “ La Force de la Verité- défis posés à
la Foi catholique dans un monde qui n`est plus chrétien”, do Cardeal Gerhard
Muller ( Ed. Artège, Paris 2020), tradução do inglês “ The Power of Truth). Onze
capítulos magníficos de reflexão profunda sobre a nossa Fé e a crise tremenda
por que está a passar. Sem medo de parecer “ bota de elástico” mas movido só e
exclusivamente pela Fé, com muita coragem, sobretudo quando é pouco ou
nada aceitável pelos sectores dominantes
de “ seitas” intra-eclesiais possidentes, defender a Verdade. O autor, que foi
Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé ( 2012 a 2017),mostra neste livro
um pensamento muito bem estruturado, fundamentado e sem margens para dúvidas.
Como seria bom que tantos católicos o lessem!
O espaço deste
artigo chegou ao fim, mas, se Deus quiser, para a semana continuarei.
Carlos Aguiar
Gomes
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