domingo, 31 de janeiro de 2021

S. Bento, Hoje e sempre // St. Benoît , aujourf`hui et toujpours

S. BENTO, HOJE E SEMPRE


“Escuta, filho, os preceitos do mestre e inclina o ouvido do teu coração; aceita de boa mente o conselho dum pai cheio de ternura e põe-no em prática...”.
(S. Bento, in Regra, Prólogo).



O Santo Patriarca, S. Bento, inicia a Regra que deu aos seus monges usando quatro verbos significativos:
- escutar
- inclinar (o ouvido)
- aceitar
- pôr (em prática)
.

E estes verbos estão dispostos por uma ordem que não é casual. S. Bento convoca para uma missão pessoal:” voltar para Aquele de quem (o leitor) (...) te afastaras”. E para voltar, o nosso Santo Patriarca indica qual o meio e o modo de regressar.

Escutar será o primeiro passo, isto é, ouvir com atenção, ou como se diz hoje, numa escuta activa, disponível, pronta, atenta, decidida, comprometida.

Inclinar (o ouvido) não é mais do que entrar em intimidade e na intimidade, com o mais profundo da mensagem e com o mensageiro, ou como dizia Saint-Exupery no Principezinho, com os ouvidos do coração.

Aceitar, como todos sabemos não é só acordo de princípios, com mais ou menos reservas, mas dar um aval total e sem reservas à mensagem, com humildade de quem se entrega à guarda de quem nos convida e convoca.

Pôr (em prática), no fundo é viver de acordo com o que se escutou, inclinando o ouvido do coração e aceitando a mensagem para a viver de forma coerente e fiel, malgrado as limitações de quem escuta , da surdez do nosso coração e das reservas que o nosso orgulho, vaidade ou egoísmo impõem à prática e na prática do nosso agir que, não raras vezes , resvala para a imperfeição de vida.

... Mas, como escreveu o Cardeal Danielou, num livro notável – “A Oração, um problema político” – dos finais da década de 60 do século passado: um cristão é um pagão em conversão permanente. De facto, assim é. No fundo, o grande convite de S. Bento é para a nossa conversão. A minha, a de cada um de nós. S. Bento, obviamente, que se dirigia aos monges do seu tempo. Mas, não é o tempo de S. Bento o tempo de Deus e o tempo de Deus não é este tempo? Creio bem que sim! Tirando aspectos acessórios da sua Regra, esta pode ser uma verdadeira convocatória para este nosso tempo, mais de 1500 anos depois de ele ter nascido. E será tanto mais quanto mais formos capazes de seguir S. Bento. De o seguir para, por ele, chegarmos a Jesus Cristo, único Salvador, ontem, hoje e sempre! De chegarmos ao Senhor Jesus para o anunciar, como dizia S. Paulo, de uma forma muito incisiva: “a tempo e a contra-tempo”. Mas para evangelizar é preciso estar evangelizado, como escreveu Paulo VI, na “Evangelii nuntiandi”.

Estar em conversão permanente, em evangelização própria e, por consequência e imperativo, ser naturalmente um evangelizador. E não é este o nosso papel, a nossa prioridade, aqui e 
agora, como amigos e devotos de S. Bento? Como disse o Papa Francisco I: «as vossas iniciativas sejam “pontes”, estradas que levem a Cristo a fim de caminhardes com Ele. E, neste espírito, permanecei sempre atentos à caridade (...)». «Sede missionários do amor e da ternura de Deus! Sede missionários da misericórdia de Deus, que sempre perdoa, sempre espera por nós e nos ama tanto» (Papa Francisco, 5.V.2013, no dia das Confrarias e Irmandades).

Aqui fica o repto, para mim. Para nós.

--
Carlos Aguiar Gomes

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