Começaremos hoje a nossa caminhada diárias meditando sobre textos das obras de S. Tomás de Aquino, selecionados para o tempo da quaresma pelo Padre dominicano D. Mézard. Os direitos de cópia desta compilação em língua portuguesa pertencem à Editorial Permanência, cujo trabalho pretendemos apenas divulgar.
Acompanharemos estes textos por um excerto musical adequado.
Quarta-feira de cinzas: A morte
«Por um homem entrou o pecado neste mundo e, pelo pecado, a morte» (Rm 5, 12)
1.
Se alguém, por culpa sua, foi privado de algum benefício, que lhe fora
dado, a privação desse benefício será a pena da culpa cometida. Ora, o
homem, desde o primeiro instante da sua criação, recebeu de Deus o
benefício de, enquanto tivesse o seu espírito sujeito a Deus, ter
sujeitas à alma racional as potências inferiores dela, e o corpo, à
alma. Ora,
tendo o espírito do homem repelido, pelo pecado original, a sujeição
divina, daí resultou que as potências inferiores já não se sujeitaram
totalmente à razão, donde procedeu a tão grande rebelião dos apetites
carnais contra ela, nem já o corpo se subordinou totalmente à alma,
donde resultou a morte e as outras deficiências corporais. Ora, a
vida e a saúde do corpo consiste em sujeitar-se à alma, como o
perfectível, à sua perfeição. Por onde e ao contrário, a morte, a doença
e todas as misérias do corpo resultam da falta de sujeição do corpo à
alma. Donde, é claro que, assim como a rebelião do apetite carnal
contra o espírito é a pena do pecado dos nossos primeiros pais, assim
também o é a morte e todas as misérias do corpo.
2. A alma racional é, por essência, imortal. Por onde, a morte não é natural ao homem quanto à sua alma. Quanto ao corpo do homem, uma vez que é composto de elementos opostos, dele se segue necessariamente a corruptibilidade. E, quanto a isso, a morte é natural ao homem. Ora, Deus, criador do homem, é onipotente. Por isso, por benefício seu, livrou o homem, desde o primeiro instante da sua criação, da necessidade de morrer, resultante da matéria que o constituía. Ora, esse benefício perderam-no pelo pecado os nossos primeiros pais. E assim, a morte é natural pela condição da matéria; e é penal pela perda do benefício divino, que dela preservava. (IIa IIae, q. CLXIV, a. 1)
3. A culpa original e a atual são removidas por Cristo, isto é, por aquele mesmo por quem se removem as misérias corpóreas, conforme aquilo do Apóstolo: «dará vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito, que habita em vós». Mas, uma e outra coisa se realizarão em tempo oportuno, segundo a ordem da divina sabedoria. Pois, havemos de chegar à imortalidade e à impassibilidade da glória, começada em Cristo, que no-la adquiriu, depois de lhe termos, durante a vida, participado dos sofrimentos. Por isso, é necessário que, conformes com Cristo, a sua passibilidade perdure nos nossos corpos, para merecermos a impassibilidade da glória. (Ia IIae, q. LXXXV, a. V, ad 2um.)
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