domingo, 20 de novembro de 2022

O PARADOXAL CAVALEIRO DE MARIA SANTÍSSIMA

foto de D. Gerard-Marie Lafond
Fundador da Militia Sanctae Mariae

Por Josimar S. Rodrigues Junior
Milícia de Santa Maria no Brasil 

Cavaleiro é o combatente viril, que luta pelo “serviço e defesa dos fracos, da justiça e da paz” (D. Gerard).

Vocacionado ao heroísmo, o cavaleiro penhora sua vida pelo serviço do Reino, pela glória de Deus e pela liberdade de seus filhos. O cavaleiro precisa ser antes de tudo, um cristão autêntico, que não vise senão “defender aqui na terra as fronteiras do Reino de Deus” (Leon Gautier).

Dom Gerard, sob o impulso do Espírito Santo, compreendeu que, no duplo combate da vida — espiritual e temporal —, era necessário que o novo cavaleiro se diferisse dos “cavaleiros” dinásticos, dos “cavaleiros” das honras e dos títulos e voltasse a se assemelhar ao verdadeiro espírito da cavalaria, daquela fundada sob os princípios da cristandade, na intrépida fé dos apóstolos e mártires, mas que tivesse, sobretudo, a docilidade de se deixar moldar pelo sopro do Espírito que “renova todas as coisas” (cf. Ap 21, 5).

Os tempos modernos não se diferem em nada dos tempos que fizeram gestar as antigas “milites”, e isto bem o compreendeu Dom Lafond. Assim como nos tempos passados, nossas sociedades estão incapazes da ordem e da paz, da justiça e da fraternidade, e para este mal, remédio infalível é “voltar às fontes da simplicidade primitiva, no sentido do desapego; é encontrar de novo ardor no combate pela justiça e pela paz”. Para os males do tempo presente, deixou-nos dom Lafond o remédio dos tempos passados.

Entretanto, não descuidou de clarear que não é o anacronismo que proporciona a cura, mas a eficácia da Tradição.

Para uma sociedade que padece, Dom Gerard oferece homens que se distinguem por sua “superioridade espiritual, moral, intelectual” e de cuja integridade se possa dizer indiscutível.

Esta solução, logrando êxito ao que se propôs ao fundar a Milícia de Santa Maria, isto é, “encarnar o espírito (da cavalaria) nas instituições”, gestará uma nova sociedade, porque é na transformação dos homens — e na transformação do homem integralmente — que se transforma a sociedade.

Depois de delinearmos o perfil cavalheiresco, à primeira vista — e aqui se alumia o título — não caberia a um cavaleiro, símbolo da virilidade e do arrojo, ser imitador de Maria Santíssima, que é, ao contrário, sinal sensível da mansidão, da docilidade e da serenidade.

Sendo cavaleiro, como poderia, ao mesmo tempo, assumir características marianas num “campo de batalha” espiritual ou temporal?
É que não basta, para a restauração da civilização, a fundação de ordens ditas heroicas, fundadas sob códigos de honra, sob títulos de nobreza e pompas. São necessários homens dispostos ao verdadeiro heroísmo, que é a santidade. É necessário o heroísmo da inversão dos valores profanos, da luta constante contra as ideologias totalitárias, e, no campo da fé, da luta contra todo tipo de pecado que fere a natureza humana e a aprisiona sob o poder do inimigo do gênero humano.

Os cavaleiros são homens que, por misericórdia de Deus, enxergaram no turvo horizonte, a nobre missão de levantar o estandarte da cristandade, “comunidade fraterna das nações resgatadas pelo Sangue de Cristo”. E essa certeza, mediante um novo estado de vida, coloca-os nas falanges da luta contra o poder das Trevas, a fim de libertar a todos os que se encontram sob o poder do maligno (cf. 1Jo 5, 19).

Este novo estado de vida, contrapondo-se ao antigo estado de aprisionamento, é agora uma prisão de devoto amor.

Ao novo cavaleiro, Dom Gerard propõe a consagração total de si a Nosso Senhor pelas mãos de Maria Santíssima. É por Ela, é sob o espelho dela que o cavaleiro entenderá sua missão de servir e proteger a Santa Igreja de Deus.

A solução para o aparente paradigma se dá ao perceber que não há heroísmo maior do que o de Maria. Não há superioridade espiritual que resista quando comparada à dela. Não há integridade moral, virtudes, dons e graças que Ela já não possua. E é por isso que, dada à grandiosidade dessa doce Suserana, todo cavaleiro que deseje seguir adiante com sua missão, precisa ser gestado no coração dessa boa Mãe.

Ao cavaleiro é exigida a superioridade moral, espiritual, intelectual, e tudo isto elevado ao grau do heroísmo, ao grau máximo da entrega de si, de seus bens, de suas qualidades e capacidades. Inspirado por este bom propósito, risco grande é faltar com a humildade tão necessária e deixar-se levar pela vanglória. Para desfazer tal perigo à Cavalaria que acabara de fundar, dom Gerard, impelido pela ação divina, dá aos cavaleiros um nobre presente: a consagração total a Nosso Senhor por meio de Maria Santíssima. Tudo que é feito de nobre, elevado, honroso por cada um dos seus cavaleiros, longe das vaidades do mundo, é devolvido com gratidão a Nossa Senhora. Por Ela os cavaleiros trabalham, por Ela lutam os membros da Milícia e é por Ela que humildemente esperam todos os seus servos devotos participar do Reino do céu.

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