Uma viagem ao Peru, quase uma epopeia, a terras do fim do mundo…
Verdadeiros heróis
Num país pobre onde muitas comunidades vivem em regiões remotas, de
difícil acesso, e onde há uma grande falta de sacerdotes, os leigos
desempenham um papel essencial. Por isso, eles são, a par dos
missionários, “verdadeiros heróis”. Luis Vildoso, responsável de projectos
da Fundação AIS para a América Latina, esteve de visita ao Peru e a
viagem que fez, a terras quase do fim do mundo, revelou-se uma
verdadeira epopeia…
Luis Vildoso, responsável de projectos da Fundação AIS para a América Latina, esteve
recentemente em visita de trabalho ao Peru e fez questão de ir a alguns dos lugares
mais esquecidos deste país, onde a Igreja está presente junto dos mais pobres e
necessitados. Foi uma viagem dura, quase uma epopeia. “Atravessámos a selva
amazónica, subimos até 5.000 metros acima do nível do mar na Cordilheira dos Andes,
e entrámos no deserto. Estivemos em ‘solo sagrado’, como o Papa Francisco lhe
chama”, explicou Vildoso. Em todos os lugares, foi possível encontrar a presença da
Igreja. Por vezes, os padres ou as religiosas eram mesmo os únicos que estavam junto
dos mais pobres e necessitados. Um relatório do Banco Mundial, publicado em Abril
deste ano, comprova que sete em cada dez peruanos são pobres ou estão em risco de
cair na pobreza. Isto diz muito do que Vildoso encontrou na viagem a este país situado
no sul do continente americano. “A Igreja está presente onde nenhuma outra
instituição está. A Igreja desempenhou um papel fundamental na evangelização na
Amazónia peruana, no sul dos Andes e em algumas áreas da periferia urbana; dedica-
se a evangelizar e atender às necessidades materiais e espirituais do povo. Estou
convencido de que esses padres e missionários veem o rosto de Jesus reflectido
naquelas pessoas, que têm muita sede de Deus”, diz Luis Vildoso. E esta presença
ganha um significado especial precisamente nas regiões onde, pelas suas
características, estão mais longe dos centros de decisão, estão nas periferias da
sociedade.
Arriscar a vida na missão
É o caso da Amazónia. E foi aí, em lugares distantes, longe do conforto das cidades,
longe de tudo, que o responsável de projectos da Fundação AIS encontrou alguns dos
“verdadeiros heróis” da Igreja: os leigos. Na ausência de padres ou de irmãs, são eles
que asseguram o essencial da vida comunitária. “Durante a nossa viagem foi muito
bom ver na Amazónia como os leigos são animadores na Igreja. Eles são os verdadeiros
heróis, são os guardiões da fé em cada comunidade, porque quase não há padres nem
religiosas. São os leigos que celebram a liturgia da palavra, por exemplo, e manifestam
com alegria a sua fé para que o seu povo não a perca”, explica Luis Vildoso. Mas não
são só os leigos os heróis da Igreja no Peru. Os padres, os missionários e as religiosas
desempenham um trabalho notável por vezes em condições tão difíceis, a ponto de
chegarem a arriscar a própria vida. “Penso também nos missionários, entre os quais se
encontram vários estrangeiros nos lugares mais remotos. Foi uma experiência que,
sem dúvida, guardo no coração. Mas, ao mesmo tempo, vê-se como é difícil a missão.
São pessoas que arriscam a vida, porque em algumas estradas, como a rota de Sandia,
na Prelatura de Huancané, há um grande precipício ao lado da estrada e muitos
caminhos não são pavimentados. Os missionários viajam longas distâncias e enfrentam
intempéries. Atravessam o nevoeiro, expõem-se ao sol e ao frio da serra. São
condições muito extremas que eles estão dispostos a viver para servir e cuidar dos
mais necessitados.” Perante este retrato de um país onde falta quase tudo em tantos
lugares, é imperioso apoiar a formação do clero que desempenha um papel
fundamental na promoção social neste país marcado pela desigualdade e pobreza. “Foi
muito bom descobrir que em lugares como a Prelatura de Huancané, a congregação
das Missionárias de Jesus Verbo e Vítima administra e distribui algumas publicações da
AIS como a ‘Bíblia para Crianças’, o ‘Eu Creio’ e o ‘YouCat’. Essas religiosas, por
exemplo, utilizam-nas para o acompanhamento espiritual da população.” Foram dias
cansativos de uma viagem que ficou inesquecível. Em terras quase do fim do mundo,
há pessoas simples que, por se dedicaram apenas aos outros, são verdadeiros heróis…
Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt
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