segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Ainda vamos a tempo de recuperar a Esperança?

 

                                                                   

                          Fértil seara de trigo , resultado de uma sementeira.

                             Quem semeia, colhe! É o pão nosso de cada dia!

 

                  Ainda vamos a tempo de recuperar a Esperança?

 

 

Andam por aí sereias a anunciar uma Igreja “ jovial”, de vanguarda e que renega o seu passado e atrevida… Andam e cada vez mais se esvaziam as igrejas.Os velhos vão morrendo e os jovens procuram outras “ ocupações”. Não se dão conta deste fenómeno tão evidente?

 “ … Prossegui, não para criar uma Igreja paralela, um pouco mais “ jovial” e atrevida numa modalidade para jovens, com alguns elementos decorativos, como se isso pudesse deixar-vos contentes.” ( Papa Francisco, Panamá, 24.I.2019

Os batuques, as guitarras, os cânticos ocos e sem sentido, as meias verdades sobre os pecados (já não se ouve falar em pecado!), as mentiras sobre os dogmas, o desleixo inqualificável das celebrações, as “ inovações” constantes e chocantes e as aberrações “ litúrgicas” que tenho visto e não raras vezes, diga-se de passagem, tornam a Igreja “ jovial” e atrevida… mas esvaziando-se todos os dias.

Acresce a todas estas situações e outras de igual jaez um estado crítico em que vive a Igreja na Europa :“ (as) Igrejas na Europa, frequentemente provadas por um ofuscamento da esperança”, com escreveu S. João Paulo II Magno, em 2003, na Exortação Apostólica Pós-Sinodal “ Ecclesia in Europa “ ( nº7.). E este extraordinário Papa, que não podemos deixar esquecer ( dava jeito a alguns!), no documento acima citado, elenca alguns sinais demasiado evidentes deste ofuscamento da esperança:

1.       “… a crise da memória e herança cristãs”;

2.       “ … acompanhada por uma espécie de agnosticismo prático e indiferentismo religioso… “;

3.       “ … muitos europeus ( dão a impressão )  de viver sem substracto espiritual”;

4.       “ … como herdeiros que delapidaram o  património que lhes foi entregue pela história.” ( nº7 ). Note-se, a propósito, o desprezo militante com que é tratado o “ Cântico gregoriano”, por exemplo, ou as mutilações a que foram submetidos tantos templos antigos, mas orantes, chegando ao cúmulo de se mudarem, até, designações como Capela da Imaculada Conceição para Capela imaculada(!).

 

 

E diz S. João Paulo II Magno que “ esta crise da memória cristã é acompanhada por uma espécie de medo de enfrentar o futuro” ( id).

 A felicidade é um bem com esperança. Mas a felicidade, buscada no efémero do aqui e agora prazeroso, não nos projecta no amanhã. Colapsa quando o aqui e agora se extinguem. Por isso, sem memória e, obviamente sem esperança ( quem não tem memória não tem esperança!), vive-se hoje momento a momento. Por isso, tudo o que contraria ou dificulta este “ agorismo” é combatido ferozmente e, assim, se apagam as memórias das famílias e dos povos, tornando estas realidades obsoletas para se implantarem novas mundividências relativistas. Assim, há medo de se enfrentar o futuro. E o futuro mais profundo é a vida eterna, a esperança da Esperança. Ora, “ semear esperança” é recuperar a esperança perdida porque a baniram na nossa realidade familiar, eclesial e social. Atulharam-nos da banalidade rude e grotesca. Privaram-nos do perene. Das referências que não têm moda. Dos alicerces.

“A asneira é mais facilmente acessível enquanto que a verdade é difícil de atingir” … “As meias-verdadese as aberrações podem ser consideradas como sub-produtos de uma deterioração generalizada da cultura, da educação , do nosso tempo de concentração  e de incapcidade de reflexão crítica.” (Gabriele Palasciano in “Christianisme, cancel culture et wokisme” , ed. Harmattan, Paris,2024, pág.81)

 Ceifaram as searas de onde brotariam as sementes a semear. Dizimaram e deixaram e deixámos) dizimar a seara dos valores que formaram esta Cultura que morreu em nossos dias.

… Mas os campos estão aí. Abandonados e onde crescem ervas daninhas. Urge “ renaturalizar”  - palavra da moda ecológica – somos convocados para esta tarefa premente, a nossa sociedade, cada um  e todos. Os “ campos “ morais e espirituais  podem ser cuidados de novo. Se as sementeiras forem protegidas dos predadores que andam à solta e dominam as paisagens espirituais, culturais e sociais. Dá trabalho? Pois dá! Mas é o preço que temos de pagar por termos sido coniventes na destruição das sementes, searas a haver, parafraseando o Poeta.

Há, pois, que recuperar a esperança para a semear. Para sermos semeadores da Salvação em Jesus Cristo que  não veio para ser profeta ecológico que não é.

 

Carlos Aguiar Gomes

 

 

 

 

 

                           

 

 






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