ESTA “COISA” DOS NOMES DAS PESSOAS
Quando António Variações lançou uma canção que teve enorme êxito e nela ele cantava:
“Maria Albertina, porque foste nessa / De chamar Vanessa à tua menina”, ninguém protestou ou se sentiu excluído, sobretudo as Vanessas que começavam a aparecer no panorama onomástico português com outros “companheiros” alheios à nossa cultura.
A partir dos finais do século XX apareceram as “Noha”, “Noah”, “Oceano”, “Lua” e outras excentricidades, com o concomitante “apagamento” das “Maria”. Ninguém protestou. Nem se sentiu excluído… Mas era um sintoma visível e voluntário de apagar a nossa cultura de raiz cristã, ainda que tal significasse religiosidade consciente.
Bem sei que, com a implantação da república, pais mais ou menos fanáticos, começassem a chamar aos filhos “Liberdade”, “Aurora da Liberdade” ou “Benvinda República de Portugal” (vi a participação do falecimento de uma num diário de Lisboa, em meados da década de 60 do século passado, e que me alegrou muito em saber que a república tinha morrido!).
Com a Revolução de Abril, apareceram os “Lenine” ou “Marx”, episódio efémero de fanáticos. Simultaneamente, começam a ser cada vez mais frequentes chamar “Bernardo” a um cão, “Júlia” a uma gata… como se qualquer animal de estimação fosse uma pessoa humana! Assim se ia e vai “cancelando” a nossa Cultura. E tudo pacífico.
Tenho para mim, e não estarei assim tão errado, que o nome atribuído a uma pessoa tem a missão de honrar alguém vivo ou que já tenha morrido. Também consagrar essa pessoa a um santo ou à Virgem Santíssima. Os nomes carreiam e contribuem para caracterizar uma Cultura pela frequência com que determinados são usados e que nos ajudam a definir essa Cultura.
Vejamos, até há muito poucos anos, em Portugal, a maioria esmagadora das mulheres se chamava Maria X ou X Maria (Maria do Rosário, da Conceição, do Alívio, das Dores, de Fátima, do Sameiro, da Penha, João, José, etc. e etc.) ou invertendo a ordem: Rosalina Maria, Ana Maria, Luísa Maria, Antónia Maria… Os homens também, frequentemente, “arrastavam” com o nome de Maria: António Maria, João Maria, José Maria, Carlos Maria, etc. e etc. Quanto ao “Maria”, eram frequentíssimos nos homens e até em mulheres o nome de José, António, Francisco ou Manuel. Apareciam muitos nomes de santos com devoção mais em voga (Goretti, Filomena, entre outros).
Ora bem, a nossa Cultura quase mudou totalmente no campo da onomástica, um sintoma entre outros dessa mudança. Se há cada vez menos crianças, cada vez mais vemos nomes mais “estranhos”, que são “roubados” das novelas que passam nas televisões ou são importados de outras latitudes, com ou sem o aportuguesamento do nome.
Com a invasão de povos de longes bem distantes e com culturas completamente diferentes da nossa, é natural que sejamos invadidos por nomes que até, muitas vezes, nem sabemos pronunciar e escrever. Estão aí. Estão aí com uma fortíssima tendência para aumentar. E o aumento absoluto e relativo tem a ver com o contínuo e continuamente acelerado colapso demográfico dos indígenas, em contraposição com uma natalidade extremamente significativa de quem cá chega de outras culturas. É a realidade nua e crua.
Protestar? Insultar? NÃO! A culpa, se há culpa, não é de quem chega, mas de quem está cá e da cultura que despreza, abomina e odeia.
Não sei se ainda vamos a tempo de um exame de consciência sobre a situação a que chegamos. Creio que a situação é já irreversível. Nós, os indígenas lusos, queremos conforto, prazer, festas, praias, cruzeiros, carros de marca, relógios topo de gama… E ter filho(s) dá trabalho e preocupações. Quem está para isso?
Ter o sentimento da nossa pertença a uma cultura cristã, mesmo entre aqueles que não são praticantes, desvaneceu-se. Perdemos, muitos dos nossos contemporâneos, a memória dos nossos costumes, hábitos e tradições. Até na gastronomia se preferem sabores importados: os “hambúrgueres” ao cozido à portuguesa ou ao arroz de lampreia… E até o vinho vai perdendo preferências, sendo substituído por bebidas “postiças” de importação.
Escrevi estas linhas no dia em que, por decisão do Papa S. João Paulo II Magno, se reintroduziu a festa (memória) do Santíssimo Nome de Maria (12 de Setembro), Aquele que deu o seu nome a pobres e ricos e que, deste modo, era homenageado durante gerações sucessivas.
Afinal, esta “crise” dos nomes das pessoas revela-nos um pouco da crise de Fé que estamos a viver e da profunda transformação cultural que está a desfigurar profundamente a nossa identidade.
Não podemos esquecer que já estamos a viver (n)uma Cultura pós-Cristã. Sinto, na realidade, que vivemos já noutra cultura.
…E em Portugal? Em Portugal estamos em pleno “lusocídio”, não tenho a menor dúvida! Sinto-o. Basta ver a brutal falta de conhecimento dos grandes episódios da nossa História e dos nomes dos cabouqueiros das nossas origens.
Carlos Aguiar Gomes
Abrégé – L’auteur fait une brève analyse du procès de “lusocide” en marche, à partir des prénoms des Portugais en usage aujourd’hui au Portugal et qui sont un des signes d’une autre culture, d’une culture post-chrétienne, et où la présence d’immigrés d’autres cultures et religions dénonce l’approche d’une autre culture.
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