terça-feira, 3 de maio de 2022

UCRÂNIA: Irmãs abrem portas de mosteiro contemplativo para refugiados

 UCRÂNIA: Irmãs abrem portas de mosteiro contemplativo para refugiados

Um sinal de Deus

Um pouco por toda a Ucrânia, mosteiros e casas de religiosas têm sido

transformados em lugares de abrigo para os refugiados de guerra. Mesmo

mosteiros contemplativos. As irmãs abrem as portas das suas casas partilhando o

que têm com quem chega, tantas vezes de mãos vazias e em lágrimas… Acolher

quem precisa é também um sinal de Deus no meio do inferno da guerra.

São várias as comunidades religiosas femininas que abriram as portas dos seus mosteiros aos

refugiados de guerra na Ucrânia. É o caso das Beneditinas de Slonka. Estas religiosas

contemplativas privaram-se do silêncio e da solidão do mosteiro para acolherem pessoas que

fugiram por causa da violência dos combates, dos bombardeamentos. Desde que começou a

invasão das tropas russas, a 24 de Fevereiro, já dezenas de famílias passaram pelos claustros

destas irmãs na região de Lviv. “É assim que vemos a nossa missão agora”, diz a Irmã Klara.

Com a guerra tudo mudou. A calma e o silêncio do mosteiro foram substituídos pela agitação

própria de um ajuntamento de pessoas. Como a Irmã Klara explicou a Maria Lozano, da

Fundação AIS, a vida no mosteiro passou a ter outras rotinas, outras prioridades. As irmãs

procuram envolver toda a gente nas tarefas diárias, seja a limpeza do mosteiro ou a confecção

das refeições. Nada foi deixado ao acaso. Também na Arquidiocese de Lviv, as Irmãs de São

José abriram as portas para acolher os que por ali têm passado, fugindo dos horrores da guerra.

“Há pessoas a dormir em todos os cantos do mosteiro. Estão todos muito gratos pela

oportunidade de se poderem lavar, de terem comida quente e de conseguirem descansar um

pouco”, explica a Irmã Tobiasza. “Algumas destas pessoas passaram vários dias em caves ou em

abrigos antiaéreos”, acrescenta a religiosa.

O caos depois dos mísseis

Outra casa das Irmãs de São José, mas na cidade de Stryi, também abriu as suas portas neste

grande abraço de entreajuda da Igreja aos que fogem da guerra. “As irmãs prepararam um

quarto para acolher uma família de duas crianças e uma avó. Com a ajuda de benfeitores,

conseguiram comprar uma máquina de lavar roupa, um frigorífico, camas, e assim por diante.

Todos os bens básicos para se poder viver. Um dos rapazes está doente e precisa de cuidados e

comida especial”, explica a Irmã Tobiaszca. Todos os que batem à porta das irmãs trazem

consigo histórias pesadas, difíceis, memórias que perdurarão provavelmente para sempre. É o

caso de Roman e de Anna que, com os dois filhos, um rapaz de 7 anos e um bebé de apenas 1

mês de idade, se fizeram ao caminho chegando a Lviv, ao mosteiro das Beneditinas de Slonka.

Vieram de Kharkiv. Ainda aguentaram 10 dias até que a situação se tornou intolerável e

demasiado perigosa, especialmente para as crianças. Pouco antes de partirem, caiu um míssil

no prédio onde viviam. Foi o caos. A casa estava destruída. Apanharam um comboio para Lviv.

Chegaram a uma cidade em ebulição. Na primeira noite, Anna e as crianças conseguiram dormir

no chão, numa casa de abrigo para mães e filhos, mas a situação era insustentável. Foi então

que uma irmã, que por acaso passava por ali, lhes indicou o mosteiro das Beneditinas de

Solonka. “Recordaremos sempre esse momento, e estaremos gratos pelo resto das nossas

vidas”, diz Anna, explicando que, para si, o encontro casual com a irmã “foi a Providência

Divina, foi um sinal de Deus…”. A Fundação AIS apoia directamente a subsistência de 144 irmãs

em Lviv. Todas elas são um sinal de Deus num país em guerra.

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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