A Milícia de Santa Maria, fundada por D. Gérard Lafond, OSB, é como uma oficina para forjar espadas cavaleirescas. Um ferreiro, antes de adentrar a espada na forja, procura por metais e materiais necessários para compor sua espada. Sabemos que, nessa escolha, não há somente um tipo de material ou somente um tipo de metal, pois há diversos, de acordo com a sua finalidade. No entanto, é fundamental que quem os escolhe tenha a precisão de selecionar metais adequados ao ambiente da forja. Essa fase de escolha do bom metal é a fase do aspirantado, em que se analisam alguns fatores daqueles que desejam entrar para viver em fraternidade nas fileiras da Milícia, como a resistência, a dureza e a flexibilidade dos candidatos.
Depois de cuidadosamente escolhidos pelos ferreiros, os metais e demais materiais adentram o ambiente da forja para serem limpos e preparados. São propostos os projetos de espadas a que irão se configurar. Lembro aqui que essa preparação é a vivência da obediência à Regra da Ordem, que nos limpa, nos lima, tira-nos a ferrugem e nos torna livres para seguir bem o caminho de nossa vocação ao serviço de Nossa Senhora e da Santa Igreja de Cristo. É importante dizer que não se vai para a forja se o metal, cada qual com suas diferentes qualidades, não se deixar ser preparado para a próxima etapa, porque nela haverá de suportar o desafio do fogo, do pesado martelo e do inesperado esfriamento do metal, para que sejam mostradas suas perfeições e defeitos, a fim de serem corrigidas as suas imperfeições antes de seguir adiante. Ora, quem não se prepara para a forja não há de suportá-la. O período de preparação para a forja é o noviciado, no qual determinamos a nossa vocação para sermos uma espada verdadeiramente cavaleiresca, conforme o espírito da Regra.
Agora estamos iniciando o período da forja... Após professarmos os votos na Ordem, inicia-se um período de profundas transformações, de firmar as convicções mais salutares. Esse é o período em que nos permitimos ser moldados, às vezes ainda como um metal frio que aprendeu a suportar os cortes e as batidas do martelo. Precisamos estar preparados para o fogo, para a forja! A forja pode ser vista como um período, conforme escreveu São Pedro Apóstolo, em que nossa fé é provada no fogo (cf. 1Pe 1, 7), devido ao grande valor que ela tem para Deus, para nós e para a Santa Igreja. Precisamos permitir que nossos corações sejam inflamados para que dele se tirem as impurezas, os acúmulos do que nos são desnecessários, e deixarmos ser retomados pela graça edificante do Espírito Santo, que nos ensina, nos ilumina e nos transforma. Tal prova de fogo há de apagar em nós os resquícios de vaidade, de pretensão, de soberba e, principalmente, do orgulho humano. É hora de pensar que a perfeição evangélica é possível, se nos destinarmos, com a alegria de um irrefutável privilégio, a permitir que Nossa Senhora nos conduza à perfeição e, assim, nos apresente como seus filhos e amigos de seu Filho, Jesus Cristo. A nossa consagração recorda-nos isso diariamente. Esse período determinará se seremos verdadeiras espadas cavaleirescas, conforme o reto sentido da Regra de Lafond, ou se seremos meras espadas ornamentais para enfeite. Esforcemo-nos para que o período do escudeirato seja um tempo em que sejamos colocados à prova, enfrentando os desafios, mas sempre entendo que a nossa fortaleza é a Graça, porque o artista que se põe a nos polir é o próprio Espírito Santo.
Por fim, somos uma espada cavaleiresca, firme, forte, às vezes flexível, mas inquebrável e cortante, que se permite ser, nas mãos do Senhor, instrumento de sua justiça e misericórdia no mundo. Estejamos prontos para sermos a espada levantada nas lutas, a retomarmos nossas posições quando formos a espada perdida, e que quando formos a lâmina afiada que fere nas duras batalhas do nosso tempo, que saibamos ser também o instrumento de cura. Meditemos dia e noite sobre nossas condições de cavaleiros. A nossa condição é a de quem está no meio da guerra, que será ferido e terá medos, mas tudo isso fará com que coloquemos a nossa confiança mais em Deus do que em nós mesmos. Sejamos fortes, estejamos preparados para avançar na batalha, sãos ou feridos, mas que ao mundo seja proclamada a vitória de Jesus Cristo, Nosso Senhor. Ele venceu o mundo!
Eu, João, o menor dos cavaleiros de Santa Maria.
Revisado por: Josimar Rodigues