A Normalização do Macabro em Brinquedos Infantis: O Caso Labubu e Pazuzu
Nos últimos anos, temos assistido a uma tendência preocupante no mundo dos brinquedos infantis: a crescente normalização de elementos macabros, grotescos e até ocultistas, muitas vezes disfarçados sob o rótulo da "arte pop" ou da "estética alternativa". Entre os casos mais emblemáticos está o boneco Labubu, uma figura popular entre colecionadores, que levanta sérias questões quanto ao simbolismo que transmite — sobretudo ao ser comparado à conhecida estátua de Pazuzu, o demónio associado ao filme O Exorcista.
Labubu e a Estética Grotesca
Criado pela artista Kasing Lung, Labubu é um boneco de vinil com olhos grandes e negros, dentes salientes, sorriso sinistro e um corpo estranho, entre o bicho-papão e o diabrete. Apesar da aparência excêntrica, a personagem é muitas vezes vendida como "fofa", "peculiar" ou "diferente", numa tentativa de suavizar as suas características evidentemente inquietantes.
O problema não está apenas na sua forma, mas na forma como as crianças e pais são levados a aceitá-la como inofensiva. Esta aceitação despreocupada abre caminho à banalização do grotesco, tornando o que antes era assustador, ou claramente malicioso, em algo supostamente divertido ou até adorável.
Pazuzu: De Demónio Antigo a Ícone do Terror
A comparação entre Labubu e Pazuzu não é descabida. Pazuzu é uma antiga figura demoníaca da mitologia mesopotâmica, representado com corpo de homem, cabeça de leão ou cão, garras, cauda de escorpião e asas. Embora na antiguidade fosse usado para afastar outros demónios, tornou-se mundialmente conhecido como o espírito que possui a jovem Regan no filme O Exorcista (1973). A sua estátua — conhecida como The Exorcist Pazuzu Statue — é icónica pelo seu aspeto ameaçador e pela aura de profanação que carrega.
Quando se coloca uma imagem do Labubu ao lado da estátua de Pazuzu, as semelhanças são impressionantes. Não se trata apenas de estética: trata-se da transmissão de uma mesma energia inquietante, que o olhar mais atento reconhece imediatamente como perturbadora.
Uma Cultura que Desarma o Instinto
A banalização do macabro em brinquedos e cultura visual infantil desarma o instinto natural da criança (e dos pais) de rejeitar o que é disforme ou malévolo. A linha entre o inofensivo e o perigoso torna-se turva. Com isso, cria-se um espaço cultural onde o estranho, o feio, o ameaçador — mesmo que subtil — deixa de causar repulsa e passa a ser acolhido como "expressão artística" ou "criatividade alternativa".
Não se trata de histeria moral, mas de bom senso e discernimento espiritual. A infância é o tempo da beleza, da luz, do verdadeiro encanto. Não há lugar, neste tempo precioso, para símbolos que remetem à morte, ao medo ou ao oculto. A introdução desses elementos, ainda que revestidos de plástico colorido e marketing moderno, não é inocente.
Chamar a atenção para estes fenómenos não é exagero nem teoria da conspiração. É simplesmente recusar o adormecimento das consciências. Quando se vende o grotesco como brinquedo, o que está verdadeiramente a ser comercializado é a normalização do obscuro — e com isso, abre-se a porta a realidades que não pertencem ao universo da infância.
Como pais, educadores e adultos responsáveis, é legítimo — e necessário — perguntar: Que tipo de imaginação estamos a alimentar nas crianças? E que tipo de mundo estamos a construir ao aceitar, sem crítica, que demónios antigos e figuras disformes sejam apresentados como adoráveis?