Theotokos - Academia Mariana | Militia Sanctae Mariae Portugal
Curta reflexão XIII | Autoria de Carlos Aguiar Gomes
As estampas de cariz religioso que fizeram parte do quotidiano devocional dos católicos — também chamadas “santinhos” — até há poucas décadas, assinalavam acontecimentos diversos e de vária índole: baptizados, primeiras comunhões, crismas, comunhões pascais, divulgação de determinadas (in)vocações, etc.
A sua presença, normalmente sob a forma de ofertas, era muito apreciada, e muitos católicos guardavam-nas no seu Missal ou nalgum devocionário.
Recordo, com saudade, a visita pascal à casa dos meus pais, marcada por vários episódios que se repetiam todos os anos e em que, entre outros, havia a oferta de estampas pelo senhor Abade. Pessoalmente, ainda guardo no meu Missal dominical (vetus ordo) algumas destas estampas e revejo-as de vez em quando.
Estes sacramentais (?), eram sinais de um cristianismo imersivo, como se diz hoje, e que está completamente apagado — como outros sinais da fé de um povo outrora cristão, tal como o toque dos sinos que ritmavam o quotidiano do povo.
Havia estampas para todos os gostos e devoções. As dedicadas a Maria eram imensas, e não havia peregrino de um santuário qualquer que não trouxesse várias estampas para oferecer e rezar por elas. A devoção amorosa a Nossa Senhora era imensa — como imensa era a variedade de estampas que Lhe eram dedicadas.
(As nossas mulheres tinham todas como primeiro ou segundo nome próprio o nome de Maria! E havia Marias com todas as conjugações para o segundo ou primeiro nome próprio.)
Uma análise e estudo comparativo destas estampas poderá permitir aos estudiosos conhecer melhor o quanto este povo mariano — o povo português — é (ou era) devoto amantíssimo da Santíssima Virgem Maria, e como esta devoção foi evoluindo ao longo dos tempos.
Uma rápida observação destes “santinhos” permite-nos concluir que as invocações marianas são incontáveis, desde as mais eruditas às mais populares. É impressionante ver os qualificativos que se apõem ao nome sacratíssimo da Theotokos:
Nossa Senhora do Ó, da Cabeça, das Dores, da Aparecida, de Lurdes, da Boa Morte, do Carmo, da Rosa, da Alegria, do Minho, do Leite, dos Cavaleiros, da Burrinha, da Vida, da Esperança, da Boa Viagem, do Bom Sucesso, do Bom Conselho, de Fátima, do Viso, do Sameiro, de Vila Viçosa, da Oliveira, do Castelo, da Abadia, do Pisco, da Graça, das Graças, etc, etc!
Há estampas marianas lindíssimas e muito artísticas, como é o caso da que abre esta Curta Reflexão Mariana — trazida, pode deduzir-se, por quem peregrinou à Rue du Bac, em Paris, e a guardou ou deu a alguém e que, sinais dos tempos, acabou numa feira de velharias!
As estampas foram um meio de evangelização num determinado tempo e cultura. Seriam úteis, hoje, como um dos pluriformes meios de apostolado (palavra proscrita há décadas!)?
Sub tuum praesidium…
Carlos Aguiar Gomes