sábado, 5 de julho de 2025

 Theotokos - Academia Mariana | Militia Sanctae Mariae Portugal

Curta reflexão XIII | Autoria de Carlos Aguiar Gomes

As estampas de cariz religioso que fizeram parte do quotidiano devocional dos católicos — também chamadas “santinhos” — até há poucas décadas, assinalavam acontecimentos diversos e de vária índole: baptizados, primeiras comunhões, crismas, comunhões pascais, divulgação de determinadas (in)vocações, etc.
A sua presença, normalmente sob a forma de ofertas, era muito apreciada, e muitos católicos guardavam-nas no seu Missal ou nalgum devocionário.
Recordo, com saudade, a visita pascal à casa dos meus pais, marcada por vários episódios que se repetiam todos os anos e em que, entre outros, havia a oferta de estampas pelo senhor Abade. Pessoalmente, ainda guardo no meu Missal dominical (vetus ordo) algumas destas estampas e revejo-as de vez em quando.
Estes sacramentais (?), eram sinais de um cristianismo imersivo, como se diz hoje, e que está completamente apagado — como outros sinais da fé de um povo outrora cristão, tal como o toque dos sinos que ritmavam o quotidiano do povo.
Havia estampas para todos os gostos e devoções. As dedicadas a Maria eram imensas, e não havia peregrino de um santuário qualquer que não trouxesse várias estampas para oferecer e rezar por elas. A devoção amorosa a Nossa Senhora era imensa — como imensa era a variedade de estampas que Lhe eram dedicadas.
(As nossas mulheres tinham todas como primeiro ou segundo nome próprio o nome de Maria! E havia Marias com todas as conjugações para o segundo ou primeiro nome próprio.)
Uma análise e estudo comparativo destas estampas poderá permitir aos estudiosos conhecer melhor o quanto este povo mariano — o povo português — é (ou era) devoto amantíssimo da Santíssima Virgem Maria, e como esta devoção foi evoluindo ao longo dos tempos.
Uma rápida observação destes “santinhos” permite-nos concluir que as invocações marianas são incontáveis, desde as mais eruditas às mais populares. É impressionante ver os qualificativos que se apõem ao nome sacratíssimo da Theotokos:
Nossa Senhora do Ó, da Cabeça, das Dores, da Aparecida, de Lurdes, da Boa Morte, do Carmo, da Rosa, da Alegria, do Minho, do Leite, dos Cavaleiros, da Burrinha, da Vida, da Esperança, da Boa Viagem, do Bom Sucesso, do Bom Conselho, de Fátima, do Viso, do Sameiro, de Vila Viçosa, da Oliveira, do Castelo, da Abadia, do Pisco, da Graça, das Graças, etc, etc!
Há estampas marianas lindíssimas e muito artísticas, como é o caso da que abre esta Curta Reflexão Mariana — trazida, pode deduzir-se, por quem peregrinou à Rue du Bac, em Paris, e a guardou ou deu a alguém e que, sinais dos tempos, acabou numa feira de velharias!
As estampas foram um meio de evangelização num determinado tempo e cultura. Seriam úteis, hoje, como um dos pluriformes meios de apostolado (palavra proscrita há décadas!)?
Sub tuum praesidium…
Carlos Aguiar Gomes

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Curta reflexão XII | Autoria de Carlos Aguiar Gomes





Ainda não há muitos anos, a vida das nossas aldeias e vilas era pautada por sinais, sons e outras manifestações públicas da sua Fé. Era assim que se anunciavam batismos, funerais de adultos ou crianças — os chamados "anjinhos" (com toques diferentes), casamentos, missas, incêndios, e outras sonoridades de júbilo, tristeza ou preocupação comunitária que alertavam a população para que se unisse, pela presença ou pela oração.

O dia-a-dia era marcado por ritmos simples, mas profundos. Um dos sinais da religiosidade popular (e não só) era a oração das Ave-Marias, que, três vezes ao dia, chamava a comunidade a rezar, recordando o grande mistério da Encarnação — oração marcadamente trinitária e mariana.

Vários Papas, nomeadamente Paulo VI e São João Paulo II Magno, chamaram a atenção para esta prática e convidaram os crentes a não perderem esta devoção simples — e dos simples.

O Fundador da Militia Sanctae Mariae – Cavaleiros de Nossa Senhora, deixou também registado na Regra que compôs para esta nossa Comunidade, a propósito do Angelus ou Ave-Marias, como é conhecido em Portugal, este apelo:

“Quanto ao Angelus, pertence incontestavelmente à Tradição cavaleiresca. Esta graciosa saudação é particularmente recomendada aos cavaleiros de Nossa Senhora.”
(Regra, cap. XIII, 3)

Aqui deixo registada esta oração na sua versão portuguesa e, igualmente, em latim:

ANGELUS / Trindades / “Ave-Marias”
Em Português:

V. O Anjo do Senhor anunciou a Maria.
R. E Ela concebeu do Espírito Santo.
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco.
Bendita sois vós entre as mulheres,
e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.
Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores,
agora e na hora da nossa morte. Ámen.

V. Eis aqui a escrava do Senhor.
R. Faça-se em mim segundo a vossa palavra.
Ave Maria…

V. E o Verbo Divino encarnou.
R. E habitou entre nós.
Ave Maria…

V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

V. Oremos:

Derramai, ó Deus, a vossa graça em nossos corações,
para que, conhecendo pela mensagem do Anjo
a Encarnação do vosso Filho,
cheguemos, pela Sua Paixão e Cruz,
à glória da Ressurreição.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

R. Ámen.

V. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
R. Assim como era no princípio, agora e sempre,
por todos os séculos dos séculos. Ámen.
(Diz-se três vezes, em honra da Santíssima Trindade)

Em Latim:

V. Angelus Domini nuntiavit Mariæ.
R. Et concepit de Spiritu Sancto.
Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum.
Benedicta tu in mulieribus,
et benedictus fructus ventris tui, Iesus.
Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus,
nunc et in hora mortis nostræ. Amen.

V. Ecce Ancilla Domini.
R. Fiat mihi secundum Verbum tuum.
Ave Maria…

V. Et Verbum caro factum est.
R. Et habitavit in nobis.
Ave Maria…

V. Ora pro nobis, Sancta Dei Genetrix.
R. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.

Oremus:

Gratiam tuam, quæsumus, Domine,
mentibus nostris infunde;
ut qui, Angelo nuntiante,
Christi Filii tui Incarnationem cognovimus,
per passionem eius et crucem,
ad resurrectionis gloriam perducamur.
Per eumdem Christum Dominum nostrum. Amen.

V. Gloria Patri, et Filio, et Spiritui Sancto.
R. Sicut erat in principio, et nunc et semper,
et in sæcula sæculorum. Amen.
(Diz-se três vezes, em honra da Santíssima Trindade)

Nota: No Tempo Pascal, substitui-se o Angelus pela oração da Regina Cæli.

E era esta extraordinária oração — simples e profunda — que se rezava três vezes ao dia: de manhã, ao meio-dia e ao entardecer. Parava-se o trabalho, os homens tiravam o chapéu, curvávamo-nos ligeiramente quando o sino tocava às "Trindades", às Ave-Marias (veja-se esse extraordinário óleo de Millet que o Museu do Louvre guarda e que apresento no cimo desta curta reflexão).

Era mais um sinal de uma sociedade que, ainda que muito imperfeita, vivia a sua Fé — também com este gesto que ajudava a interiorizar a própria Fé, ao recordar-nos o grande mistério da nossa salvação: o mistério da Encarnação.

Os sinos deixaram de tocar para marcar o ritmo da nossa vida. E a Fé acompanhou esse triste silêncio.

Carlos Aguiar Gomes

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Curta reflexão XI | Autoria de Carlos Aguiar Gomes






« Indiscutablement, Henri Charlier mérite de prendre place dans la
lignée des Rodin, des Maillot et des Despiau… ». Paul Claudel
Tive o grande privilégio de em 1969 ter visto, com grande prazer visual e espiritual, uma exposição de esculturas de Henri Charlier, em Lausane, na Suiça.
Fiquei deslumbrado. Maravilhado. E pensei e penso como a Arte contemporânea, que não seja assim chamado aquilo que é simples descontrução daquela, a disformidade e desarmonia ou vulgaridade, nos faz mergulhar no mundo artístico
de sempre.
Henri Charlier é um escultor francês do século XX (1883-1975) que se notabilizou pelas suas magníficas obras de Arte que, além do escultor, incluiu igualmente soberbas pinturas (não foi por acaso que foi o escolhido por Rodin para executar uma encomenda do Governo Francês) e que o poeta Claudel o comparou a este
grande escultor gaulês que foi Rodin Charlier (Henri), um convertido ao catolicismo soube, como poucos, interpretar o
sentido espiritual da escultura.A sua obra era uma verdadeira diaconia do Belo como só homens de uma grande fé o sabem fazer.
Na imagem que encima esta Curta Reflexão, uma escultura de Charlier,pode inferir-se o quão elevado era o seu sentimento religioso. Paul Claudel, outro convertido, escreveu que “ Henri Charlier é um grande escultor de imagens,umn desses artistas que seguem o coração de Deus (…)”. Nesta escultura, Nossa Senhora, está representada com Jesus Menino ao colo e o nosso olhar converge para Este, apesar de ser de pequenas dimensões, e não para a representação de Maria, a “ Theotokos”, a Santa Dei Genitrix, a Santa Mãe de Deus. O olhar da Virgem Maria, aliás bem significativo da Sua vida, convida-nos a olhar para Aquele que é a figura central da escultura, o nosso Salvador e como que passa
despercebida a Sua figura de traços depurados para não nos afastar da essência:
Jesus.
Charlier nesta obra, esculpe no mármore um verdadeiro tratado
mariológico.Parafraseando Claudel, Charlier deixou-se guiar por Deus na busca e no serviço do Belo!
O convite de Maria foi, é e será sempre o de nos indicar, apontar, o caminho para Aquele que disse: “ Eu sou o caminho, a verdade e a vida”.
“ A Maria por Jesus” como nos ensinou e ensina S. Luís Maria de Montfort, poderia ser a legenda desta escultura magnífica.
Sub tuum praesidium…
Carlos Aguiar Gomes, na memória de Maria, Mãe da Igreja de 2025

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